pop rock >> quarta-feira >> 26.10.1994
Um Americano Em Bruxelas
Blaine L. Reininger nasceu nos Estados Unidos mas, como todo o americano culto que se preza, ficou fascinado pela Europa, onde vive há mais de uma década, em Bruxelas. Excêntrico e eclético, o ex-violinista e vocalista dos Tuxedomoon regressa agora a Portugal, desta vez em solo absoluto.
Blaine L. Reininger
Dia 27, Teatro S. Luiz, Lisboa, 22h
Dia 28, Casa da Cultura, Coimbra, 22h
Dia 29, Cinema do Terço, Porto, 22h

Originários de S. Francisco, os Tuxedomoon gravaram em 1978 o primeiro álbum, “Half Mute”, na obscura editora Ralph – a mesma que abrigava, então, os Residents e os Yello, entre outros nomes na altura desconhecidos, tornando-se rapidamente numa banda de culto. Com uma formação que sofreu, ao longo dos anos, algumas transformações, os Tuxedomoon tiveram no trio Steven Brown, Blaine L. Reininger e Peter Principle os seus músicos e ideólogos mais influentes. “Half Mute” era um disco tipicamente norte-americano e experimentalista, que aliava a música industrial então em voga a improvisações abstractas e canções que, com alguma boa vontade, se podiam considerar pop.
Após um segundo e excelente álbum, “Desire”, o grupo emigrou em 1981 para a Europa, estabelecendo-se primeiro em Roterdão e, mais tarde, em Bruxelas, facto determinante para o desenvolvimento da sua música, que progressivamente se deixou influenciar pelo classicismo e pelo romantismo do Velho Continente. Álbuns como “Holy Wars”, “You”, “Divine” ou “The Ghost Sonata”, último de originais do grupo (que entretanto terminou) são híbridos onde é possível escutar ainda ecos longínquos da terra do Tio Sam mas que, ao mesmo tempo, enfermam de uma por vezes doentia incaracterização. Talvez fosse de resto, esse o fascínio dos Tuxedomoon, uma música bizarra sem filiação estética nem geográfica fixa, que, na acumulação de desequilíbrios, encontrava o ponto de apoio.
Em paralelo aos Tuxedomoon, os vários elementos da banda desenvolveram projectos a solo. Dos três principais elementos da banda, Peter Principle mostrou ser o mais aventureiro (“Tone Poems”, “Sedimental Journey”) e Steven Brown o mais “cinematográfico” e erudito (“Searching for Contact”, “Zoo Story”, “The Day is Gone”, “Composés pour le Thêatre e le Cinéma”, “La Grâce du Tombeur”). Quanto a Blaine Reininger, dá ideia que os desequilíbrios da banda se transferiram para os seus trabalhos a solo. “Broken Fingers” e “Night Air” são discos que mostram uma sensibilidade nas margens da pop e a influência quase obsessiva de Bowie na voz e na estrutura de grande parte dos temas. A sedução de uma Europa idealizada e romântica e, por outro lado, o fascínio pela ordem e pela tradição dos países do chamado Benelux fazem sentir os seus efeitos, sobretudo no segundo e nos álbuns seguintes, “Paris en Automne” e “Byzantium”. A excepção a esta fixação europeísta é um mini-álbum gravado de parceria com o compositor minimalista norte-americano Mikel Rouse, gravado para o selo Made To Measure – “Colorado Suite” -, no qual Reininger redescobre a sua costela de “cowboy”. No pólo contrário, encontra-se o excesso de classicismo e formalismo de “Instrumentals”, uma obra que reúne peças instrumentais gravadas por Reininger entre 1982 e 1986, e será, apesar de algum pretensiosismo, o seu melhor álbum. Os discos mais recentes, “Book of Hours” e “Songs from the Rain Palace”, não tiveram distribuição portuguesa, pelo que não é possível verificar a evolução recente do músico.
Há ainda uma gravação ao vivo da primeira apresentação do violinista em Lisboa com o seu antigo companheiro nos Tuxedomoon, Steven Brown, e uma colectânea, “Brussels U. S. A.”, apenas significativa pelo título, que é, por si só, uma síntese de toda a orientação musical de Blaine Reininger. Nos três próximos concertos a realizar em Portugal, Reininger apresenta-se a solo, em peças para voz, violino e sintetizadores.


















