pop rock >> quarta-feira >> 19.01.1994
Bagad Kemperle
Kejadenn
Silex, distri. Etnia
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As bagads podem ser consideradas o equivalente bretão das bandas militares escocesas. Constituídas por uma secção de gaitas-de-foles (“biniou-koz2) e outra de bombardas, que dialogam quase ininterruptamente entre si (só aos tocadores de bombarda, instrumento que exige uma enorme “endurance” da parte do músico, são concedidos momentos de descanso), apoiadas numa terceira secção, de tambores, as bagads impressionam sobretudo pela força do colectivo. Diz quem ouviu e viu que chega a ser quase aterrador assistir a um dos muitos concursos de bagads que regularmente se realizam na Bretanha, quando não um mas vários destes agrupamentos encetam autênticas batalhas de som, com centenas de gaitas-de-foles, bombardas e percussões tonitruantes a ribombarem um uníssono.
“Kejadenn” é um disco que se propõe mostrar novos caminhos para as bagads. Juntamente com a formação tradicional da Bagad Kemperle, com direcção musical de Patrick Tanguy, 13 gaiteiros (solista principal, Serge Dayou), 16 bombardeiros, chamemos-lhe assim (solista principal, em bombarda tenor, Jean-Pierre Moing) e 11 percussionistas, convidaram-se músicos solistas, com bateria, guitarra eléctrica, acordeão, saxofone, clarinete, uma voz feminina e, como principal interlocutor, Michel Godard, na tuba e serpentão.
Os temas, na sua maioria compostos por Patrick Tanguy, alternam entre o que é habitual esperar de uma bagad e a intromissão de elementos alienígenos: solos de sax e clarinete, o canto entre o operático e o declamatório de Linda Bsiri, os acentos rítmicos “jazzy” da bateria. Num dos vários temas absolutamente alheios à estética das bagads, “Doucement les basses”, os baixos da tuba divagam em liberdade. Da homenagem à Galiza, em “Galicienne”, à ironia de uma “Bomb-hard”, “Kejadenn” deixa-se deslumbrar, por vezes com alguma falta de controlo, pela revelação súbita de mundos que nenhuma bagad, até há pouco, julgaria poderem vir a pertencer aos seus domínios. Uma pedrada no charco numa área tida até agora como das mais conservadoras. (7)