Arquivo mensal: Julho 2022

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

#54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

Fernando Magalhães
17.12.2001 150341

Barry 7’s Connectors
Barry 7, dos Add N to (x), acabou de editar um CD muito curioso, “Barry 7’s Connectors”: uma selecção, da sua responsabilidade, de 21 temas raros extraídos de arquivos de várias proveniências (três, não me recordo agora quais), dos anos 60 e 70. “Incidental music”, portanto, montada numa sequência interessantíssima que mistura easy listening futurista (Moogs e theremins a dar com um pau…), lounge atípico, música de filmes, pastisches de krautrock e mesmo algum experimentalismo electrónico (Raymond Scott a espreitar no horizonte…).

O disco faz parte da mesma série que recentemente teve em LUKE VIBERT idênticas funções, de seleccionador de material de arquivo.

Ou muito me engano, ou trata-se de um disco que fará as delícias do Flash Gigantone.

FM

Deacon Blue – “Ooh Las Vegas”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 10 OUTUBRO 1990 >> Pop Rock >> LP’s


DEACON BLUE
Ooh Las Vegas
LP e CD CBS, distri. CBS port.



Que sórdidos motivos, que inconfessáveis traumas poderão levar um jovem escocês filho de boas famílias, aparentemente são de espírito, a querer ser Paddy McAloon? Cabe aqui informar que Paddy McAloon é a designação comum para a síndrome, vulgar na comunidade pop, que costuma atacar vocalistas masculinos de voz a atirar para o fininho, característica geralmente acompanhada, à laia de compensação, por um crescimento exagerado do ego. Facto que os leva, com uma certa frequência, a perder o sentido de equilíbrio e das proporções.
Paddy McAloon, o original, dos Prefab Sprout, foi aqui examinado há umas semanas atrás. Acha-se génio. Está no seu direito. Nestes casos não convém contrariar demasiado o doente, sob pena de o enervar ou, pior ainda, excitá-lo ao ponto de querer gravar mais discos justificativos da sua paranoia. Os Deacon Blue, ou melhor, o seu vocalista Ricky Ross, sofre da síndrome. Mas o seu caso é ainda mais grave. À perda do sentido da realidade acrescenta-se a total despersonalização, ao ponto da voz, maneira de cantar e de compor se confundirem com as do génio McAloon. Não seria dramático se o desenvolvimento do mal se confinasse ao segredo das instituições e ao silêncio, remetendo o maníaco para o lugar que lhe compete: a reclusão, o colete-de-forças e, sobretudo, a mordaça. Mas não, dão-lhe trela, voz ativa, e quem sofre é a humanidade inteira e, por tabela, o crítico, forçado à escuta atenta da deformidade. “Ooh Las Vegas”, assim se chama o instrumento de tortura. Duplo, ainda por cima. Vinte e três atentados à sensibilidade. Outros tantos golpes impiedosamente vibrados na música pop, já de si não muito bem de saúde. Para Ricky Ross não chega massacrar o ouvinte. É preciso levá-lo à completa agonia, utilizando todos os meios, mesmo os menos lícitos, para levar a cabo os seus negros desígnios. Neste caso serviu-se de “lados B” de singles, maxis e EP antigos (“When will you Make my Telephone Ring”, “Dignity”, “Queen of the New Year”, “Chocolate Girl”, “Love and Regret”, só para referir o primeiro lado), bem como sessões para a peça televisiva “Dreaming”, de William McIlvanney e um ou outro tema original. A monotonia impera. A voz de Ricky irrita, de tanto se esforçar por imitar aquela que bem sabemos. As canções vão passando, passando, a paciência esgotando-se, esgotando-se. Ao escutar títulos como “Back here in Beanoland” ou “Let your Hearts be Troubled”, o cérebro é percorrido por uma sucessão de imagens assustadoras, com o rostos e as vozes de Elton John, Chris de Burgh e de todas aquelas outras personagens tenebrosas que perpetuamente assombram os tops americanos, a divertirem-se na meticulosa tarefa de nos arrasar psicologicamente. Mais um disco como este e também nós ficaríamos a deitar serpentinas pelos ouvidos e a cantar fininho. Será que afinal foi isso que aconteceu a Ricky Ross, depois de ter ouvido o McAloon? “Why? Why? Why? Why? Why?” – pergunta Terry Staunton, do NME, após a audição de “Ooh Las Vegas”. Não indo tão longe, aqui fica, no entanto, uma pergunta de outro estilo: “Porquê? Porquê? Porquê?” *

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #53 – “WHEN, MALICORNE… (FM)”

#53 – “WHEN, MALICORNE… (FM)”

Fernando Magalhães
12.12.2001 180645

Como soam os WHEN? Imaginem o cruzamento de Wagner, Residents e Brian Eno on acid…
Mas é muito difícil definir o som alucinado e fantasmagórico de LARS PEDERSEN que, nos anos 80, fez parte do grupo industrial/militarista HOLY TOY (espécie de fusão entre os Laibach e os In the Nursery, de “Stormhorse”).

Quanto aos MALICORNE. Melhores ainda que “L’Extraordinaire Tour de France d’Adélard Rousseau” são os anteriores “Malicorne” (da capa com a casa nas árvores), “Almanach” (baseado nos rituais agrícolas/esotéricos correspondentes aos 12 meses do ano) e “Malicorne” (da capa com a constelação “M”).

FM