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Conjunto António Mafra – “‘O Melhor Dos Melhores, vol. 48’ + ”Não Pára””

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


CONJUNTO ANTÓNIO MAFRA

O Melhor Dos Melhores, vol. 48 (5)
Movieplay
“Não Pára” (4)
Pôr do Som, distri. BMG



“Eram para aí sete e picos, oito e coisa, nove e tal…” Quem nunca trauteou tais horas incertas, sabendo ou não quem são os sues autores? O Conjunto António Mafra é uma espécie de lenda. Reis do “kitsch” popular e de um humor, ao contrário do de Quim Barreiros, com pouco ou nenhum picante, o seu reinado dura há 35 anos, sobrevivendo à morte do seu fundador e mentor, António Mafra. O Conjunto António Mafra nasceu no Porto, junto aos Clérigos num pequeno local chamado “Cantinho da Rambóia”, na noite de S. João.
Seis Mafras, uma família que se entregou às noitadas e aos sons populares polvilhados de graça, das chulas, marchas e viras que contavam o “Baile da Dona Ester” e iam beber o “Vinho da Clarinha”. Os dois discos agora editados marcam o regresso dos Mafras, para “abanar o capacete” em plena “era digital dos compact-disc e do software”, como eles dizem.
A estratégia é semelhante ao do também recém-regressado Vítor Gomes: capitalizar no passado e procurar acertar o passo com a onda de revivalismo do “popularucho” que grassa actualmente em Portugal. Os Sitiados, por exemplo, incluem no seu reportório “O carteiro”. “O Melhor dos Melhores” é uma compilação de interpretações originais de êxitos como “Sete e pico”, “Ó Zé olha o balão” ou “Arrebita, arrebita, arrebita”. Ingénuas e com aquele toque de humor atravessado de nostalgia que caracterizava Max, com quem a música dos Mafras tinha e tem parecenças.
“Não Pára” é também uma colectânea (seis temas repetem-se nos dois discos) mas com a particularidade de ser gravada já este ano pela actual formação do grupo. As diferenças não são muitas, mas nota-se uma atitude de maior profissionalismo, presente nomeadamente no cuidado com que são tratadas as harmonias vocais que eram um dos pontos fortes do grupo, a par das vozes de “falsetto” e imitação que entravam de surpresa, a servir de contraponto humorístico, um pouco à maneira dos jograis, técnica que, por exemplo, Sérgio Godinho, noutro contexto, utiliza em algumas das suas canções.
As percussões aparecem por seu lado mais marcadas, o que acentua o carácter folclórico dos temas mas tem o inconveniente de os tornar mais pesados e lhes retira alguma da frescura original. Mas é impossível não sentir alguma simpatia por esta música que procura sacudir a poeira das recordações e surge como um quadro vivo de um tempo que a memória enterrou.

Carlos Martins – “Dia 6 – Casa De Serralves – Porto – Carlos Martins Embala No Ritmo”

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


Dia 6
CASA DE SERRALVES
Porto
Carlos Martins Embala No Ritmo



Carlos Martins, 32 anos, saxofonista, músico de jazz. Poucos anos atrás, seria impossível para ele, como para outros músicos de jazz da sua geração, fazer carreira em Portugal. Hoje o panorama mudou, ou parece que mudou, e Carlos Martins não tem mãos a medir. O seu novo projecto é um sexteto e a estreia aconteceu no passado dia 29 no café Luso, “com uma recepção fantástica”, diz o saxofonista e líder do grupo, cuja música “não é só é para se ficar a ouvir”: “muito baseada em coisas rítmicas e estruturas harmónicas não muito complicadas”. Um caminho construído com temas originais “abertos, por um lado, a influências orientais, no ambiente ou nos compassos de cinco por quatro e, por outro, a influências do jazz mais ligadas ao ritmo africano”. A próxima oportunidade para quantos quiserem entrar na onda rítmica de Carlos Martins está marcada já para o próximo sábado no Festival de Serralves.
Os músicos que formam o actual sexteto de Carlos Martins são, além do próprio, no saxofone, autor das composições e dos arranjos, João Ferreira, nas percussões, Alexandre Frazão, bateria, Bernardo Moreira, contrabaixo, Mário Delgado, guitarra e Claus Nymark, trombone, instrumento cuja presença se faz sentir bastante nos arranjos, “com a sua pujança, o seu ‘punch’ nos ataques”. Espaço para os solistas discorrerem é algo de fundamental no grupo que funciona como “um pedal onde os músicos podem desenvolver os seus discursos. Cada instrumentista tem um, dois temas por concerto onde toca com maior liberdade”.
A médio prazo, o sexteto de Carlos Martins irá editar o seu primeiro compacto. A primeira parte será gravada já a partir do próximo dia 8, estando a segunda agendada lá mais para diante com a presença do convidado Bernardo Sassetti, companheiro de armas de Carlos Martins de longa data.
Carlos Martins assume por inteiro este seu novo projecto, procurando garantir a sua viabilidade comercial, do mesmo modo que assume a sua posição de líder: “Não se é líder impondo-se, é-se líder porque se lidera mesmo, naturalmente.” Um papel que gosta de desempenhar e que passa pela “escolha dos timbres, dos acordes” e o ouvido treinado “para se poder optar”. “Liderar é um processo muito simples”, conclui, mas que implica “uma atitude de respeito para com os músicos e vice-versa”.
Depois de Serralves, em Setembro, Carlos Martins apresentará na Festa do Avante” outro seu trabalho, com arranjos sobre temas de José Afonso, de genérico “Tocar (no) Zeca”.

