LESSER
Gearhound
Matador, distri. Zona Música
7|10
J. Lesser, ISR, 157, Backfire, DJ 40 Year Old Woman (!), não importa como se apresenta. É um foragido de bandas rock que encontrou na eletrónica o último refúgio da “estética punk”. Trabalhou com Matmos e Kid606 (com quem prepara o projeto Sex Pixels…) e no horizonte está uma colaboração com os Blectum from Blechdom. Formou uma banda de covers dos Metallica, os Creeping Death, e ao vivo as suas atuações pautam-se pelo caos e destruição. Editou a cassete “I hate me”, acompanhada da oferta de uma lâmina de barbear (verdadeira) e um bocadinho de LSD (falso). Tudo junto explica este “Gearhound”, carga explosiva de eletrónica apocalíptica onde se misturam as influências dos Big Black, Sebadoh, Meat Beat Manifesto, Public Enemy e Negativland. Um dos temas, “Cheeseburger lady”, é uma réplica de “Hamburguer lady”, dos Throbbing Gristle. Dat Politics, Atari Teenage Riot e Speedy J não passam de easy-listening, comparados com a tareia sónica de J. Lesser.
ZION TRAIN
Secrets of the Animal Kingdom in Dub
Universal Egg, distri. Sabotage
8|10
Coletivo inglês em ação desde 1990, os Zion Train cultivam o dub psicadélico com a atitude de cibernautas em busca da derradeira droga sintética que projete o holograma de Bob Marley no Cosmos. Já lhes chamaram os Grateful Dead da tecno, definição engraçada que dá uma boa ideia da forma como o quinteto combina as refrações dub em ligação direta com a tecno e o trance e em conjunção com as alterações da perceção proporcionadas pelas drogas psicotrópicas. Com cada um dos temas dedicado a um animal, “Secrets of the Animal Kingdom” é um palco virtual, uma selva de ilusões e um manjar para os ouvidos, culminando em “Manta ray” que alguém definiu como a dança minimalista, em estereofonia, de um programa de lavagem. Mais cosmopolitas, mas não menos interessantes, os The Tassilli Players gravaram para a mesma editora outro álbum conceptual de “dub” psicadélico, “An Atlas of World Dub” (8/10), desta feita uma panorâmica de diversas comunidades mundiais de dub, com produção dos Zion Train, onde estão patentes uma faceta progressiva e um “etno-industrial” reminiscente de Mark Stewart.
“It’s Like This” insere-se na tradição de álbuns de “covers”. Aqui ficam alguns mais representativos.
JEAN-LUC PONTY
King Kong Blue Note, 1970
“Virtuose” do violino eletrificado, ginasta do jazz de fusão, herdeiro de Grappelli, Ponty deu novo rosto instrumental ao papa dos Mothers of Invention, reinventando o humor de “Idiot bastard son” e “Twenty small guitars”, ou alinhando em cumplicidade com o mestre, em “Music for Electric Violin and low budget orchestra”.
DAVID BOWIE
Pinups EMI, 1973
O camaleão ainda arranjou tempo para vestir a pelo dos seus heróis, travestindo “See Emily play”, de Syd Barrett, “I can’t explain”, de Townshend ou “Where have all the good times gone”, de Ray Davies.
THE RESIDENTS
George and James Ralph, 1984
Os amantes da soul, seu pudessem, davam-lhes um tiro. Os da música clássica, enforcavam-nos. Os “criminosos” são os Residents, e o crime foi o massacre de James Brown e Gershwin, no primeiro volume de uma série dedicada a compositores americanos deste século.
MARIANNE FAITHFULL
Strange Weather Island, 1987
Resultou do encontro mágico entre a produção de Hal Willner e uma voz do fundo da noite. Tom Waits e Bob Dylan sangrados. E os extremos de uma ressurreição sempre incompleta, entre a ferida de “As tears go by” e o despojamento sem esperança de “Boulevard of broken dreams”.
STEVE BERESFORD
L’Extraordinaire Jardin de Charles Trenet Nato, 1988
Do jazzman e lunático Steve Beresford tudo se espera. Mas foi na editora-anedota Chabada que o inglês soltou o humor nonsense e o amor pelas variedades, em particular a “chanson française”, num disco sorridente que levou ao colo as canções de Trenet.
PASCAL COMELADE
El Primitivismo Les Disques du Soleil et de l’Acier, 1988
Tudo o que toca fica em cacos. E é ao juntar os pedaços com a cola da memória que a música se transforma num brinquedo. Aqui remonta alguns dos seus preferidos: Stones, Wyatt, Nino Rota e Chuck Berry.
MARY COUGHLAN
Uncertain Pleasures Eastwest, 1990
Uma das mais sensuais vozes da atualidade, a irlandesa Mary Coughlan desfiou álbuns de “covers”, qual deles o mais brilhante. “Uncertain Pleasures” distingue-se pela arrebatadora versão de “Heartbreak hotel”, de Presley, subindo ao cume em “The little death”, dos Boomtown Rats, feito standard de jazz.
MATHILDE SANTING
Carried Away Solid, 1991
Todd Rundgren, Roddy Frame e os Doors contam-se entre os autores de “Carried Away”, veículo para a voz desta holandesa cultivar a arte da elegância. Com a meticulosidade de colecionadora e o apuro da designer.
URBAN TURBAN
Urban Turban Resource, 1994
Para os suecos Urban Turban, dar lustro a uma canção é esfregá-la com o desregramento. Sarcasmo, rock & rol e sanfonas, numa variante das barbaridades folk dos compatriotas Hedningarna. “Voodoo chile”, de Hendrix, e “Let’s work together”, dos Canned Heat, caíram que nem ginjas nas mãos dos iconoclastas.
JONI MITCHELL
Both Sides now Reprise, 2000
Uma das damas da pop deste século, na sua primeira incursão no universo das “covers”. Canções sobre o amor, numa paleta interpretativa que vai do recolhimento à orquestração majestosa das emoções. “Standards” na sua aceção mais nobre, de modelos a seguir.