pop rock >> quarta-feira >> 06.07.1994
J. J. Cale
Closer To You
Virgin, distri. EMI – VC
Os lobos velhos não morrem. Apuram o faro e a atenção, tornam-se mais discretos e eficazes na caça. J. J. Cale, 55 anos, “Poor Lonesome cowboy” eternamente em deambulação pelas longas planícies norte-americanas, saiu da sombra com um novo álbum de sabor a frutos e quente como o deserto. É o balanço, a descontracção apaixonada, a viagem numa Harley Davidson até às fronteiras de um “swing” carnudo e palpável. “Closer to you” começa de forma fabulosa, com uma série de “mantra tunes”, como o seu autor lhes chama, que lembram os metrónomos de carne dos Can (como em “Slower baby”, o melhor tema do disco, com um vibrafone-navio a navegar até ao fim de todos os verões), que alguém suavizou de modo a entrarem em sintonia com a lassidão doce dos Dire Straits. Navegando por águas moderadamente agitadas, onde se avistam, ao longe, Neil Young e os Z. Z. Top, a música de J. J. Cale nunca se impõe, preferindo seduzir como uma amante de noites estreladas de areia. A preferência pelo acústico e pela captação espontânea em detrimento de arranjos supersofisticados não obsta a que, em várias canções, J. J. Cale se safe da melhor maneira apenas com a sua guitarra e uns poucos aparelhos electrónicos: um Digitech (antigamente, era o Vocoder) a diluir a voz em “Closer to you”, um velhinho sintetizador Kurtzweil como instrumento de composição em “Hard love”, uma caixa de ritmos entorpecida pelo calor em “Brown dirt”. É verdade que, a partir de certa altura, se perde um pouco o balanço e as canções se deixam confortavelmente cair num tom “sultans of swing” de audição agradável mas menos convicta a arrastar a atenção. Mas nunca desaparece aquela sensação de embalo, de flutuarmos à deriva num bote sob um céu de algodão. “Down by the river”, como cantava Brian Eno. Antes e depois da ciência. (7)