Arquivo mensal: Janeiro 2023

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #157 – “Obras-primas avulso”

#157 – “Obras-primas avulso”

OBRAS-PRIMAS AVULSO (apenas um título por cada artista, embora alguns deles, claro, tenham gravado mais do que uma…) segundo uma escolha completamente subjetiva, determinada pela disposição do momento, baseada nos meus gostos pessoais e destinada a provocar alguma polémica e, sobretudo, a intrigar: …ou O REGRESSO DAS LISTAS

AKSAK MABOUL: Un peu de l’Âme des Bandits (1979)
AMON DÜÜL II: Yeti (1970)
AMON TOBIN: Supermodified (2000)
ANTHONY MOORE: Flying doesn’t Help (1979)
ART BEARS: Hopes and Fears (1978)
ART ZOYD: Berlin (1987)
BEACH BOYS (THE): Pet Sounds (1967)
BEATLES (THE): Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967)
BRIAN ENO: Before and After Science (1977)
BYRDS (THE): Younger than Yesterday (1967)
CAN: Future Days (1973)
CAPTAIN BEEFHEART & HIS MAGIC BAND: Trout Mask Replica (1969)
CARAVAN: In the Land of Grey and Pink (1971)
CARLA BLEY – Musique Mecanique (1979)
CHARLES W. VRTACEK – When Heaven comes to Town (1988)
CLUSTER: Zuckerzeit (1974)
DAVID BOWIE: The Man who Sold the World (1970)
EGG: The Polite Force (1970)
FATIMA MIRANDA – Concierto en Canto (1994)
FAUST- Faust (1971)
FRANK ZAPPA: We’re only in it for the Money (1967)
FRED FRITH: Gravity (1980)
GENESIS: The Lamb Lies down on Broadway (1974)
GENTLE GIANT: Acquiring the Taste (1971)
GONG: Radio Gnome Invisible, Part 2: Angel’s Egg (1973)
GRYPHON – Midnight Mushrumps (1974)
HANS-JOACHIM ROEDELIUS – Sinfonia Contempora nº1
HARMONIA: DeLuxe (1975)
HATFIELD AND THE NORTH: Hatfield and the North (1973)
HELDON: Un Rêve sans Conséquence Spéciale (1976)
HENRY COW: The Henry Cow Leg End (1973)
HOLGER CZUKAY: Movies (1979)
HOLLIES (THE): Evolution (1967)
HUGH HOPPER: 1984 (1972)
INCREDIBLE STRING BAND (THE): The Hangman’s Beautiful Daughter (1968)
ISTVAN MARTHA: Támad Aszél (1987)
JIMI HENDRIX: Electric Ladyland (1969)
JOHN MAYALL: Blues from Laurel Canyon (1968)
JOHN ZORN: The Big Gundown (1986)
JON HASSELL: City: Works of Fiction (1990)
KEVIN AYERS: Shooting at the Moon (1971)
KING CRIMSON: Lizard (1970)
KINKS (THE): Something else (1967)
KRAFTWERK: Autobahn (1974)
KREIDLER: Appearance and the Park (1998)
LOU REED: Berlin (1973)
LOVE- Forever Changes (1967)
MAGMA: Magma (1970)
MAGNA CARTA: Seasons (1970)
MARY COUGHLAN: Uncertain Pleasures (1990)
MATCHING MOLE: Little Red Record (1972)
MATHILDE SANTING: Water under the Bridge (1985)
MEIRA ASHER: Spears into Hooks (1999)
MILLENNIUM (THE): Begin (1968)
MOEBIUS, PLANK, NEUMEIER: Zero Set (1983)
MONOCHROME SET (THE): Eligible Bachelors (1982)
MOTOR TOTEMIST GUILD: City of Mirrors (1999)
MOUSE ON MARS: Iaora Tahiti (1995)
MOVING GELATINE PLATES: The World of Genius Hans (1971)
MR. BUNGLE: California (1999)
NEGATIVLAND: Escape from Noise (1987)
NEU!: Neu! (1972)
NICK MASON: Fictitious Sports (1981)
NICO: The Marble Index (1969)
O YUKI CONJUGATE: Into Dark Water (1986)
PAOLO CONTE: 900 (1992)
PENGUIN CAFE ORCHESTRA: Music from the Penguin Café (1976)
PERE UBU: The Modern Dance (1978)
PETER HAMMILL: In Camera (1974)
PINK FLOYD: Atom Heart Mother (1970)
POLLY JEAN HARVEY: Is this Desire? (1998)
RESIDENTS (THE): Not Available (1978)
RICHARD AND LINDA THOMPSON: I Want to See the Bright Lights
ROBERTO MUSCI & GIOVANNI VENOSTA- Water Messages on Desert
ROBERT RICH & BRIAN LUSTMORD: Stalker (1995)
ROBERT WYATT: Rock Bottom (1974)
ROXY MUSIC: For your Pleasure (1973)
SLAPP HAPPY/HENRY COW: Desperate Straights (1975)
SOFT MACHINE (THE): Third (1970)
STACKRIDGE: The Man in the Bowler Hat (1974)
STEVE BERESFORD, DAVID TOOP, JOHN ZORN, TONIE MARSHALL: Deadly Weapons (1986)
STEVE ROACH – The Magnificent Void (1996)
STOOGES (THE): Fun House (1970)
SUICIDE: Suicide (1977)
SUZANNE VEGA: Days of Open Hand (1990)
TALKING HEADS: Fear of Music (1979)
TANGERINE DREAM: Phaedra (1974)
TEARDROP EXPLODES (THE): Wilder (1981)
TERRY RILEY: A Rainbow in Curved Air (1971)
TIM BUCKLEY: Goodbye and Hello (1967)
TOM WAITS: Small Change (1976)
TONE REC: Pholcus (1998)
TO ROCOCO ROT: CD (1996)
TORTOISE- Millions now Living will never Die (1996)
UNITED STATES OF AMERICA (THE): The United States of America (1968)
UNIVERS ZERO: Ceux du Dehors (1980)
5 UU’S: Hunger’s Teeth (1994)
VAN DER GRAAF GENERATOR: Pawn Hearts (1971)
VELVET UNDERGROUND (THE): The Velvet Underground & Nico (1967)
WHITE NOISE: An Electric Storm (1969)
Z N R: Barricade 3 (1977)
ZOMBIES (THE): Odessey & Oracle (1968)

