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Entre Aspas – “Entre Aspas Ainda Em Março – PÓS-RESSACA”

pop rock >> quarta-feira >> 01.03.1995


Entre Aspas Ainda Em Março
PÓS-RESSACA



deverá sair ainda em Março o segundo álbum dos Entre Aspas, com o título “Lollipop” e selo BMG. O novo disco deste grupo algarvio constituído por Viviane, António e Nuno, com a colaboração sistemática de Luís Sampaio e Filipe Valentim, marca, segundo os seus elementos, uma evolução relativamente à estreia “Entre S. F. F.”, e é caracterizado por uma “maior batida de rock”.
Para trás ficou a participação no projecto Filhos da Madrugada, no qual os Entre Aspas asseguraram a interpretação de “Traz outro amigo também”. Um marco importante na carreira do grupo, ainda que fosse o tema “Criatura da noite”, retirado do disco de estreia, o que consideram ter sido mais bem recebido. “Ouviu-se bastante, embora as pessoas talvez não o tenham associado ao nome da banda.”
Em relação a José Afonso, sentem “uma grande afinidade”. O guitarrista Tó lembra-se mesmo de, “quando era puto”, ter “tocado músicas como o “Venham mais cinco”. Também Viviane, nascida em França, afirma que “começou a perceber um certo número de coisas” ao tomar contacto com a obra do autor de “Maio maduro Maio”, no qual tanto ela como os restantes elementos da banda reconhecem a importância de uma “mensagem interventiva” capaz de fazer “as pessoas abrirem os olhos”: “Se pegarmos nas letras e nas músicas do Zeca, encontramos logo qualquer elo de ligação com a vida actual.”
“Algumas das nossas letras também têm algum significado a nível social, embora com um certo lado de fantasia”, conclui Viviane, que divide com o Nuno a autoria dos textos dos Entre Aspas.
Revelando algumas preocupações a nível dos arranjos e de uma certa sofisticação formal, os Entre Aspas não recusam certos pontos de filiação na estética dos anos 70. “Revivalismo, não!”, garantem, “mas de facto nessa altura houve ideias que marcaram muito as pessoas, como a liberdade espiritual, uma maior criatividade. Nos anos 90, as pessoas talvez estejam a ver as coisas todas de uma forma muito escura, sem saída.”
Os Entre Aspas recusam este negativismo e declaram-se uma banda optimista que, em particular nos concertos, procura libertar quem a ouve do fardo do dia-a-dia. “Não queremos ver à nossa frente pessoas a pensar nas contas que têm para pagar.” A agenda não está para já, neste aspecto, muito carregada, mas a saída do disco poderá inverter a situação. “Só temos um álbum que ainda por cima já saiu há dois anos. Estamos um bocado na fase da ressaca. Mas agora que vai aparecer o novo álbum as coisas vão começar a andar novamente e com mais força.”
A dedicação exclusiva à música tem implicado para o grupo algumas dificuldades de sobrevivência, mas não é isso que os vai fazer desistir, até porque, como dizem, “neste país, se uma pessoa não se deicar a cem por cento a isto, é muito difícil conseguir alguma coisa”.
“Lollipop” foi programado a longo prazo. Falta esperar pelos resultados. Como diz Viviane, “em Portugal é um bocado estranho: as coisas pegam ou não pegam. Da nossa parte, temos inteira confiança. Demos ao disco toda a nossa energia”.