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Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #171 – “p.fanáticos do prog. coleccion.”

#171 – “p.fanáticos do prog. coleccion.”

P/fanáticos do prog/collecion
Fernando Magalhães
Tue May 15 17:17:26 2001

A Universal japonesa está a lançar reedições remasterizada (24 bits) e cartonadas (as tais miniaturas das ed. Originais em vinilo à quais é difícil resistir, como as recentes dos KING CRIMSON, ROXY MUSIC, etc.) dos discos de Progressivo dos anos 70.
Alguns deles indispensáveis, outros simplesmente apelativos para os colecionadores mais compulsivos.

A Ananana vai ter disponíveis todos os títulos que a seguir indicarei. O preço de cada um ronda os 4500$00.

CARAVAN – If I Could do it all over again, I’d do it all over you (9/10)
CARAVAN – In the Land of Grey and Pink (10/10) – um dos clássicos da Canterbury Scene.
CARAVAN – Waterloo Lily (8/10) – mais jazzy
CARAVAN – For Girls who Grow Plump in the Night (7,5/10) – mais pop
CARAVAN – Cunning Stunts (6/10) – mais vulgar…
CLEAR BLUE SKY – Clear Blue Sky (6/10) – hard rock prog
EAST OF EDEN – Mercator Projected (9/10) – jazz/rock exper./excentricidade c/ violin elétrico, electrónica… – p/os apreciadores dos King Crimson
GENTLE GIANT – Gentle Giant (9/10) – Uma das melhores bandas dos anos 70. Originalidade absoluta.
GRACIOUS – Gracious (8/10) – psicadelismo prog. Onírico. Álbum com uma magia estranha
GRAVY TRAIN – (Ballad) of a Peaceful Man (5,5/10) – hard rock/canções pop/orquetra/resquícios dos Jethro Tull…
KHAN – Space Shanty (7,5/10) – c/Dave Stewart (Egg, Hatfield & The North, National Health) e Steve Hillage (Gong)
MELLOW CANDLE – Swaddling Songs (7,5/10) folk prog.
MOODY BLUES – Every Good Boy Deserves Favour (6,5/10)
MOODY BLUES – Seventh Sojourn (5/10) – Os Moodies já na sua fase descendente
T.2 – It’ll all Work out in Boomland (8,5/10) – hard rock prog + mellotron + ecos de Canterbury de extrema originalidade. Um classic.
TOM NEWMAN – Faerie Symphony (7,5/10) – álbum conceptual de estreia do produtor de Mike Oldfield
TUDOR LODGE – Tudor Lodge (7,5/10) – Folk prog.
WOLF – Canis Lupus (8/10) – Projecto do violinist Darryl Way, após a saída dos Curved Air.

FM

Santana – “Santana – Concertos” (artigo de opinião)

