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John Zorn – “Concerto De John Zorn Em Portugal – Sax Supesónico” (concerto | antecipação)

cultura >> domingo, 21.03.1993


Concerto De John Zorn Em Portugal

Sax Supesónico


JOHN ZORN, o saxofonista supersónico, regressa a Portugal, com um concerto marcado para o próximo dia 2 de Abril, no Armazém 22, em Lisboa, numa produção da Simbiosis. Acompanham Zorn, nesta sua terceira deslocação ao nosso país, o baixista Bill Laswell e Mike Harris, do grupo “hardcore” Napalm Death, num novo projecto com a designação Pain Killer.
Considerado um inovador do saxofone alto e um dos pilares do movimento “downtown” de Nova-Iorque, Joh Zorn, revolucionou as bases do “bebop”, para partir ao encontro do rock “hardcore” que o músico considera ter “uma intensidade igual à do ‘free jazz’ nos anos 60” e cuja estética desenvolveu até ao delírio nos Naked City, outro dos seus projectos iniciado nos anos 80, ao lado de Fred Frith, Bill Frissell, Joey Baron e Wayne Horvitz. Em 1989, o saxofonista assinara já a sua versão “hardcore” de temas de Ornette Coleman, em “Spy vs. Spy”.
Adepto da colagem sonora e da velocidade de interpretação, a par do fascínio pelas perversões sexuais sado-masoquistas, conceitos que exrcitou em álbuns como “The Big Gundown”, sobre música de Ennio Morricone, “Spillane”, inspirado no escritor policial Mickey Spillane, ou na longa e magistral sequência que ilumina a colectânea “Godard, ça vous Chante?” dedicada ao profeta da “nouvelle vague” do cinema francês, John Zorn atingiu o limite em “Speed freaks”, tema de menos de um minuto de duração no qual incorpora 32 estilos musicais diferentes.
Entre os álbuns mais importantes de John Zorn contam-se os dois volumes de “The Classic Guide To Strategy”, “Locus Solus”, “Cobra”, “News for Lulu” e “Torture Garden” (com os Naked City. Quem preferir escutá-lo em perfeito estado de enamoramento pelo “bebop” deve procurar nas águas mais calmas, mas não menos brilhantes, de “Deadly Weapons”, na companhia do pianista excêntrico inglês Steve Beresford, David Toop e a cantora Tonie Marshall.

Non – “In The Sahdow Of The Sword”

pop rock >> quarta-feira, 03.03.1993
NOVOS LANÇAMENTOS


Non
In The Sahdow Of The Sword
CD Mute, distri. Edisom



Boyd Rice tem cara de poucos amigos e humores ainda com pior aspecto. É um niilista capaz das maiores perversidades, enfim, alguém que não gostaríamos de ter como nosso barbeiro. Além do mais diz sempre que “non”, a fingir-se de grupo, e como símbolo da perpétua negação. Gravou um disco decadente-furioso com Frank Tovey, “easy Listening for the Hard of Hearing”, com algum interesse, mais cinco a solo, de onde se destacam “Music, Martinis & Misanthropy” e “Blood and Flame”. Tem especial consideração pelos tubarões e muito pouca pela música, que encara como uma série de ruídos industriais, estilo limalha de ferro e botas da tropa, sobre os quais lança as suas imprecações. Um perigo.
O menu temático consta do habitual entre os seus colegas de ofício: dias negros que se avizinham, atrocidades, ameaças, degenerescências filosóficas de índole nietzschiana (além do bem e do mal, não é verdade? Deviam ler com mais atenção o livro), uma dose reforçada de paganismo e tempo ainda para a descoberta de uma divindade (de ódio, obviamente) chamada Abraxas. Em termos de som predominam as batidas militaristas, naipes de electrónica dura e a voz de Boyd em tom declamatório a anunciar o descalabro. O som, talvez para ficar de acordo com o resto, é péssimo, ao nível de uma cassete analógica da pior qualidade. Será que o fim dos tempos também chegou ao digital? (3)

Brion Gysin – “Self-Portrait Jumping”

pop rock >> quarta-feira, 03.03.1993
NOVOS LANÇAMENTOS


Brion Gysin
Self-Portrait Jumping
CD Made To Measure, import. Megamúsica



Bryon Gysin, teórico, pintor e poeta, falecido recentemente, é um nome bastante apreciado em certos meios vanguardistas, que nele vêem um percursor de algumas técnicas e conceitos actualmente em voga, como o ‘cut up’ e o estudo das relações emissor-receptor ao nível dos efeitos da obra de arte sobre os órgãos de percepção. Uma das suas descobertas mais populares foi a “dream machine”, um cilindro de luz estroboscópica cuja frequência rotativa específica parece ser capaz de provocar, num sujeito de olhos fechados, a “visão” de padrões alucinatórios. Genesis P. Orridge, dos Psychic TV, e os Hafler Trio já dedicaram um disco inteiro ao assunto. Agora chegou a vez de Ramuntcho Matta repescar os conceitos de Gysin segundo uma óptica substancialmente diferente. Não se pode dizer que o resultado seja brilhante, apesar da presença de convidados como Don Cherry, Steve Lacy, Elli Medeiros e Lizzt Mercier Descloux.
Matta (autor de um espantoso “Domino One”, gravado nesta mesma editora) pegou em textos e registos antigos efectuados em conjunto com o autor e deu-lhes música. Mas quando seria de esperar que à estranheza do objecto em causa correspondessem sons no mínimo originais, acontece, pelo contrário, a falta de ousadia formal e uma repescagem de ideias alheias. Assim, as vocalizações, a cargo do próprio Bryon Gysin, ora remetem de imediato para os Talking Heads, em cadência calipso (“Kick”, “Junk”) ou da fase “Remain in Light” (“Sham pain”), ora mimam com bastante aproximação as chiadeiras de David Thomas, dos Pere Ubu (“Baboon”). Mas o pior são os 30 e tal minutos de “Dreamachine” durante os quais Bryon Gysin despeja a teoria completa a um ritmo igual do princípio ao fim. Uma oportunidade desperdiçada e um dos discos mais decepcionantes de uma série, nos últimos tempos, com tendência para tropeçar. (4)