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Art Zoyd – “Marathonnerre I & II”

pop rock >> quarta-feira >> 12.01.1994


Art Zoyd
Marathonnerre I & II
Atonal, import. Contraverso


Poucos grupos além dos Art Zoyd se poderão orgulhar de possuir uma discografia em que não se vislumbra qualquer ponto fraco. Com efeito, esta banda francesa ocupa hoje uma posição privilegiada na música deste século, naquele lugar onde se cruzam todas as épocas e as etiquetas “popular” e “erudita” deixam de fazer sentido. “Marathonnerre” é a nova obra de fôlego dos Art Zoyd, actualmente um trio formado por Thierry Zaboitzeff, Gérard Hourbette e Patricia Dallio, editada em dois compactos separados, composta para um espectáculo “multimédia” do mesmo nome, com 12 horas de duração, apresentado ininterruptamente entre o meio-dia e a meia-noite, segundo coreografia e realização de Serge Noyelle. À semelhança dos anteriores “Berlin” (uma das obras-chave, senão a maior, da música alternativa dos anos 80) e “Nosferatu”, sobre a obra do expressionista alemão Murnau, “Marathonnerre” é uma obra desmesurada com a dimensão mítica de Wagner, a alma presa à memória dos Magma e a disciplina férrea própria dos Laibach. A electrónica e a manipulação dos “samplers” ganham aqui importância crescente, com algumas sequências a recordarem as sínteses electro-étnicas da dupla Musci-Venosta. A música evolui por ciclos amplos, em alternância de tensões e clímaxes instrumentais. Música de câmara do século XXI por uma dupla francesa, Thierry Zaboitzeff e Gérard Hourbette, que é a digna sucessora da parelha, igualmente gaulesa, formada nos anos 70 por Christian Vander e Jannick Top, o núcleo de fogo dos Magma. Fundamental. (9)

Art Zoyd – “Häxan” + Thierry Zaboїtzeff – “Heartbeat”

Art Zoyd – Häxan + Thierry Zaboїtzeff – Heartbeat
Sons

19 de Setembro 1997

ARTe SinuZOYDal

Art Zoyd
Häxan (9)
Reprise, distri. Warner Music
Thierry Zaboїtzeff
Heartbeat (8)
Atonal, import. Symbiose


az

tz

Saúde-se o regresso, sobretudo porque se trata de um regresso à boa forma, desta banda francesa à qual se deve um dos marcos da música contemporânea deste século, a obra-prima “Berlin”. Se este álbum confirmou os Art Zoyd como um ícone da abolição entre “erudito” e “popular”, dialéctica que o quarteto suportou através de uma linguagem única e inovadora, foi a partir dele, porém, que o grupo se cristalizou no seu próprio auto-encantamento, assinando obras posteriores que nada acrescentaram à excelência daquele álbum, a saber, os dois volumes de “Marathonerre” e, sobretudo, o posterior “Faust”. É verdade que qualquer destes trabalhos, compostos respectivamente para um espectáculo multimédia e para o clássico de Murnau, confirmaram um relacionamento privilegiado e de cumplicidade crescente na área da interdisciplinaridade (antes, já “Marriage du Ciel et de l’ Enfer” fora feito para uma coreografia de Roland Petit), facto a que não será alheia a ginástica de maior contenção demonstrada neste tipo de trabalhos.
Mas “Häxan” também foi composto por encomenda. O excerto de 30 minutos de “Glissements progressifs du plaisir” (dividido em partes com alusões a “Ubik” pelo autor de FC, Philip K. Dick) pertence a “Häxan”, um filme de B. Christenssen, e os 17 de “Épreuves d’ acier” ilustraram musicalmente uma exposição de fotografia de Philippe Schlienger. Todavia, há aqui algo mais. Uma força acrescida e uma convicção renovada no reordenamento das coordenadas musicais do grupo, que em “Faust” correspondiam a um momento de certa lassidão. É claro, os Art Zoyd permanecem desmesurados como nunca, confirmando o seu estatuto de equivalente pós-moderno e electrónico dos Magma. Daniel Denis, Patricia Dallio, Gérard Hourbette e Thierry Zaboїtzeff são, cada vez mais, demiurgos dos “samplers”, que usam como deuses românticos. “Häxan”, uma história de demónios e tentações, rituais pagãos e tecnologia, recusa orgulhosamente as regras da canção e o imediatismo e narcisismo da pop. Estes cânticos, estas batidas de monstruosa densidade, esta ascese espiritual que desdenha superiormente do abismo, ensinam-nos, como Nietzsche, a superar os limites. Mesmo que a moeda de troca seja a loucura.
Thierry Zaboїtzeff, teclados, samplers, percussões, baixo e violoncelo, estende ainda mais o leque da instrumentação, incluindo sopros (samplados?) neste seu novo trabalho a solo, que sucede às aventuras electro-acústicas realizadas sob o pseudónimo Dr. Zab. “Heartbeat”, subintitulado “Concerto for Dance & Music, op. 1”, cruza-se com os territórios da música, “Zeuhl” (é favor consultar a cartilha de kobaїano de Christian Vander…) diverte-se a manipular a “world” das urbes esquizofrénicas e faz o relato de uma nova idade pluralista onde os códigos musicais se misturam e mutuamente se polinizam. O batimento de um coração múltiplo.



Art Zoyd – “Faust”

Pop Rock

3 de Julho de 1996
poprock

Art Zoyd
Faust
EARATIONAL, DISTRI. ANANANA


az

Este “Faust” é a componente musical do espectáculo realizado o ano passado no auditório da Culturgest, onde os Art Zoyd acompanharam ao vivo a projecto do “Fausto” de Murnau. Na altura, a música deste agrupamento francês soou bem e fez sentido, acrescentando novas sombras e novas luzes ao jogo contrastado de emoções do cineasta mestre do expressionismo alemão. Fora de contexto, porém, este objecto musical perde grande parte da sua coerência, oferecendo uma sequência de paisagens/episódios ambientais onde falta precisamente aquilo que sobra no seu complemento cinematográfico: a força expressiva e dramática, elementos até aqui omnipresentes na obra dos Art Zoyd, que marcaram obras como “Le Marriage du Ciel et de l’Enfer”, o monumental “Berlin” e até, embora com menor intensidade, o duplo “Marathonnerre”. “Faust” é assim o primeiro, e até à data, único elo fraco numa cadeia de poder. (6)