Pop-Rock Quarta-Feira, 24.07.1991


Santana – Concertos



Sábado à noite será assim, sem qualquer espécie de dúvida: Carlos Santana subirá ao palco debaixo de uma monstruosa salva de aplausos. Na fase seguinte, deverá tocar. Arriscamos a guitarra. A guitarra deverá ser eléctrica, ter seis cordas e estar ligada a um amplificador, senão não se ouvirá nada.
Carlos Santana virá acompanhado de uma banda, que, em princípio deverá ser a sua. Aos primeiros acordes de “Black magic woman” a multidão irromperá em mais uma salva de aplausos. Acender-se-ão os primeiros os primeiros isqueiros, para testar o nível de gás e, já agora, acender um cigarro. O público exigirá de imediato os temas mais conhecidos e os músicos far-se-ão rogados, fingindo que não os vão tocar, querendo com isso provar que a sua fase actual é a mais interessante de todas. O que às vezes, como no caso recente de Paul Simon, até é verdade. Em relação aos Santana, a melhor música foi composta há 21 anos, nos dois primeiros álbuns “Santana” e “Abraxas”. Será então caso para dizer que, ao menos uma vez, o público terá razão.
A primeira meia dúzia de temas servirá essencialmente para aquecer, alternando os mais conhecidos com outros novos, dos álbuns recentes. Em todo o caso haverá forçosamente em todos eles um solo de pelo menos dez minutos, no fim do qual o líder aproveitará para fazer a apresentação do respectivo músico. Com um pouco de sorte, Carlos Santana dirá “obrigado” em português, pondo a multidão em delírio.
A fase intermédia será preenchida na íntegra por temas preferencialmente instrumentais e de teor mais místico, de “Caravanserai”, “Borboletta” e do triplo “Lotus”. Será a fase da “mensagem” em que “devadip” (a luz suprema) Carlos Santana se ocupará da parte doutrinária do evento. O estádio ficará então banhado pela luz de milhares de isqueiros e pelo perfume adocicado de outros tantos charros devotamente acesos. Momentos beatíficos, de celebração colectiva, com todos (mesmo os que nessa altura ainda não eram nascidos) a recordarem os bons tempos de Woodstock e a polícia, de cabelos engrinaldados, sorridente, a desviar, cúmplice, o olhar.
Metade da assistência (constituída por pais e mães) passará, a partir dessa altura, pelo nirvana, ou seja, pelas brasas. A outra metade (estudantes universitários) e jovens executivos) passará a olhar as luzes de cena com outros olhos, ansiando já o momento do fogo-de-artifício. A terceira metade (os mais novos) sentir-se-á chocada e aproveitará para lançar toda a espécie de impropérios sobre a vida dissoluta dos pais e, em geral, sobre os malefícios do “rock ‘n’ rol”.
Apoteótica, a última hora de concerto corresponderá a um aumento de velocidade, que poderá atingir o auge em “Soul sacrífice”, com a vantagem adicional de simbolizar o retorno às origens.
Passados os momentos de interiorização, da improvisação e dos épicos jazz rock, será o retorno à simplicidade, o apelo aos cânticos e às palmas de acompanhamento. As pessoas (passado o efeito dos fumos) começarão a fazer contas à vida e aopreço dos bilhetes, decidindo qual o número justo de “encores” a exigir no final. Os músicos não se farão rogados e voltarão ao palco tantas vezes quantas as previamente acordadas no contrato. O público ficará feliz e o relvado do estádio do Sporting um pouco mais arruinado. Pode ser que não seja nada assim, mas é o mais provável.

Kraftwerk – “The Mix”

Pop-Rock Quarta-Feira, 24.07.1991


KRAFTWERK
The Mix
LP e MC duplos / CD, EMI, distri. EMI-VC



Ralf Hutter e Florian Schneider inventaram novas formas de sensibilidade. Conseguiram que as máquinas adquirissem um rosto humano e os humanos ganhassem corpos cibernéticos. Os manequins-“robots” da capa de “The Mix” são elucidativos quanto ao que os Kraftwerk consideram a “condição humana”. Considerados como “pais” de grande parte dos movimentos musicais assentes no primado da electrónica (a “electronic body music”, a “techno-pop” ou mesmo a “house” negra), os Kraftwerk são mestres na disseminação de novas pistas estéticas – e, talvez mais importante, éticas – e na utilização da informática ao serviço de uma boa melodia. Da “trip” cósmico-industrial de “Autobahn” à apoteose mediática de “Electric Café”, passando pela viagem fantástica pela Europa de metal de “trans Europe Express”, o infantilismo mutante de “Radio activity” ou o classicismo gelado e elgíaco do novo mundo anunciado em “The Man Machine” e “Computer World”, é todo um percurso de descoberta das fronteiras do humano, na concepção cartesiana de um “Deus ‘ex-machina’”. Em “The Mix” a dupla recolheu alguns dos temas-chave da sua discografia e regravou-os para os devolver na forma de autocitações reactualizadas, segundo o critério de porenciação máxima das qualidades essenciais. O resultado é esmagador.
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