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Paolo Conte – “Tournée”

pop rock >> quarta-feira >> 12.01.1994


Paolo Conte
Tournée
CGD, distri. Warner Music



Senhoras e senhoras, percam a vergonha, a sisudez e os preconceitos e ouçam para nunca mais parar a música de Paolo Conte. O inconfundível, incomparável e inclassificável Paolo Conte, o decadente, o trágico, o da voz tão rouca como o bagaço ou tão terna como um licor. O das varandas e ressacas ao nascer do Sol, dos sonhos de Hollywood sonhados numa viela sórdida abraçados a uma prostituta. “Tournée” apanha o cantor e compositor em grande forma, ao vivo em várias salas durante uma digressão pela Europa realizada entre 1991 e 1993. Estão aqui todas as marcas do seu génio, impressas nas vocalizações de “crooner” que canta em italiano, inglês e francês um mundo com a trama dramática de um filme de Fellini, nos arranjos para “big band” onde as memórias de Benny Goodman e Duke Ellington se cruzam com a cançoneta italiana, os blues, o “boogie woogie” ou simplesmente as canções de amor etilizado que de tão trôpegas inventam para si próprias um estilo inteiramente novo. Com a música de Paolo Conte só há duas hipóteses: ou não se conhece ou, conhecendo-se, fica-se para sempre preso ao seu fascínio. Tocante. (8)

Paolo Conte – “La Dulce Vita” (conceros | televisão)

20.04.1991
Sábado, Local, Televisão


“La Dulce Vita”



Adivinha-se Paolo Conte no cruzamento de Nova Orleães, Hollywood e um pátio italiano, sentado ao piano, semblante sorridente de “matador”, a ponta do bigode grisalho ligeiramente húmida de vinho.
Quando canta “La vera musica” numa voz rouca de tenor, as luzes baixam e o fumo de cigarros matiza de sonhos desfocados o veludo vermelho por trás do palco vazio. Noites de álcool. Bailes de anos passados na varanda do casino frente á praia. Amigos e amantes de quem já não se recorda o nome. Uma taça de champanhe erguida, de madrugada, à saúde de todos e ninguém, numa esplanada de Inverno à beira-mar. A doce vida.
Conforme a disposição, Paolo Conte canta os “blues”, cançonetas populares de faca e alguidar ou “pastiches” de Frank Sinatra, ao sabor ritmado dos copos, tangos e “passe dobles” vibrantes de “swing” – só, defronte de um piano que “andou a beber”, tal qual o de Tom Waits, ou em equilíbrio precário sobre orquestrações nascidas do casamento de Nino Rotta com Carla Bley.
“Hemingway”, “Dancing”, “Blue Haways”, “Boogie”, “Un Gelato al limon”, “La vera musica”, “Chi siamo noi” ou “Diavolo Rosso” são algumas das maravilhas incluídas no duplo álbum colectânea “I Primi Tempi” e a melhor maneira de aceder ao universo surreal do cantor. Para seguir viagem, sugere-se a audição de “Paolo Conte”, “Paris Milonga” ou “Appunti di Viaggio”, recentemente editados em CD. Sobram razões para assistir esta noite ao espectáculo de Paolo Conte, ao vivo na cidade suiça de Locarno.
Canal 2, às 00h30

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #122 – “Bobby Hutcherson e Jackie McLean (Pedro_M)”

#122 – “Bobby Hutcherson e Jackie McLean (Pedro_M)”

Fernando Magalhães
30.06.2002 030353
O PAOLO CONTE é um génio e um “cromo” – uma das figuras emblemáticas da música popular italiana.

Já na casa dos sessenta e muitos, setenta anos, continua a surpreender: Imagina um crooner, por vezes com um registo vocal semelhante ao Tom Waits, a cantar em italiano, francês, inglês ou alemão, conforme lhe dá na cabeça, canções (algumas delas inacreditáveis – logo verás porquê… 🙂 ), num registo ora do mais puro jazz, ora de cançoneta, ora num tom Hollywoodesco decadente. Acompanhando-se ao piano (amiúde “bêbedo”, também como o de Tom Waits…), por uma “big band” à maneira ou por um kazoo!

Milongas, tangos, standards, blues marados, scat vocal, swing, sempre num registo de excentricidade inigualável.

A questão está em que, a par da “personalidade” (única), o tipo é mesmo um compositor fabuloso.

Experimenta ouvir o álbum “900”, por exemplo. É como entrar num mundo que julgávamos já não existir…Algo Felliniano, por sinal, na minha opinião…