POP ROCK
20 de Novembro de 1996
portugueses
Dulce Pontes
Caminhos
ED. E DISTRI. MOVIEPLAY
Tantos caminhos para uma só voz. Dulce Pontes escolheu partir em direcção ao desconhecido, arriscando expor-se onde outros considerariam a hipótese de consolidação de um estilo. O estilo de Dulce Pontes é cantar, simplesmente. Se em “Lágrimas”, o álbum anterior, acolhia e traduzia os mundos antagónicos de José Afonso e Amália Rodrigues, neste seu novo trabalho as referências diversificaram-se num leque que pretende mostrar a essência de uma world music em português, na confluência do fado, do folclore e da música popular de autor. World music porque a produção aponta inequivocamente para um som internacional, não diremos a pensar só na exportação, mas com toda a probabilidade, atenta a ouvidos que a maior agressividade do mercado português além-fronteiras despertou.
“Caminhos” é essa vontade de explorar sonoridades e atitudes que vão da vocalização de “Verdes anos”, ao fado tradicional de “Fado português” e “Gaivota” e à Galiza, em “Lela”, o tal tema com produção “irlandesa” de Paddy Moloney e um dos que conta com o talento instrumental do prodigioso Carlos Nuñez. Que vão do enquadramento orquestral ao naturalismo “a capella” de “Senhora do Almortão” para encontrarem um novo equilíbrio na interpretação de duas canções saídas do universo pessoalíssimo do açoriano Zeca Medeiros, uma das quais, “Cantiga da terra”, temos como um dos expoentes, na matéria e no espírito, do que chamamos “nova tradição portuguesa”. Mas também há fado-tango, passagens pelo Alentejo e por Cabo Verde e José Afonso, de novo revisitado, em “Catedral de Lisboa”. Caminhos que, numa futura etapa, poderão levar Dulce Pontes a uma encruzilhada. (7)