Wim Mertens – “Minimalista Wim Mertens Lança Obra Em Sete CD – A Eternidade Em Cinco Horas”

Secção Cultura Sexta-Feira, 05.04.1991


Minimalista Wim Mertens Lança Obra Em Sete CD
A Eternidade Em Cinco Horas



Minimalista, monárquico, pós-moderno, genial e louco são alguns dos adjectivos aplicáveis ao compositor belga Wim Mertens. Sobretudo os dois últimos, se levarmos em conta o seu mais recente trabalho, “Alle Dinghe”, com mais de cinco horas de duração, só ao alcance dos iniciados.
“Alle Dinghe” cumpre uma promessa antiga. Desde o ano passado, quando o músico, monárquico e tradicionalista convicto (tocou em particular para o rei de Espanha…), actuou a solo no Teatro S. Luiz em Lisboa, que a ideia germinava no seu cérebro fervilhante. Ao ritmo dos passos e das vibrações da serra de Sintra, Wim Mertens discorria, num monólogo interminável, sobre aquela que seria a obra-chave, solução definitiva para os mistérios que a sua música encerra, vitória sobre o tempo, a eternidade, em suma.
Mertens considera-se um enviado dos deuses, portador de uma missão a cumprir – transmitir aos homens a verdade última – dos sons, da melodia e harmonia absolutas, ocultas na estrutura pitagórica do verbo composicional, estrutura já manifestamente evidente, aliás, nos dezassete minutos finais de harpa algébrica, para muitos insuportáveis, de “Educes Me”. Toda a sua obra anterior a “Alle Dinghe” (de que “Vergessen”, “Maximizing The Audience”, “Struggle For Pleasure” ou “After Virtue” constituem fases cruciais) avança por aproximações progressivas a essa essência. Para quem não conhece nem seguiu, passo a passo, nota a nota, esse percurso em direcção ao segredo, torna-se incompreensível, senão mesmo penosa, a audição integral deste trabalho, só comparável, em depuração formal e duração, a “The Well Tempered Piano”, do profeta LaMont Young.

