Arquivo da Categoria: Industrial

Bizarra Locomotiva – “First Crime Then Live”

pop rock >> quarta-feira, 05.04.1995


Bizarra Locomotiva
First Crime Then Live
ED. E DISTRI. SYMBIOSE



Cuidado com eles! Quem se puser á frente, arrisca-se a ser trucidado, porque a Locomotiva não para em nenhuma estação. O novo disco – um trabalho de transição a anteceder um próximo álbum só de originais – tem uma primeira parte, “First Crime”, com cinco temas novos gravados em estúdio e uma segunda onde estão registados outros quatro gravados ao vivo no ano passado no festival Printemps de Bourges. A fórmula é mais subtil no primeiro caso, se é que a brutalidade pode ser subtil. Mas é nos originais que a Bizarra explora novos desenvolvimentos para o “metal electrónico” que os caracteriza e com que surpreenderam no seu disco de estreia. A fórmula é a mesma, assente numa rítmica imparável fabricada pelos “samplers” “industriais” de Armando Teixeira e a batida acústica do baterista António Pito, entretanto substituído por Marco Franco, mas a direcção que o grupo pretende imprimir à sua música parece mais evidente e tematicamente organizada. Sobre esta máquina infernal, a voz de Sidónio Ferreira, feita de gritos, imprecações e entoações guturais – em temas que dissecam até à exaustão a gama completa da dor humana -, funciona como instrumento de tortura adicional de um som que, curiosamente, consegue apelar à dança. A segunda parte se, por um lado, serve para dar uma imagem aproximada do ambiente de loucura que costuma acompanhar as prestações ao vivo da banda (o que não é muito bem conseguido, porque foram praticamente apagados todos os ruídos da assistência), acaba, por outro, por diluir um pouco a concentração de energia conseguida inicialmente. Até porque, nos carris em que se move a Bizarra Locomotiva, a contenção pode ser mais violenta que a força bruta. (6)

Tony Wakeford – “LUZ NEGRA TONY WAKEFORD”

pop rock >> quarta-feira >> 29.03.1995


LUZ NEGRA
TONY WAKEFORD
Gartejo – Abril – Domingo – 2 – 22h30


Tony Wakeford, mentor dos Sol Invictus e representante da corrente obscura / pagã / ritualista que vai escurecendo o mundo com a sua “luz negra”, actua na Gartejo. Antes dos Sol Invictus, Tony Wakeford integrou os Death In June, “folkies” do demónio, banda de culto em Portugal, ao lado de outras como os Current 93 ou os Sixth Comm, adeptas de Crowley, do anticristo e de um misticismo de sinal invertido. Sol Invictus, ou Tony Wakeford, é um projecto que alia a música e filosofia, técnica e religiosidade, beleza e disformidade. Para alguns, esta música poderá ser elevatória. Para outros, uma armadilha. É de certeza ambígua, resultado de uma atitude expressa desde o início no título do primeiro álbum do “grupo”, “Against The Modern World”. Tony Wakeford virá acompanhado de um músico-mistério, sabendo-se apenas que já colaborou com os Sol Invictus.

Vários – “N.A.T.O.” + Vários – “Trans Slovenia Express”

pop rock >> quarta-feira >> 09.11.1994


Auto-Estradas De Informação

N.A.T.O. (6)
Trans Slovenia Express (7)
Mute, distri. BMG



No centro de operações destes dois discos estão os ex-jugoslavos Laibach, acusados de neonazis, totalitaristas e percursores da música industrial. Como vem acontecendo com grande parte dos cultores da serra eléctrica e do martelo pneumático, os Laibach, conscientes que o industrialismo foi chão que já deu pregos, reciclaram-se e foram bare à porta da “techno”.
“N.A.T.O.” é pura “música de martelinhos”, disfarçada pela pose militarista, a versão “kitsch” recontextualizada do costume (neste caso de “Final countdown” dos Europe), a estética construtivista e a grandiosidade wagneriana que caracterizavam “Nova Akropola”, o seu melhor álbum de sempre, ou o esotérico e operático “Krst Pod Triglavom-Baptism”. Um caso típico de acomodamento.
“Trans Slovenia Express” já é outra história. Trata-se de uma compilação de bandas da Eslovénia – antigo território jugoslavo que escapou à loucura da guerra, tornada independente em 1991 -, organizada pelos Laibach e constituída por versões de temas dos Kraftwerk. A questão que se coloca à partida é saber qual a relação existente entre esta banda germânica e aquela região da Europa. No texto impresso na capa do CD, o jornalista musical Biba Kopf, entre outras considerações, encontra “o elemento comum entre os Kraftwerk e a cena pós-punk na Eslovénia” numa “idêntica concepção da música como velocidade e movimento”. Por outro lado Ralf Hütter, dos Kraftwerk, definiu a música do grupo como “som analógico ou digital gerado electronicamente e não notação musical”. Ao contrário dos Balanescu Quartet – que em “Possessed” desafiaram este enunciado, ao decalcarem para naipe de cordas as melodias criadas por meios electrónicos pelo grupo de Düsseldorf -, o naipe de bandas eslovenas aqui reunidas põe em prática precisamente aquelas noções de velocidade e movimento, tornando em alguns casos praticamente irreconhecíveis as melodias originais. O idealismo idílico associado a este território, cuja história e cultura sofreram desde sempre a influência alemã, desaparece num ápice quando se entra nas auto-estradas (“Autobahn”, em alemão) que o ligam aos Alpes ou a Trieste. A analogia destas vias rodoviárias com as auto-estradas digitais de informação surge como evidente, estabelecendo mais um elo com a visão socio-político-profético-musical dos Kraftwerk.
Entre a introdução de “Trans Slovenian Express”, assinada pelos próprios Laibach, e a conclusão, onde os mesmos Laibach aglutinam a sua designação à dos germânicos, transformando-se em Kraftbach, 13 bandas eslovenas recuperam um tema de “Autobahn”, cinco de Radio Activity”, dois de “Trans Europe Express”, quatro de “The Man Machine” e um de “Computer World”. Os registos vão do “electropunk” dos Coptic Rain, em “The robots”, ao “cybermetal” dos Strelnikoff, em “Man Machine” e à “industrial surf music” dos Beitthron”, em “Airwaves”. Vozes femininas conferem uma nova frescura a “Radio Activity”, pelos April Nine, e “Spacelab”, pelos Videosex. Os 300.000 V. K. (presentes no álbum “N.A.T.O.”) tornam assustadora a beleza original de “Kometenmelodie 1”, enquanto os Data Processed Corrupted põem “Transistor” em estado de fusão latente. Se os Random Logic se limitam a alterar os timbres e a velocidade a “Home computer”, os Demolition Group introduzem os delírios de um saxofone em “The model” e os Mitja V. S. seguem uma estratégia idêntica à dos Balanescu Quartet, no recurso aos instrumentos de arco, de molde a transformar “Neonlight” em algo parecido com a música de salão tocada pelos Penguin Café Orchestra. Uma homenagem merecida a um dos grupos mais importantes e influentes do planeta.