Arquivo mensal: Março 2015

Mark Isham – “Mark Isham”

Pop Rock

29 MAIO 1991

MARK ISHAM
Mark Isham

LP / CD, Virgin, distri. Edisom

mis

O espectáculo da decadência é geralmente triste. Sobretudo quando se assistiu a glórias passadas. Mark Isham, trompetista de reconhecidos méritos, assinou, para a ECM, trabalhos de qualidade. Na ECM é forçoso que assim seja. É a política da casa. Quem não está bem, muda-se. Mark Isham não se sentia bem e mudou-se. O novo álbum, de tão açúcar e água morna, agonia. ECM, versão “middle of the road”. O trompetista limita-se a soprar. Tanita Tikaram limita-se a cantar, de forma simplória, como sempre, felizmente que apenas em dois temas. Há temas execráveis, de dar à manivela da caixa registadora. Chick Corea colabora, em regime de M. C. I. I. (músico convidado de irresponsabilidade ilimitada). Mark agradece-lhe “anos de inspiração”. Algo vai mal n o ensino. Alex Acuna e David Torn assinam o ponto com a competência de funcionários públicos. Disco inútil, música oportunista, dirigida ao pior gosto burguês. Herp Albert é mais sincero. ***



Wire – “The Drill”

Pop Rock

22 MAIO 1991
LP’S

WIRE
The Drill

LP e CD, Mute, distri. Edisom

wire

Na modesta opinião do crítico, por natureza voltado para as franjas mais radicais da música actual, “The Drill” é o melhor álbum de sempre dos Wire. Mas para evitar situações desagradáveis, esclareça-se o seguinte: em “Drill”, não há uma única melodia digna desse nome, um resquício mínimo a que se possa chamar “linha melódica”. As palavras – que, com uma certa dose de imaginação, poderemos considerar “cantadas”, nos poucos momentos que lhes são concedidos – apagam-se, massacradas pela rítmica metronómica e por uma mistura implacável. “Drill” tem menos a ver com o som habitual dos Wire e mais com as experiências empreendidas pela dupla Bruce Gilbert-Graham Lewis, em discos obscuros como “The Shivering Man” ou “8 Time”. Eles explicam que exploraram o método “Dugga” – “repetição monofónica e mono-rítmica”. Com Dugga ou não, o resultado é brilhante, levando ao paroxismo as premissas enunciadas pelos Kraftwerk em “Ralf and Florian” ou os Cluster em “Zuckerzeit”. “Where are you now?”, pergunta sem resposta, claustrofóbica e angustiante, pontuada por grunhidos de porcos electrónicos, demonstra bem até que ponto os Wire arriscaram, num, num disco em que as melodias foram substituídas pelas delícias do berbequim. ****

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pwd: 80sonspeed



Paul Brady – “Trick Or Treat”

Pop Rock

22 MAIO 1991
LP’S

PAUL BRADY
Trick or Treat

LP e CD, Fontana, distri. Polygram

pb

Há quem o considere “o segredo melhor guardado do rock”. Bob Dylan e Tina Turner, por exemplo, não lhe regateiam elogios. Paul Brady tem um passado de respeito. Bastaria o facto de ter passado pelos Planxty, expoentes da Folk irlandesa, para fazer arrebitar o ouvido. Infelizmente, toda a sua recente discografia a solo é mais de molde a conferir-lhe o epíteto de “barrete”. Não há ponta por onde pegar em “Trick or Treat”. Do passado irlandês, nem vê-lo. Se não soubéssemos, não acreditávamos. Musicalmente é a mediocridade completa, o que geralmente não impede, antes pelo contrário, a entrada nos Tops. Este tem todos os ingredientes para o conseguir: melodias melosas e versos que oscilam entre o metafísico (“I can just be who I am”), o ecológico (“We all want a world with a perfect constitution”) ou o patético “Baby, when this cruel world is tearing you apart/let me bem your shelter”, em português “vem cá filha que eu já te aqueço”. “Trick or treat”? Trick. (consultar o dicionário). *

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