O Tempo Imóvel

Dividida em três núcleos fundamentais, distribuídos por sete (!) discos compactos arrumados em três caixas, Alle Dinghe” (gravado na editora “Les Disques du Crépuscule”, distribuída em Portugal pela Contraverso) dura exactamente cinco horas, cinquenta e cinco minutos, dezassete segundos. “Sources of Sleepness” constitui a matéria dos dois primeiros CDs – “Meinleib ist mude” e “Venerandam” num, “Sub Rosa” e “Le Bref” no outro. “Vita Brevis” estende-se, em sete partes, por mais dois compactos. Finalmente, “Alle Dinghe”, dividido em dez partes, preenche os restantes três.
Para a escuta contínua e integral da obra, torna-se necessário cumprir certos requisitos, a saber: jejum prévio durante os cinco dias (tantos quantas as horas de “Alle Dinghe”) anteriores à audição, depois do qual, no caso de se ter sobrevivido à fominha, se deverá dedicar cinco horas à meditação transcendental, de modo a evitar ao máximo possíveis acessos de impaciência, que, nestas circunstâncias, poderão ser fatais.
“Sources of Sleepness” recupera o formato instrumental dos Soft Veredict. Oito músicos dão corpo a este “perpetuum mobile”, através de uma combinação característica da música de câmara (tuba, clarinete, flauta, violino, violeta, violoncelo e contrabaixo) e de desenvolvimentos melódico-harmónicos que retomam o minimalismo na sua vertente mais radical.
“Vita Brevis” aponta para uma concepção temporal própria do Zen – sucessão cíclica de infinitos instantes, como um filme observado ao fotograma, micro-espirais de fogo desenroladas, ao longo de mais de uma hora, pelo fagote, em solo absoluto de Luc Verdonck, à semelhança do que acontece nas “Instrumental songs” interpretadas, também em solo-absoluto, pelo saxofone soprano de Dirk Descheemaeker, no álbum do mesmo nome.
Os três últimos CDs correspondem ao desfecho em forma de odisseia extática, “Alle Dinghe”, síntese operatória e manifesto teórico das premissas subjacentes à música e concepções existenciais do seu autor – ultrapassagem da linguagem e do pensamento conceptuais, considerados prisões que obstam à pura contemplação da vida e do perpétuo e imprevisível movimento que, por essência, ela é. O “tal-qualismo” de que falavam os mestres Zen, visão das coisas “tal qual são” e não como as pensamos. Cada parte de “Alle Dinghe” recorre a fonemas destituídos de sentido (“zo”, “al”, “ook”, “et”, “tt”, “en”…), para descobrir o vazio que corrói a carne das palavras e ao mesmo tempo apontar o silêncio incomensurável do Todo, do Nada que é o tudo da realidade manifestada.
A música, enfim, liberta de grilhetas do significado. Reduzida a um trio instrumental violino / violoncelo / contrabaixo, a sequência final (e anti-apoteótica) de “Alle Dinghe” derruba todas as concepções, teoria e modos de percepção sonora que a construção fictícia do Ego geralmente implicam. Wim Mertens dá voz e espaço à liberdade anteriormente enunciada por LaMont Young, na vertigem silenciosa do “teatro da música eterna”. Não são diferentes, a Eternidade e o Instante.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #156 – “Lista de Krautrock”

#156 – “Lista de Krautrock”

Como estou sem nada para fazer e tenho saudades das listas, aqui vai uma, com as bandas de krautrock dos anos 70 que conheço melhor, acompanhadas de 1-5 asteriscos, consoante a importâncias das mesmas:

ACHIM REICHEL**** – free rock jazz minimalista extremamente original. Por vezes lembram (ou lembra, AR era o guitarrista) uns Can mais aritméticos…
AGITATION FREE**** – freaks, eletrónica, jam sessions cósmicas, influências árabes
AMON DUUL 2***** – acid jams psicadélicas com todo o peso kraut. Baladas schizo. Eletrónica pedrada e guitarras idem, idem
ANNEXUS QUAM*** – eletrónica janada, colagens absurdas. No 2º álbum: Jazz a la Soft Machine dos álbuns “4” e “5”.
ASH RA TEMPEL**** – Não aprecio por aí além mas foram pioneiros do free rock LSD (gravaram com o papa Timothy Leary). Desbundas infinitas. Klaus Schulze a impor alguma ordem nos synths. Já sozinho, como ASHRA, Manuel Gottsching optou por uma linha Schulziana, mas mais “light” e minimalista.
BETWEEN*** – De Peter Michael Hamel que viria a entrar nas fileiras da música contemporânea, fação mística de Terry Riley. Orientalizante e cósmico.
BRAINSTORM*** – jazz rock inspirado nos Soft Machine e em Frank Zappa.
BRAINTICKET**** – uma das bandas mais alucinadas de todo o krautrock. LSD musical em estado puro. “Cottonwoodhill” é uma ilustração sonora de uma “trip”. Uns Can raivosos.
BROSELMASCHINE** – folkrock planante c/ influências inglesas mas um som tipicamente kraut. Parentes “soft” dos Withuser & Westrupp.
CLUSTER***** – Tão importantes como os Kraftwerk no desenvolvimento da nova eletrónica. Descobriram que os synths podiam ser divertidos. Moebius o conceptualista e maquinal + Roedelius o romântico. Prazer + experimentalismo.
CONRAD SCHNITZLER***** – Um dos percursores da música industrial. Obra extensíssima abrangendo variadíssimos estilos de eletrónica.
CORNUCOPIA**** – Progressivos de grande qualidade, comparáveis aos SECONDHAND ou EGG ingleses. Jazz, eletrónica, rock, humor, com toques da chamada “estética Recommended”.
THE COSMIC JOKERS*** – Supergrupo inventado pelo patrão da Ohr. Discos-montagens feitos a partir de jam sessions de LSD no estúdio. Com elementos dos Ash Ra Tempel, Klaus Schulze, Wallenstein, Withuser & Westrupp…
DOM*** – eletrónica free/planante. Trips estranhas as destes DOM…
DZYAN*** – Jazzrock eletrónico c/influências étnicas.
EDGAR FROESE*** – guitarristas e manipul. de eletrónica dos Tangerine Dream. Dois a´lbuns iniciais pouco diferentes dos TD de “Phaedra” e “Rubycon”. Depois, à semelhança do grupo, foi ficando cada vez mais new age…
Continua nos próximos dias

