Arquivo mensal: Fevereiro 2022

Brian Eno – “O Que Faz Falta… – Enovisões”

QUARTA-FEIRA, 7 MARÇO 1990 VIDEODISCOS
Notícias


O que faz falta…

ENOVISÕES


O panorama editorial das vídeo-cassetes musicais é, entre nós, confrangedor. O amante da imagem gravada e da boa música, cujos gostos vão além dos Queen, Pink Floyd, Supertramp ou Phil Collins, pouco ou nada encontrará no mercado que satisfaça as suas apetências estéticas.
Para além de registos de concertos com grupos de “top” ou de coletâneas de “clips” com objetivos exclusivamente promocionais, é a desolação. Da multiplicidade de novas e sofisticadas propostas audiovisuais que vão surgindo por essa Europa fora, nada nos chega e quase ninguém se interessa. Faz imensa falta, por exemplo, conhecer e ter acesso ao trabalho em vídeo de um senhor chamado Brian Eno e muito concretamente às cassetes da sua autoria, “Thursday Afternoon” e “Mistaken Memories”.
As imagens filmadas pelo mestre da “discreet music” chocam com os hábitos e preconceitos das atuais estratégias editoriais. Em vez de montagens ultrafrenéticas, Eno devolve-nos o silêncio e ensina-nos a saber de novo olhar. Nas suas obras, os sons e as imagens fluem com a lentidão da eternidade. À segmentação do tempo, contrapõe a sua distensão até aos limites da quase imobilidade.
A objetiva eleva-se acima dos arranha-céus de Nova Iorque, filmando a passagem das nuvens e da luz que assombram o caos dos níveis inferiores. As imagens e os sons deslizam lentamente. Não contam nenhuma história senão a do nosso filme fantasmático. “Thursday Afternoon” e “Mistaken Memories” provam, de forma radical, que a vídeo-arte permanece aberta a novos códigos.
Registe-se ainda que ambas as cassetes apresentam o formato vertical. A imagem aparece deitada no ecrã, sendo necessário deitar de lado a televisão ou então inclinar lateralmente a cabeça, num ângulo de noventa graus. Tal como Brian Eno, também neste caso a ginástica faz bastante falta.

QUARTA-FEIRA, 7 MARÇO 1990 VIDEODISCOS

Squeeze – “A Round And A Bout”

PÚBLICO >> VIDEODISCOS >> QUARTA-FEIRA, 30 MAIO 1990
Pop


SQUEEZE
A Round And A Bout
LP/MC e CD, EMI – Valentim de Carvalho



A dupla Difford/Tilbrook é responsável por alguns dos melhores momentos da pop descomprometida. Neste disco, gravado ao vivo no Newcastle City Hall e no Hammersmith Odeon, repesca velhos temas de anteriores álbuns e “Hit” “singles” como “Is That Love”, “Up The Junction” ou “Tempted”, com resultados que ficam um pouco aquém das versões de estúdio. Não são mais um solo de guitarra elétrica ou o irritante ruído de gritos histéricos e palmas que substituem com vantagem as subtilezas e o fino humor patenteado em inúmeros trabalhos realizados no interior forrado a botõezinhos das casas de gravação. Claro que para os incondicionais da banda (atenção: as versões em CD e cassete contêm temas extra), isto é conversa fiada, as canções estão lá, que é o que interessa; se mais ou menos reconhecíveis, melhor ou pior tocadas, são questões pouco pertinentes que só podem interessar a esses chatos dos críticos. Enfim, descontando as tais constantes e abomináveis intervenções dos assistentes (que chegam ao desplante de cantar em coro com os músicos!…), o disco não incomoda sobremaneira e, por vezes, consegue até ser divertido.

Peste & Sida – “Peste & Sida Procuram Novo Baterista, Antes De Entrarem Em Estúdio Para Nova Injeção De ‘Veneno'”

pop rock >> quarta-feira >> 11.09.1991


PESTE & SIDA

Peste & Sida procuram novo baterista, antes de entrarem em estúdio para nova injeção de “veneno”



Tudo em aberto para os Peste & Sida, uma das bandas da ala rebelde e provocatória, atualmente em manobras subversivas que atingem o sistema nervoso do rock nacional. De momento, as atuações ao vivo encontram-se, nas palavras de João San Payo, o baixista do grupo, em “stand-by”, já que falta um baterista para preencher a vaga deixada em aberto por Fernando Raposo. Da formação antiga, mantêm-se, além de San Payo, o Luís Varatojo e o Nuno Rafael, ambos guitarristas.
Quanto ao baterista, ainda pouco há de concreto: “Vamos lá ver como é, estão três ou quatro prontos para entrar em audição e nós escolhermos um” – assegura João San Payo que, no entanto, aproveita a nossa deixa para assumir o papel de anunciante: “Se o PÚBLICO quiser, pode divulgar que os Peste & Sida têm uma vaga para baterista. Quem quiser preencher o lugar e se sentir qualificado para tal, pode aparecer”.
Em relação ao novo álbum, o terceiro, depois de “Veneno” e “Portem-se bem”, o início das gravações está prevista para dezembro e a edição, em princípio, para março do próximo ano, dependendo o som da banda de como se vier a estabilizar a nova formação, já com a integração do novo baterista. João San Payo acha, contudo, que “a linha estética vai ser a mesma”. Para ele, o que é mais importante é que os Peste & Sida tentam “fazer sempre melhor”.
Peste & Sida que são, de resto, uma banda nem sempre bem compreendida, provocando, com alguma frequência, reações agressivas e um ou outro desacato nas audiências. A designação que escolheram ajuda à festa. Herdeiros espirituais dos Xutos e Pontapés, os Peste & Sida apreciam sobretudo sentir-se incómodos para as mentes mais enfatuadas, assim como uma praga ou um vírus que vai corroendo lentamente por dentro.
Até agora, injetavam o “Veneno”, via Polygram. Depois, foram “as mudanças todas” ocorridas nessa editora e a saída pela porta pequena, já com o contrato prestes a acabar. “Nem houve uma cartinha, nem um telegrama, nem um telefonema, nada”, lamenta-se, sentido, João San Payo. Agora, já bem instalados na BMG, sentem-se “porreiros” e dispostos a arrancar com o novo álbum, dando deste modo cumprimento ao acordado com o novo selo – três anos na casa, durante os quais terão que gravar dois álbuns. Para os Peste & Sida não há descanso. Para quem os ouve, muito menos.