Pop Rock
15 de Maio de 1996
poprock
Ninerain
Ninerain
OPCION SONICA, DISTRI. SYMBIOSE

Para quem já se roía de saudades dos defuntos Tuxedomoon, estes Ninerain podem ser o melhor bálsamo para curar as feridas da separação. É que o manda-chuva do projecto é nem mais nem menos do que Steven Brown, saxofonista e teclista daquele grupo americano, que aqui se juntou a um colectivo de músicos mexicanos. “Ninerain” soa como um desvio bizarre e transbordante de exotismo dos Tuxedo, embalado numa capa ritual-alucinatória ao estilo de Jorge Reyes, ao volante, afinal, do mesmo veículo em que seguiam Blaine Reininger, Peter Principle ou Winston Tong, em eterna excursão por um planeta desesperadamente em busca do sagrado. Os “samplers”, os saxofones, as percussões carnavalescas dos músicos mexicanos, são instrumentos de uma visão em que não cabem nem o folclore nem a redundância, mas em que também não se vislumbra uma unidade de propósitos. Era assim nos Tuxedomoon, continua a ser nos Ninerain. Uma errância de símbolos e de cores, a corrupção dos grandes espaços por um olhar intoxicado pela decadência urbana, um realismo fantástico depauperado pelo cansaço e pelo desencanto, como o que habita o cinema de Wim Wenders. Projecto curioso, situado à margem do “mainstream”, mas não muito, “Ninerain” pela voz de Steven Brown, pastosa, doente, saturada de literatura e de recordações mortas. O México dos Ninerain não fica longe de São Francisco. O ectoplasma brilha ainda sobre as ruínas dos Tuxedomoon. (6)