Arquivo da Categoria: Colectânea

Cream – “The Very Best Of Cream”

pop rock >> quarta-feira >> 08.03.1995


Cream
The Very Best Of Cream
POLYDOR, DISTRI. POLYGRAM



Máximo bom gosto na apresentação de uma das bandas da frente dos anos 60, das primeiras que verdadeiramente puderam reivindicar o epíteto de “supergrupo”.
A presente colectânea começa por mostrar a vertente mais pop, sobretudo de “Fresh Cream”. Seriam contudo os dois álbuns seguintes, “Disraeli Gears” e “Wheels of Fire” – aqueles em que o psicadelismo se alia a uma rítmica ao mesmo tempo implacável e swingante, pioneira do hard rock -, os que tornaram os Cream num dos grupos importantes da época. Destes álbuns foram incluídos clássicos como “Sunshine of your love”, um dos hinos do “flower power” e “White room”, concluindo a colectânea com o “single” “Anyone for tennis” e “Badge”, um tema do derradeiro álbum contendo gravações em estúdio, “Goodbye”. (8)

Vários – “FADO CONTRA FADO – ainda os problemas de Lisboa 94” (polémica)

pop rock >> quarta-feira >> 25.01.1995


FADO CONTRA FADO
ainda os problemas de Lisboa 94





O FADO OCUPOU UM LUGAR DE DESTAQUE nas actividades de Lisboa-94, através da realização de inúmeros concertos, bem como da edição discográfica de material de arquivo importante. Um dos projectos, talvez mesmo o mais importante, era a edição de um álbum de genérico “As Músicas do Fado”, reunindo 24 interpretações consideradas as mais significativas nas várias modalidades deste género musical: fado menor, fado corrido, fado Mouraria e fado alexandrino.
A compilação, elaborada por Ruben Carvalho, de Lisboa-94, deparou-se porém com problemas de vária ordem que até agora impossibilitaram o lançamento do disco. Em vez dele, acabou por ser editado, com o mesmo título, “As Músicas do Fado”, um livro da autoria de Ruben Carvalho, inicialmente previsto para ser o “booklet” do disco, mas que finalmente foi dado à estampa na forma de uma obra autónoma, aumentada entretanto com novo material informativo.
Na base das dificuldades surgidas estão razões contratuais. É que, dos 24 fados selecionados, segundo um critério que visou apenas a qualidade e representatividade dos mesmos, a maioria pertence ao catálogo da Valentim de Carvalho, enquanto os restantes pertencem ao grupo Movieplay, de José Serafim. Colocava-se a questão de saber qual a editora onde seria lançado o disco. À primeira vista, a Valentim seria a hipótese mais lógica, dado que a maior parte do material lhe pertence, havendo contudo a necessidade de negociar a inclusão das outras faixas. Acontece que, segundo fonte ligada à organização de Lisboa-94, a Valentim de Carvalho teria em curso um processo movido contra José Serafim, não fazendo sentido, para aquela editora, negociar por um lado e processar por outro. Optou-se então por fazer uma espécie de edição de autor, pela própria organização de Lisboa-94. Nada feito. Desta vez foi José Serafim a inviabilizar o processo.
Contactado pelo PÚBLICO, este explica o sucedido: “O Ruben de Carvalho [elemento de Lisboa-94] procurou-me em meados do ano passado para fazermos esse célebre disco em colaboração com a EMI-Valentim de Carvalho. Nem sequer discuti as condições, aceitei tacitamente, com uma única condição: que os discos fossem fabricados em Portugal. Evidentemente, como não há outra fábrica, teriam que ser fabricados na Sonovis [de José Serafim]. Não admito que um disco com artistas portugueses, dedicado a Lisboa, capital da cultura, seja fabricado no estrangeiro. Então se nós temos 85 empregados na fábrica, para alguma coisa eles lá estão.”
Segundo o proprietário da Movieplay, foi-lhe feita uma “proposta por escrito, entregue em mão”, pelo próprio Ruben de Carvalho. Diz José Serafim: “Aceitei as condições, disse-lhe que tínhamos lá julgo que uns dez ou onze títulos, sugeria até a modificação de um título, já que eles estavam a pôr o ‘Fado em cicno estilos’, cantado por intérpretes de três gerações, o Vicente da Câmara, o Nuno da Câmara Pereira e creio que o José da Câmara, quando nós tínhamos em nossa posse o original, de Maria Teresa de Noronha. De resto, nem sequer discuti a distribuição, que seria feita pela EMI.”
José Serafim garante que Ruben de Carvalho “concordou com a condição imposta”. E especifica: “Inclusive, a Sonovis mandou cotações com os preços de fabrico, isto lá para Maio, Junho, do ano passado, por aí. Depois ele contactou-me do dia 10 de Outubro, fez-me um telefonema para falar sobre o porojecto. Na altura eu estava fora. Ficou de me voltar a telefonar. Nunca mais ligou nem nunca mais falou comigo. Ainda fiz dois ou três telefonemas, aos quais não obtive resposta. Entretanto saiu uma ‘Biografia do Fado’, na Valentim, e eu não quero fazer sequer suposições de que isto tenha sido preparado, se o disco de Lisboa-94 não iria afectar o das ‘Músicas do Fado’… Até porque Lisboa-94 terminou no mês de Dezembro, penso que não houve vontade da parte dele (Ruben de Carvalho) para que este projecto fosse para a frente.”
Quanto ao alegado processo movido pela EMI-Valentim de Carvalho contra si, José Serafim desmente. “Que processo? Nenhum! Nós temos relações com a EMI, curiosamente até devemos ser o seu segundo melhor cliente. No ano passado comprámos à EMI cerca de 250 mil contos de discos. E pagámos.

