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Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #62 – “Hector zazou + Sandy dillon (thePreacher)”

#62 – “Hector zazou + Sandy dillon (thePreacher)”

Fernando Magalhães
18.01.2002 180650
A música do Hector Zazou está ao seu melhor nível, numa linha algo industrial pouco habitual nas suas gravações mais recentes.
Quanto à voz da Sandy Dillon, soa demasiado punk e gritada para meu gosto. Mas é apenas a minha opinião.

Voltando ao Zazou, considero o “Les Chansons…” um dos seus álbuns mais fracos.

Recomendo vivamente os seguintes: “Noir et Blanc” (nunca a música de computadores soou tão funky…), “Reivax au Bongo” (o classicismo angelical de um lado + o humor afro telenovelístico, do outro!), “Géographies” e “Géologies” (neo-classicismo surreal).

E que tal procurar o “Satieano” e absolutamente original “Barricades”, ainda com o grupo ZNR (Zazou + Joseph Racaille)?

FM

Fernando Magalhães
18.01.2002 190703

Já agora, uma retificação :). O “Les Chansons…” até nem é um dos álbuns mais fracos do HZ, como escrevi há pouco. Confundi-o com um que ele gravou a seguir, já muito voltado para a eletrónica de dança.
Digamos que coincide com o período de transição da época áurea para o período dos $$$$$$$.

FM

Relativity – “Gathering Pace”

PÚBLICO SEXTA-FEIRA, 26 OUTUBRO 1990 >> Fim De Semana >> outras músicas


RELATIVITY
GATHERING PACE
LP E CD, GREEN LINNET, 47’ 33’’
DISTRIBUIÇÃO: VGM



No final dos anos 70 os Bothy Band, ao lado dos Planxty, lideravam a segunda grande explosão do revivalismo folk britânico. A Irlanda voltava a invadir o mundo. Eram os violinos e gaitas-de-foles a fazer valer os seus direitos. A Europa, de novo, se deixava enlevar e encantar pela música de um dos seus berços mais queridos. Magia druídica escondida no coração da cidade.
Mais de uma década depois, os Relativity ressuscitam o espírito de cruzada, partindo à conquista do século. Os quatro guerreiros são os dois ex-Bothy Band, Mícheál Ó Dohmnaill (guitarra e voz) e Tríona Ní Dhomhnaill (voz, clavinete e sintetizadores) mais os irmãos Cunningham, Phil (acordeão, “tin whistle”, sintetizadores e voz) e John (violino e voz), membros regulares do Silly Wizard, outro dos expoentes da folk atual. Três fabulosos instrumentistas e uma daz vozes femininas mais originais e marcantes da grande família celta, juntos num disco que sabe aliar a tradição a sonoridades mais contemporâneas – os gnomos, duendes e fadas do século XX divertem-se a brincar com a eletricidade. Em “Rosc Catha na Mumhan”, a guitarra elétrica de Mícheál Ó Dohmnaill solta chispas, mas a voz de Tríona repõe as coisas no seu lugar, num universo diferente, paralelo e mais profundo do que o dos grandes incêndios e agressões da cidade. Quem consegue permanecer quieto, sem desatar a dançar, ao som dos “medleys” dirigidos pelo violino e acordeão dos manos Cunningham? Confundem-se os mundos – tudo é relativo, como afirmava Einstein – a locomotiva da capa vem do Passado, a luz do seu farol ilumina o Futuro e ilumina-nos com o fogo do Espírito.
Os títulos evocam um tempo em que a dança unia os corpos, libertos de fantasmas, à terra, e a cabeça ao céu – ritual em que Apolo e Dyonisius davam as mãos e em que a terra, homens e Deus formavam uma só entidade, unida na comunhão dos sons e no prazer do movimento, celebrando as memórias ancestrais: “Highland Laddies”, “Blackwell Court”, “The Monday Morning Reel” – nomes, lugares e tempos concretos, assinalando o ponto onde a Eternidade toca e solta os pés e o coração da humanidade. Canções dedicadas a amigos ausentes na peregrinação das longas estradas (“Miss Tara MacAdam”), canções comemorando casamentos sobre a relva (“Highland Laddies”), canções de viagem (“First Train to Kyle”), escritas de madrugada, a caminho de terras de nomes tão belos como Lochalsh, na “viagem de duas horas, em comboio, mais maravilhosa do mundo”.
Tríona canta em gaélico, língua antiga que sela o pacto entre as gerações, como em “Rosc Catha”, escrita no séc. XVII pelo poeta Piaras MacGearailt. Se, por um lado, se perde o significado das palavras (apesar das traduções inglesas incluídas no folheto interior), por outro, o seu som encantatório é suficiente para nos fazer compreender que o Tempo, como quase tudo neste mundo, é ilusório e que só a música (sem corpo para morrer) permanece, depois da matéria às cinzas regressar. São baladas imemoriais povoadas por todas as memórias que importam, histórias simples contadas pelos velhos aos mais novos, levadas pelo vento e pelo carrocel das estações, repetindo aquilo que não muda mas que persistimos em esquecer.
“Siún Ní Dhuibir” casa as vozes, masculina e feminina, dos dois Dhomnaill, balilando etéreas entre as aves e as nuvens criadas pelo “tin whistle” de Phil Cunningham. Transporta-nos a brisa até à Irlanda imaginada – verde, sempre húmida, construída em lendas e castelos. Depois e sempre de novo a dança: “Reels” à desfilada, súbitas mudanças de ritmo, constantes permutas instrumentais, a pura alegria de tocar como se fosse a única coisa verdadeiramente importante que ao homem cabe cumprir. E no fim, como no princípio, a cadência e as sofridas palavras do amor: “os meus olhos não se fecharam, não consegui dormir/enquanto esperava que o meu amor chegasse, desde a noite anterior/Seria capaz de arrastar-me de joelhos pelo mundo fora até te encontrar/já não faltará muito, se me abandonares, e até que o meu corpo seja enterrado na terra”. Neste caso, deveria ser sempre assim. Nem tudo é relativo.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #61 – “Uma pequena reflexão crítica”

#61 – “Uma pequena reflexão crítica”

Fernando Magalhães
09.01.2002 160422

quote:
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Publicado originalmente por Vítor Gorjão

Só uma, (não resisto): Area – (italianos), alguém ouviu!?

VG
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Claro! Foram uma das melhores bandas italianas dos anos 70. Álbuns como “Arbeit Macht Frei”, o ultra-free-experimental “Caution Radiation Area”, “Crac” ou “Maledetti Maudits” permanecem perfeitamente actuais!
Para quem estiver interessado em saber, imagine-se os Area como uns EMBRYO imbuídos de carga de alta-tensão e em que os músicos põem o seu indisfarçável virtuosismo ao serviço de uma música em que os termos rock, jazz, pop e anarquia se fundem num todo abrasivo.

Ah, sim, e vi os Area ao vivo, em Portugal. Em três concertos (Festa do Avante! – inesquecível, Pavilhão dos Desportos (hoje Pav. Carlos Lopes) e FIL.

O vocalista, Demetrio Stratos (já falecido) costumava interromper um solo instrumental delirante para comer calmamente uma maçã (!!!), diante do microfone.

FM