Continuando:
EMBRYO**** – Jazz e elementos étnicos. Free rock. Improvisações. Arrumar ao lado dos Agitation Free, embora sejam menos “cósmicos”.
EMTIDI*** – Mais folk planante na linha dos Broselmaschine. Elementos “floydianos” e românticos.
FAUST***** – O grande delírio germânico. Colagens alucinadas, free rock, poesia fonética, romantismo, música concreta, paisagens alienígenas. Rutura absoluta com o tempo e os gostos da época. Ressuscitaram para se tornar “industriais”…
FRUMPY* – Hard rock sinfónico, cheio de solos de órgão e guitarra. Com alguma piada…
GILA*** – Inspirados pelos Pink Floyd psicadélicos. Guitarras em eletrónica e viagens não muito afastadas do rock.
GILLE LETTMANN** – a “musa das estrelas” da pandilha da Ohr. Cosmic Jokers + declamação de poemas elegíacos a Timothy Leary…
GROBSCHNITT** – triipy rock com toques Genesianos. Mais interessantes são alguns trabalhos a solo de Joachim H. Ehrig (Eroc).
GURU GURU**** – free rock puro e duro. Serração de guitarras elétricas Hendrixianas. Eletrónica parasitária. Anarquia. Energia.
HANS-JOACHIM ROEDELIUS*** – 1/2 dos Cluster. Romântico, pianístico, Satieano, new age. Mas também, noutras ocasiões, experimental e eletrónicoconceptualista.
HARMONIA***** – Cluster + Neu. Motorika em estado de graça. Eletroplanâncias, ambientalismo palaciano (?), Planetas de som inexplorados. Protopunk cósmico. Vrrrrrummmmmm….
HOLDERLIN*** – Como os Emtidi, mas mais estruturados. Toques de folk excêntrica. Instrumentação clássica misturada com eletrónica. Bizarros.
HOLGER CZUKAY***** – Pai das colagens. Dub, eletrónica, rock, transe, emissões rádio fantasma. Pôs o papa a cantar. Sem samplers…
IRMIN SCHMIDT*** – Teclista dos Can. Música de filmes. Soa bastante melhor quando soa aos Can…
KLAUS SCHULZE***** – Uma longa drone cósmica prolongada por 457 álbuns…
KLUSTER*** – Os Cluster, com “K” e Conrad Schnitzler. Ruídos de fábrica que os Cluster viriam a depurar em obras-primas protoindustriais.
KRAFTWERK***** – Fundaram os alicerces da música de dança electro. Sem eles o presente futurista nunca teria existido. “Autobahn” é um dos 10 melhores álbuns eletrónicos de sempre.
LA DUSSELDORF*** – Uma parte dos Neu! Motorika e romantismo alpino. New wave eletrizante.
MICHAEL ROTHER**** – Dos Neu! e Harmonia. Inventor do “easy listening krautrock”. Melodias eternas remodeladas até ao infinito. Eletrónica e guitarras de cristal.
MOEBIUS (DIETER)***** – O homem das máquinas. Música matemática, inovadora, rituais fabris. A electro atual alemã deve-lhe (quase) tudo.
MYTHOS** – Eletrónica mística “apadrinhada” por Von Braun.
NEU!***** – Os punks da era espacial. Motorika. Johnny Rotten cita-os como responsáveis por tudo o que os Sex Pistols fizeram. Também têm um lado de romantismo planante ambiental.
Continua

2000 . Lista de Krautrock by luisje on Scribd