Arquivo mensal: Abril 2015

António Manuel Ribeiro – “Pálidos Olhos Azuis – P. O. A.”

POP ROCK

27 DEZEMBRO 1992
DISCOS PORTUGUESES DE 1992
O PIOR

ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO
Pálidos Olhos Azuis – P. O. A.

Edição BMG / Ariola

amr

Havia outros candidatos: uns Moby Dick balofos armados em superbanda, um José Cid no auge da fúria dos Descobrimentos, um Fernando Girão que agora é índio, ecológico e decerto veste túnica branca enquanto aguarda os OVNIS redentores. Comparados com este “P. O. A.”, “Camões, as Descobertas e… Nós” e “Índio” são sem dúvida piores. Mas então teríamos de descer ainda mais e cair no andar de Marco Paulo e Roberto Leal e entrar no domínio da execráve.
A escolha do pior acabou por recair no disco de António Manuel Ribeiro em virtude de este ter responsabilidades acrescidas. De certo modo, “P. O. A.” recupera o pior dos UHF correspondente à faceta “rock português” da primeira leva, da ideia musical reduzida à expressão mais simples. Neste sentido a estreia discográfica de A. M. R. (já que estamos em maré de siglas…) pode considerar-se um gigantesco passo à retaguarda, uma investida inconsciente nos abismos do maus gosto, um desfilar de lugares-comuns que procuram fazer as vezes do retrato do “rocker” resistente mas sensível, em luta titânica contra o sistema. Dito isto, uma faixa como “A noite inteira” não destoaria num programa como Feira da Música.
Há uma explicação possível que ainda assim não serve de atenuante: António Manuel Ribeiro, ao corrente do gosto de uma certa margem do seu público, estaria no fundo a dar-lhe uma música e imagem feitas de encomenda. A música das cassetes vendidas ao quilo pelas feiras, Praças de Espanha e Martim Monizes do país. António Manuel Ribeiro, o Marco Paulo do rock português?



Índio – “Índio”

POP ROCK

13 MAIO 1992

ÍNDIO
Indio

LP/CD, Fusion Etnica

indio

O índio é o nosso chamado Fernando Girão, antes também conhecido por Very Nice e pela voz de “aquela máquina”. Girão virou ecologista e entrou na onda índia, que é o que está a dar. Para tal contou com a ajuda dos “irmãos de luz” que o inspiraram a escrever coisas tão belas e pertinentes como “não sei se as nações unidas/vão entender o que eu pedi/eu falo em nome de milhões/que não puderam vir aqui” ou “Yé yé yé/porque é que o homem é tão burro/Yé yé yé/e não consegue controlar/yé yé yé/qual será o nosso futuro/eu vou pedir a um extraterrestre/prá me vir buscar”, ou essa pérola poética que é “Se eu fosse um latin lover/tu serias a princesa/dos meus sonhos mais eróticos/da mais louca subtileza”.
As faixas falam quase todas dos “indios”, únicos detentores da verdade, e da Amazónia. Tudo contra o “homem do Ocidente” que anda a dar cabo do planeta. É tudo verdade, índio, mas é preciso ter cuidado com o ridículo. A música é uma imitação estilo “praça de Espanha” de Milton Nascimento, cheia de programações rítmicas e da persistente entoação brasileira de Girão, num festival de lugares-comuns. (1)



Duplex Longa – “Forças Ocultas”

Pop Rock

22 ABRIL 1992

Duplex Longa
Forças Ocultas

CD, MTM, distri. El Tatu

Tivessem os Duplex Longa, um duo constituído por Mário Resende, violino, flauta, electrónica, e Carlos Raimundo, baixo, electrónica, cortado alguns temas e uma mão cheia de segundos a estas forças ocultas, ou seja, tivessem sido mais Duplex e menos Longa, e estaríamos em presença de um grande disco de música feita em Portugal. Em vez disso, o duo optou pela exibição do catálogo, já um pouco estafado, do pós-modernismo, com todo o seu cortejo de tiques e truques.
As influências musicais são múltiplas, algumas óbvias. Nos temas confinados ao formato violino/baixo/caixa-de-ritmos é todo o universo estético dos Tuxedomoon e quejandos que assoma sem ocultação possível. “Manitu”, entre a mecanicidade, a improvisação jazzy e o delírio barroco, e “Tuareg”, um “show” autónomo da caixa-de-ritmos, remetem para uma obra como “Colorado Suite” de Blaine Reininger com a Mikel Rouse Broken Consort.
“Primeira viagem” e “Ab origine II” preferem o romantismo kitsch de Stevem Brown. Depois é todo o estendal “étnico”, exótico e “world”, em pinceladas poderosas (“Ab origine I”), em estilo de apontamento (“Pinzacucha”) ou nas divagações perfeitamente dispensáveis de um “Phado” das Arábias, onde não faltam sequer os maneirismos vocais de Anabela Duarte. Há um pastiche espanholado de Michael Nyman em “Chuva, vapor e electricidade” e o melhor de tudo que é “Hardgore” que só por si vale todo o disco – uma sucessão de clímaxes explosivos onde se destrói/reconstrói, segundo a segundo, o “free jazz”, o “hardcore” e o classicismo maricas, numa só penada e a grandes pedaladas do violino de Mário Resende e do sax de Paulo Curado. Uma boa estreia a que faltou mais afinada pontaria. (7)

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