Arquivo mensal: Novembro 2009

Cat Stevens – Numbers

20.04.2001
Cat Stevens
Numbers
Island, distri. Universal
7/10

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Mais um pacote de reedições remasterizadas da produção dos anos 70 de Cat Stevens, antes da sua conversão ao islamismo e do ostracismo a que foi votado na sequência da aceitação tácita da “fatwa” lançada sobre Salman Rushdie. De fora ficaram os exemplares mais interessantes da discografia do gato: “Mona Bone Jakon”, “Tea for the Tillerman” e “Teaser and the Firecat”. Apesar de tudo, “Numbers” não destoa destes, fugindo ao comercialismo mainstream de “Back to Earth”, também reeditado. É um álbum conceptual em torno de Polydor, um planeta governado pelos números. Os seus governantes, denominados polygons, são, por sua vez, numerados de um a nove. Acústica e introspectiva, a música descreve um mundo de faz-de-conta sustentado por vibrafones, teclados e melodias de uma simplicidade mágica que tem menos a ver com as efabulações hippies dos Incredible String Band do que com as “fairytales” contadas por Donovan.

Paolo Conte – Razmataz

20.04.2001
Paolo Conte
Razmataz
Eastwest, distri. Warner Music
7/10

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Pela primeira vez numa carreira de décadas, o crooner genial que é Paolo Conte entregou parte das vocalizações a cantores convidados, sem que para esta opção se vislumbrem quaisquer mais valias. Sinal ou não de cansaço – o italiano já vai avançado na casa dos sessentas – a verdade é que “Razmataz” deixa o travo de alguma desilusão, sobretudo quando comparado a álbuns, não tão distantes no tempo como isso, como “900” ou os dois volumes ao vivo de “Tournée”. Inspirado em África, “Razmataz” reúne o habitual cocktail de valsa musette, cançoneta italiana e jazz, aqui polvilhados de citações africanas, como sempre tendo como pano de fundo o grave vocal único de Conte e um equilíbrio instável que ora roça a iluminação ora se afunda nos charcos de ressacas de caixão à cova, mesmo se a receita aparenta, desta feita, preocupações formalistas, na suite instrumental “Mozambique fantasy”. Pulverizadas, de resto, por instantes como “The yellow dog” (pode alguém à beira do coma alcoólico desvendar a verdadeira essência do jazz?) e “Pasta ‘diva’”, comercial de um minuto em forma de ópera-pizza.

Bund Deutscher Programmierer – Stoffwechsel

13.04.2001
Bund Deutscher Programmierer
Stoffwechsel
Rather Interesting, distri. Symbiose
7/10

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A Liga dos Programadores Alemães é uma associação sem fins lucrativos dirigida pelo senhor Wurden Erstellt (Atom Heart com novo disfarce? Talvez não…) e o apoio de instituições científicas insuspeitas como o Institut Fuer Phototechnik, de Bochum, e o Clube do Pataratas Digitais do Templo dos Fotões. Têm um emblema informático/maçónico e uma equipa de técnicos de bata branca na capa. Lá dentro, a música é um emaranhado intricado de drum ‘n bass, clicks escalpelizados e queimaduras digitais com todo o aspecto de investigações sobre os limites da percepção do cérebro aos estímulos electrónicos. Pelo meio, intrometem-se fotogramas subliminares: slogans em alemão, Olegkstrowienices, motores de explosão, “powerbooks” pedidos emprestados aos Dat Politics e pormenores melódicos que contrariam a lógica de deformação aparente da Liga. Desde as supermodificações de Amon Tobin que o d&b não surgia tão esquartejado e apto a explorar novos caminhos.