PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 15 AGOSTO 1990 >> Videodiscos >> Pop
HIS NAME IS ALIVE
Livonia
LP e CD, 4AD, Distri. Anónima
Cemitérios. Catedrais em ruínas. Florestas escuras. Estátuas funerárias. Fantasmas de amantes que morreram por paixão. Flores em campos, de preferência violetas e lilases. Sinos e vento, Outono, no funeral, ao entardecer. As cores e o frio marmóreos, nas lajes, em inscrições douradas. A morte, tema querido dos decadentes da 4AD.
Vozes femininas, sempre, de raparigas de rosto branco e misterioso. Liz Fraser, Lisa Gerrard, agora também Karin Oliver e Angie Carozzo. Acompanhadas pelas guitarras, baixo e “samples” de Warren Defever. Passado o tempo da violência, com Birthday Party e Matt Johnson, o êxito dos Cocteau Twins e This Mortal Coil obrigou Ivo Watts-Russell a repensar toda a estratégia e imagem da editora. Era o início de um som e de uma atitude que fizeram escola. Apologia de um classicismo funéreo e gelado, que pretende elevar-se acima das frivolidades do mundo profano.
Os His Name is Alive perseguem a sombra (até na capa) dos This Mortal Coil. Os mesmos ambientes, ora opressivos ora etéreos. Fantasmagorias experimentais alternando com a pureza do canto das meninas. Percebe-se que o disco foi pensado até ao mínimo pormenor. Produção típica da casa, realçando as tonalidades diáfanas das vozes e fazendo a eletrónica ecoar nos claustros das igrejas onde, à noite, dançam os cadáveres, celebrando estranhos rituais.
Só que, às vezes, apetece saborear outros fascínios. Nem só o folclore da morte é digno de ser cantado. Tanta tristeza, tantos mistérios ocultos em títulos como “Fossil”, “Reincarnation”, “Caroline’s Supposed Demons” ou “How Ghosts Affect Relationships”, também cansam. Sobretudo quando não abundam verdadeiras canções nem a inspiração, presente, por exemplo, no novo Dead Can Dance, ou a coerência dos This Mortal Coil. Em “Livonia”, o dourado dos enfeites esconde o vazio de ideias. Falta o golpe de asa que distingue as grandes obras das simplesmente bonitinhas. O nome está vivo, mas o quadro é uma natureza morta. Atraente, se confundirmos o brilho com a luz.