Arquivo mensal: Outubro 2023

Wendy Stewart – “About Time”

pop rock >> quarta-feira, 17.03.1993


Wendy Stewart
About Time
CD Greentrax, distri. VGM



Instrumento sagrado, o mais antigo tocado pelos bardos, a harpa céltica tem sido nos últimos anos objecto de renovação, um pouco por toda a Europa. Na Escócia, harpistas como William Jackson, Robin Williamson, Savourna Stevenson, Alison Kinnaird, Patsy Seddon e Mary McMaster (duo Sileas) avançam novas técnicas, ao mesmo tempo que fazem novas leituras do legado tradicional. Wendy Stewart tocou no álbum estreia de Alison Kinnaird, “The Harp Key”, de 1977, demorando até hoje para confirmar a solo todas as potencialidades que se lhe reconheciam. Utilizando o modelo tradicional de harpa céltica (“clasach”, na Escócia), com cordas de tripa, e a variante electrificada, encordoada a nylon, Wendy Stewart rebvela um estilo que privilegia a suavidade e a harmonia, semelhante ao de William Jackson. No par de temas vocalizados (a maior parte das harpistas tradicionais não resiste à tentação de cantar…), Wendy não escandaliza, embora não seja o seu ponto forte. Vários membros dos Ceolbeg emprestam à música – que inclui temas de França, Escandinávia, Paraguai e “cajun” – um colorido adicional. “About Time” flui como um riacho de águas calmas a abrir a Primavera. (7)

Mouth Music – “Mo-Di”

pop rock >> quarta-feira, 17.03.1993


Mouth Music
Mo-Di
CD Triple Earth, import. Contraverso



Depois de um primeiro álbum bastante promissor, os Mouth Music fazem um golpe de rins em toda a linha, e inflectem para a música de dança de influência étnica, à semelhança, por exemplo, dos Suns of Arqa. Se na estreia deste grupo escocês a tónica incidia em harmonias vocais envoltas em névoas de “new age” céltica, agora o ênfase deslocou-se para o ritmo, através de sequências hipnóticas sobre as quais evoluem as vozes de Michaela Rowan e Jackie Joyce. As fontes étnicas utilizadas, sampladas e manipuladas de todas as maneiras e feitios, incluem temas da tradição gaélica, entre os quais um aprendido com Catherine-Ann MacPhee, e outro de “mouth music”, ou “puirt a bail” – designação de um género particular desta tradição – e um cântico xhosa (façam como eu e vão procurar na enciclopédia…) “Mo-Di”, impecavelmente limpo e polido em estúdio, reúne todas as condições para facturar nas pistas de dança dos “new agers” de consciência cósmica. “World music” para consumo nas grandes urbes néon ocidentais dá direito a bilhete de acesso para o mundo exterior, genuíno e assustador, das coisas vivas que mordem. (6)

Famille Lela De Permet – “Polyphonies Vocales Et Instrumentales d’Albanie”

pop rock >> quarta-feira, 17.03.1993


Famille Lela De Permet
Polyphonies Vocales Et Instrumentales d’Albanie
CD Indigo, import. Contraverso



Música tradicional da Albânia não é pera doce. É preciso escutar várias vezes até se perceber verdadeiramente o que se passa. Há ritmos estranhos e compassos complexos vindos do Leste com os quais nos habituámos a conviver, da Hungria, da Roménia, da Bulgária. Mas na Albânia batem todos os recordes. Não são compassos difíceis, são compassos impossíveis. Síncopes e estremeções de partir a coluna. Convém estudar bem a lição antes de qualquer tentativa de dança, sob pena de se contraírem lesões musculares graves.
A Albânia, para quem não sabe, fica situada em frente ao salto da bota italiana, banhada pelas águas que ligam o mar Adriático ao Jónico e encravada entre a ex-Jugoslávia e a Grécia. Musicalmente são visíveis as influências de toda esta geografia adjacente, dando a ideia que os Albaneses não sabem bem para que lado se hão-de voltar. O próprio canto corso, embora já mais afastado, faz sentir a sua influência.
É uma música rude, primitiva, quase sempre imbuída de uma imensa tristeza, mesmo quando a ocasião é de festejos, que encontra, nos sons e na atitude, muito de comum com a música cigana dos Balcãs. Canções e danças dos pastores da montanha, baladas épicas e de amor ocupam a parte de leão do reportório dando voz a emoções e sentimentos ancestrais. As vocalizações são escassas e a instrumentação esparsa: acordeão, violinos, bandolins e percussão. Polifonias nocturnas, não estilizadas, que retratam a solenidade e a nobreza de um povo que se deixou perder no tempo. (7)