Arquivo mensal: Maio 2024

Luétiga – “La Ultima Cajiga” + Urbália Rurana – “A La Banda De Migjorn”

pop rock >> quarta-feira, 06.10.1993





Luétiga
La Ultima Cajiga
Several, distri. MC – Mundo da Canção


Espanha, número um. Região: Cantábria, entre as Astúrias e Navarra. Os Luetiga são cinco, formaram-se em Torrelavega e têm preocupações ecológicas relativas à extinção das matas e bosques das montanhas desta região. Em “La Ultima Cajiga” (“coruja”, na localidade de Liebána( fizeram um levantamente instrumental da música tradicional cantábrica, afastando o preconceito que pretendia reduzí-la aos pífaros e tambores. Viajaram, descobriram e recuperaram a dulçaina, o clarinete, a “gaita”, o violino… “La Ultima Cajiga” é doce e escura. Ao redor de uma fogueira ouve-se o som das folhas que o vento afaga, em “Zorromocu”, e das ondas do mar, murmurando na “Danza de San Roman”. (7)

Urbália Rurana
A La Banda De Migjorn
Tram, distri. Etnia


Espanha, número dois. Os Urbália Rurana estiveram nos “Encontros Musicais da Tradição Europeia” deste ano e foram uma desilusão. O disco – “hélas”! – é magnífico. Nem parece o mesmo grupo com som sofisticado, variedade de reportório e na maneira diversificada de pegar em cada tema e competência instrumental, “A la Banda de Migjorn” vai desde as polifonias vocais de “Cant per la de l’u” e “Al pont de Mirabel” (tradição occitana, fazendo recordar os Perlinpinpin Folc) ao andamento medieval de “Sant Anton ermitá”, com passagem pela sensualidade árabe de “El cavall blanc” e por um tradicional húngaro aprendido com os Kolinda (“Pur de cor”). (8)

Espanha, número três. São vários oso discos de música tradicional espanhola que recentemente invadiram os escaparates nacionais da especialidade. De qualidade variável, para além dos dois exemplos acima criticados, há a destacar “Canciones Toreras Tradicionales d’Espana e América” (Olé!), dos La Bazanca em conjunto com a banda peruana Alturas, num trabalho de reconstituição e recuperação de temas tradicionais ligados ao toreio, e “Cerele de Gal-la”, folia de danças passada em revista pelos Clau de Lluna. À curiosidade de cada um ficam outros nomes disponíveis: Candeal, Leixapren, Aljibe, Jaraiz, El Pajar, Llares, Hato de Foces…

Maggie Reilly – “Midnight Sun”

pop rock >> quarta-feira, 06.10.1993
NOVOS LANÇAMENTOS POP ROCK


Maggie Reilly
Midnight Sun
Mambo, distri. EMI-VC



Uma grande voz pouco vale se não for alimentada por música à altura. Maggie Reilly é dona de uma voz maravilhosa, de timbre ao mesmo tempo puro e caloroso, mas isso não chega para fazer de “Midnight Sun” um bom álbum. Reconhecida como a melhor vocalista que alguma vez acompanhou Mike Oldfield, em sucessão directa de Sally Oldfield, tendo colaborado nos álbuns “QE2”, “Five Miles Out”, “Crisis” e “Discovery”, Maggie Reilly ficou sobretudo ligada a duas canções do guitarrista que fizeram sucesso: “Moonlight shadow” e “To France”. A primeira, sobretudo, parece ter marcado de forma indelével o futuro da cantora que, logo no seu álbum de estreia a solo, “Echoes”, resolveu tirar o máximo partido do filão. “Midnight Sun” remete, logo desde o título, para esse instante de graça. Dá muitas voltinhas de braço dado com as flautadas “new age” e com os teclados de Kristian Schultze, um dos actuais “new agers” de ponta, se é que lhe podemos chamar ssim, distribui muitos beijinhos, amor e ecologia, mas não vai longe. Nunca chega a haver uma verdadeira dinâmica criativa, a preguiça instala-se na repetição de esquemas, a voz, sem dúvida agradável, perde-se em rodriguinhos inconsequentes. Ideal para apreciadores de flores de plástico. (3)

Beverley Craven – “Love Scenes”

pop rock >> quarta-feira, 06.10.1993
NOVOS LANÇAMENTOS POP ROCK


Beverley Craven
Love Scenes
Epic, distri. Sony Music



Vinte valores para a carinha dela. Outros tantos para o que se adivinha do resto que a capa mostra. Beverley Craven canta as suas cenas de amor envergando, segundo reza a foto da frente, um traje e um “look” anos 70, calças em boca de sino, “pullover justo”, mulher fatal com o cérebro a trabalhar. “Love Scenes” resume-se a esta imagem, cuidados extremos na produção, uma bela voz e canções que deslizam pelo ouvido (nem sequer chegam a tocar o coração) sem deixar marca. Vulgar “mainstream” em forma de baladas boas para derreter corações, sem dúvida, mas de chocolate. Ainda assim Beverley aprofunda um pouco e canta como Mathilde Santing, em “Feels like the first time”, molha o pãozinho no leite no resto dos temas e o que sobra de interessante é o sopro repentino de vida tratada pela secção de metais que Lenny Pickett (dos Borneo Horns) arranjou para “Blind Faith” e a versão de homenagem aos Abba, “The winner takes it all”, impulsionada por uma guitarra baixo cantante. Bastante pouco para um disco que recorreu a mão-de-obra de qualidade: Jeff Beck (também requisitado por Kate Bush, no recente “The Red Shoes”), Nana Vasconcelos e os dois Fairport Convention, Simon Nicol e Martin Allock. Além do escocês Billy Jackson, dos Ossian, de quem mal se dá por ele a tocar “tin whistle” em “In those days”. Fiquemo-nos, então, a mirar o ar saudável da menina e a sonhar com o dia em que ela aprenderá a compor canções pelo menos tão atraentes como a sua figura. (5)