Arquivo mensal: Setembro 2015

Maio Moço – “Amores Perfeitos”

POP ROCK

25 de Maio de 1994
WORLD

Maio Moço
Amores Perfeitos

Vidisco


mm

A pergunta que muitos devem fazer é: que raio terá passado pela cabeça de Vítor Reino, um dos nomes mais importantes da música portuguesa de raiz tradicional, membro fundador dos Almanaque, Ronda dos Quatro Caminhos e destes Maio Moço, que começaram bem, com “Inda Canto”, mas acabaram, com “Histórias de Portugal” e estes “Amores Perfeitos”, por descarrilar? A solução do mistério é dada pelo próprio Vítor Reino (ver texto na pág. 4 deste suplemento) quando explica que os Maio Moço são actualmente um grupo de “música ligeira”. Para ele, passaram para segundo plano as preocupações artísticas e a responsabilidade angariada no passado. A “recompensa” não se fez esperar, com o aumento imediato de vendas e os Maio Moço a integrarem o lote dos grupos ouvidos e consumidos nas feiras e mercados da província. Um aspecto curioso é o lado didáctico deste como do anterior disco dos Maio Moço. Um resumo da história de Portugal a que se seguiu agora uma resenha, em estilo bem popular, de alguns dos nossos escritores mais conhecidos. Aproveitaram-se de cada um deles excertos de textos para se fazer canções acessíveis e fáceis de dançar. Pontos a favor de “Amores Perfeitos” são o desaparecimento das malfadadas caixas de ritmo e o ressurgimento, embora ainda discreto, da gaita-de-foles. Mas a roda de “chula” e o “popular porrerismo” vigente na maioria dos temas dá a ideia desagradável de que os Maio Moço são actualmente como que a vanguarda daquilo a que já tivemos oportunidade de chamar “Música popularucha portuguesa”. Algo vai mal no reino de Vítor. (3)



Pedro Barroso – “Cantos D’Antiga Idade”

POP ROCK

9 MARÇO 1994

Pedro Barroso
Cantos D’Antiga Idade

Strauss


pb

Não se nega a Pedro Barroso a integridade. Agora, não se lhe peça mais do que aquilo que ele pode dar. De álbum para álbum, o cantor que o Zip Zip deu a conhecer ao público vem repetindo uma fórmula que já não parece ter muitos frutos para dar: a balada, numa vertente que hesita entre o popular e a “patine” da erudição. Brel, Moustaki, Brassens e a chamada “chanson française” em geral continuam a ser a matriz da qual o compositor tão cedo não se conseguirá, nem porventura quererá, libertar. A apropriação da poesia medieval de expressão galaico-portuguesa e, em particular, das cantigas de amigo medievais, por muito que o compositor se tenha envolvido nelas, resulta neste disco em canções por de mais banais e previsíveis, sem que se vislumbre a criatividade ou o rasgo que justificassem o empenhamento. Os apreciadores da música de Pedro Barroso – que, sinceramente, não sei quem são – vão decerto ficar contentes com estas cantigas (não é assim que eles dizem?) da meia, perdão, da antiga idade e reconhecer-se na voz grave e no estilo familiar e coloquial do cantor. Um daqueles discos que não aquecem nem arrefecem. (5)



José Peixoto – “Taifa”

POP ROCK

9 MARÇO 1994

José Peixoto
Taifa

Playon, distri. MVM


taifa

Com “El Fad”, o seu álbum anterior, José Peixoto, actualmente elemento dos Madredeus, deu-se a conhecer como um bom executante de guitarra acústica, com um estilo personalizado que não escondia o gosto pelos ritmos e fraseados da música árabe. “Taifa” volta a mostrar o lado tecnicista, embora partilhado com um segundo guitarrista, Mário Delgado, e o apoio firme e discreto, de José Salgueiro, nas percussões. Mas falta algo a estes por vezes excessivos longos conciliábulos de guitarras que se debruçam sobre o próprio umbigo, cada qual no seu canal de estéreo, e se esquecem da emoção. Se há quem possa achar geladas certas produções da ECM, o que não diriam da frieza, por vezes árctica, de “Taifa”, que, ironicamente, deveria reter e reflectir o calor das músicas do Mediterrâneo. A introspecção, quando exposta à audição e interpretação de um público reflector, implica vontade de comunicação. É esta ausência de vontade de partilha que marca “Taifa” pela negativa. Mesmo que o autor dedique o disco “àqueles que são de parte nenhuma, aos espectadores do tempo, aos nómadas da vida”. Certo! Mas mesmo esses talvez gostassem de algo mais substancial. (6)