pop rock >> quarta-feira >> 13.07.1994
Legendary Pink Dots
9 Lives To Wonder
Play It Again Sam, distri. Megamúsica

É impressionante a quantidade de álbuns que esta banda inglesa radicada na Holanda tem gravado sem nunca ter dado um passo em falso. Mais impressionante ainda é a capacidade de constantemente se ultrapassarem a si próprios e não se deixarem acomodar ao conforto de um estilo que vêm apurando ao longo dos anos, em álbuns magníficos como “Asylum”, “Any Day now”, “The Crushed Velvet Apocalypse” ou os dois volumes de “Shadow Weaver”. Edward Ka’ Spel, o profeta, continua, como sempre, a atrair sobre si as atenções. Ele é hoje o legítimo sucessor de Syd Barrett , não vamos dizer irmão, mas primo espiritual de Peter Hammill. O mesmo significa que continuamos no domínio de um novo psicadelismo, de vertente messiânica de sinal invertido, onde os LPD mostram saber mover-se com o à vontade de serpentes. As vocalizações de Ka’ Spel tornaram-se mais sinuosas e suaves do que nunca, perigosas na maneira como instilam um universo obscuro e feroz, disfarçado pela luz mortiça de néons intermitentes e histórias vagamente inspiradas no surrealismo, versão cidades do crepúsculo, de Chirico e Delvaux. Há toda uma rede intricada de sedução sonora que os LPD tecem como aranhas malsã: saxofones atulhados de drunfos, sintetizadores constantemente me busca de novidades, uma atmosfera densa e húmida, povoada por pirilampos mecânicos e almas em pecado tombando nos abismos do Hades. Doentia, perigosamente bela, a obra dos Legendary Pink Dots vai-se desenrolando num “cadavre exquis” de mensagens e avisos ambíguos. A velha frase legenda dos últimos discos lá está, enigmática: “Sing While you may”, desta feita acompanhada por “Nititupotnibadnif” (ler de trás para a frente. “Bin” é “arca”.) Outra vez o dilúvio? (8)