Vários – “N.A.T.O.” + Vários – “Trans Slovenia Express”

pop rock >> quarta-feira >> 09.11.1994


Auto-Estradas De Informação

N.A.T.O. (6)
Trans Slovenia Express (7)
Mute, distri. BMG



No centro de operações destes dois discos estão os ex-jugoslavos Laibach, acusados de neonazis, totalitaristas e percursores da música industrial. Como vem acontecendo com grande parte dos cultores da serra eléctrica e do martelo pneumático, os Laibach, conscientes que o industrialismo foi chão que já deu pregos, reciclaram-se e foram bare à porta da “techno”.
“N.A.T.O.” é pura “música de martelinhos”, disfarçada pela pose militarista, a versão “kitsch” recontextualizada do costume (neste caso de “Final countdown” dos Europe), a estética construtivista e a grandiosidade wagneriana que caracterizavam “Nova Akropola”, o seu melhor álbum de sempre, ou o esotérico e operático “Krst Pod Triglavom-Baptism”. Um caso típico de acomodamento.
“Trans Slovenia Express” já é outra história. Trata-se de uma compilação de bandas da Eslovénia – antigo território jugoslavo que escapou à loucura da guerra, tornada independente em 1991 -, organizada pelos Laibach e constituída por versões de temas dos Kraftwerk. A questão que se coloca à partida é saber qual a relação existente entre esta banda germânica e aquela região da Europa. No texto impresso na capa do CD, o jornalista musical Biba Kopf, entre outras considerações, encontra “o elemento comum entre os Kraftwerk e a cena pós-punk na Eslovénia” numa “idêntica concepção da música como velocidade e movimento”. Por outro lado Ralf Hütter, dos Kraftwerk, definiu a música do grupo como “som analógico ou digital gerado electronicamente e não notação musical”. Ao contrário dos Balanescu Quartet – que em “Possessed” desafiaram este enunciado, ao decalcarem para naipe de cordas as melodias criadas por meios electrónicos pelo grupo de Düsseldorf -, o naipe de bandas eslovenas aqui reunidas põe em prática precisamente aquelas noções de velocidade e movimento, tornando em alguns casos praticamente irreconhecíveis as melodias originais. O idealismo idílico associado a este território, cuja história e cultura sofreram desde sempre a influência alemã, desaparece num ápice quando se entra nas auto-estradas (“Autobahn”, em alemão) que o ligam aos Alpes ou a Trieste. A analogia destas vias rodoviárias com as auto-estradas digitais de informação surge como evidente, estabelecendo mais um elo com a visão socio-político-profético-musical dos Kraftwerk.
Entre a introdução de “Trans Slovenian Express”, assinada pelos próprios Laibach, e a conclusão, onde os mesmos Laibach aglutinam a sua designação à dos germânicos, transformando-se em Kraftbach, 13 bandas eslovenas recuperam um tema de “Autobahn”, cinco de Radio Activity”, dois de “Trans Europe Express”, quatro de “The Man Machine” e um de “Computer World”. Os registos vão do “electropunk” dos Coptic Rain, em “The robots”, ao “cybermetal” dos Strelnikoff, em “Man Machine” e à “industrial surf music” dos Beitthron”, em “Airwaves”. Vozes femininas conferem uma nova frescura a “Radio Activity”, pelos April Nine, e “Spacelab”, pelos Videosex. Os 300.000 V. K. (presentes no álbum “N.A.T.O.”) tornam assustadora a beleza original de “Kometenmelodie 1”, enquanto os Data Processed Corrupted põem “Transistor” em estado de fusão latente. Se os Random Logic se limitam a alterar os timbres e a velocidade a “Home computer”, os Demolition Group introduzem os delírios de um saxofone em “The model” e os Mitja V. S. seguem uma estratégia idêntica à dos Balanescu Quartet, no recurso aos instrumentos de arco, de molde a transformar “Neonlight” em algo parecido com a música de salão tocada pelos Penguin Café Orchestra. Uma homenagem merecida a um dos grupos mais importantes e influentes do planeta.