“A Arte Total De A(rt) a Z(oyd)” – artigo a propósito de Concerto dos Art Zoyd em Portugal (Lisboa)

Pop Rock

4 de Outubro de 1995

A ARTE TOTAL DE A(RT) A Z(OYD)


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“Nosferatu” e “Faust”, as duas obras-primas do cinema expressionista alemão criadas por Friedrich W. Murnau, respectivamente em 1922 e 1926, vão ser acompanhadas pela música ao vivo do agrupamento francês Art Zoyd. Do cinema de Murnau já se escreveu tudo, ou quase. Dos Art Zoyd, não. Injustamente. Digamos que, para nós, fanáticos incondicionais, é uma das bandas mais obscuras e em contracorrente dos anos 70, a melhor banda do planeta dos anos 80, com tendência para melhorar, nos 90.
Sob vários aspectos, os Art Zoyd são uma banda excessiva, desmesurada na estética e nas intenções, versão wagneriana da música popular deste século. É a partir da segunda metade dos anos 70, isto é, na altura em que a música progressiva entra em agonia e o “punk” inicia a sua operação de limpeza com lixa a broca Black & Decker, que os Art Zoyd emergem como um leviatã. Apadrinhado pelos militantes da editora Recommended, o grupo lidera, juntamente com os Univers Zero, um movimento ao qual se convencionou designar por “rock de câmara”. Ou, como lhe chamou um crítico berlinense, “música de câmara para ‘punks’”.
Captain Beefheart e Frank Zappa (nos primeiros discos), Magma, (banda cuja visão – a de Christian Vander – e prática musicais mais se aproximam das do grupo), Van Der Graaf Generator, Bela Bartok, Wagner, a escola minimalista americana, a “folk” da Europa central, Shakespeare, Friedrich Nietzsche, William Blake e o Apocalipse segundo S. João são alguns pontos de referência que permitem situar o universo multifacetado, pluricultural e interactivo dos Art Zoyd.
A obra discográfica do grupo é indispensável na sua totalidade. Claro que nos dirigimos a quem não considera que a música rock tenha começado com os Nirvana nem que os Blur sejam a melhor banda britânica depois dos Beatles. Em 26 anos de existência (nasceram em 1969), os Art Zoyd gravaram apenas nove álbuns, todos disponíveis em compacto no nosso país, os suficientes para ocuparem um lugar de destaque na música contemporânea deste século: “Musique pour l’Odyssée”, “Génération sans Future”, “Symphonie por le Jour ou Brûleront les Cites”, “Les Espaces Inquiets”, “Phase IV”, “Le Marriage du Ciel et de l’Enfer” (para uma coreografia de Roland Petit), a obra-prima absoluta “Berlin”, “Nosferatu” (composição de Thierry Zaboitzeff e Gérard Hourbette que ouviremos no Auditório Caixa Geral de Depósitos) e “Marathonerre”, em dois volumes, resumo das originais 12 horas “non stop” de ópera electroacústica para os tempos modernos. Em preparação estão “Les Envahisseurs”, de novo em dois volumes, e “Häxan”, banda sonora para um filme sobre “a feitiçaria através dos tempos”.
Os Art Zoyd são Thierry Zaboitzeff (violoncelo, baixo, teclados, percussão, electroacústica, misturas, voz), Gérard Hourbette (viola de arco, teclados, percussão, electroacústica, misturas), Daniel Denis (bateria) e Patricia Dallio (teclados).

ART ZOYD
Dias 7 e 8, Grande Auditório do Edifício-Sede da Caixa Geral de Depósitos, 21h30



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