Vários – “Quinta Da Atalaia Recebe 18ª Edição – Festa Do ‘Avante!’ Mais Verde”

cultura >> quarta-feira >> 27.07.1994


Quinta Da Atalaia Recebe 18ª Edição
Festa Do “Avante!” Mais Verde


A FESTA do “Avante!”, na sua 18ª edição, nos próximos dias 2, 3 e 4 de Setembro na Atalaia, Seixal, está mais verde e relvada do que nunca. Esta é, de resto, conforme foi declarado em conferência de imprensa realizada ontem na Quinta da Atalaia, uma das principais preocupações da organização: acabar com a poeirada. Outro dos problemas que tem afectado anteriores edições é o barulho proveniente do palco principal que prejudica a audição de música noutros locais. A solução encontrada, posta de parte a hipótese de voltar o Palco 25 de Abril ao contrário, foi a insonorização de vários pontos do recinto, de forma a impedir a propagação sonora disparada pelo PA, com uma potência nunca inferior a 85 mil watts.
Palco 25 de Abril por onde passarão as atracções principais da festa: Johnny Clegg com os Savuka, da África do Sul, os norte-americanos Hollmes Brothers, estrelas da editora Real World, a superbanda folk inglesa Band of Hope, com Roy Bailey, John Kirkpatrick, Martin Carthy e Dave Swarbrick, e o Guajira Habanera, de Cuba. Maria Alice, cantora de mornas cabo-verdiana, e o saxofonista brasileiro Geová Nascimento representam os PALOP, sendo a delegação portuguesa formada por Carlos do Carmo, UHF – dois regressos -, Sétima Legião com os Gaiteiros de Lisboa, Ala dos Namorados, Peste & Sida, Jorge Palma com Flak, João C. Bom, um grupo de guitarras de antigos estudantes de Coimbra e o projecto “Tocar (no) Zeca”, do saxofonista Carlos Martins, sobre canções de José Afonso. A par dos habituais “stands” nacionais e internacionais, desporto, teatro e gastronomia, estão previstas uma exposição documental, “Sementes de Abril – Os Prelos da Liberdade”, e outra, de artes plásticas, de genérico “Que Viva Abril”, onde estarão representados 44 artistas, portugueses e estrangeiros, ambas no âmbito das comemorações dos 20 anos do 25 de Abril. Cuba será objecto de especial atenção, com a realização de vários debates sobre o mais recente bloqueio económico, além de uma campanha de solidariedade com o objectivo de angariar fundos destinados à aquisição de matérias-primas para o fabrico de medicamentos nos laboratórios cubanos.
Postas de parte estão, garante a organização, quaisquer iniciativas que visem o aproveitamento político da nova portagem, anunciada publicamente no passado domingo, na ponte sobre o Tejo, ponto de acesso privilegiado `Festa do “Avante!”. Mesmo assim, o PCP classificou o anúncio do Governo como um “recuo coxo”, ao mesmo tempo que manifestou o seu “total desacordo” com a nova taxa de solidariedade com os protestos dos utentes.