Arquivo da Categoria: Críticas 1995

Bill Whelan – “Riverdance”

POP ROCK
27 de Dezembro de 1995

Álbuns world

Bill Whelan
“Riverdance”

CELTIC HEATBEAT, DISTRI. WARNER MUSIC


bw

Bill Whelan é conhecido sobretudo como produtor, tendo colaborado com os U2, Paul Brady, Hothouse Flowers, Van Morrison, Andy irvine (no projecto East Wind) e Planxty, entre outros. Como compositor, assinou dois trabalhos orquestrais de envergadura, “The Seville Suite”, de 1992, e “The Spirit of Mayo”, do ano seguinte. “Riverdance” reproduz na íntegra a música do espectáculo cujos excertos foram apresentados no último festival da Eurovisão, realizado em Dublin, de onde Whelan é natural. A “celtic music” com uma projecção mediática desta natureza não é acontecimento vulgar e, por essa razão, exigia-se algo que fosse ao mesmo tempo genuíno e acessível. Bill Whelan acertou em pleno. Com uma produção esmerada e um som em que a sofisticação elimina toda e qualquer aresta mais rude, “Riverdance” constitui um bilhete de entrada a não desdenhar para os que agora se aventuram neste território e, no espectáculo eurovisivo, se deixaram deslumbrar pelas danças da The Riverdance Irish Dance Troupe. A música dos pés destes bailarinos, “reels” com polimento de diamante, coros de catedral pelos Anúna, ritmos de braço dado com o rock, sem contudo lhes prestarem vassalagem, passagens pelos Balcãs (com uma dança dedicada a Márta Sebestyen) e pelo flamenco e solistas da craveira de um Davy Spillane (dêem-lhe mais serviços destes, que são o que ele faz melhor), Mairtin O’Connor, Nikola Parov, Tommy Hayes, Rafael Riqueni e Eileen Ivers, tudo contribui para tornar “Riverdance” num objecto apetecível. A prova real de que o “diálogo” não é sinónimo de “fusão” e de que é possível homenagear o passado com as vozes e a alma do futuro. (8)



Reeltime – “Reeltime”

Pop Rock

22 de Novembro de 1995
Álbuns world

Reeltime
Reeltime

GREEN LINNET, DISTRI. MC – MUNDO DA CANÇÃO


reel

Tempo de “reels” é todos os dias, a todas as horas, em todos os locais onde haja um “pinto” de Guiness ou uma medida do velho “whiskey” que ajuda a acertar o compasso do coração com o compasso da dança. Os Reeltime são mais uma das promessas que parecem brotar espontaneamente do solo musical infinitamente fértil da Ilha. Arrancam em força, com um “set” de “reels” como mandam as regras, “Gort to Texas to Honololu”. Mas como são novos, experimentam e arriscam. Com uma guitarra saturada de electricidade, em “Caliope House”, ou “samples” de harpa, em “Siúil a rún”.
A voz de Máirín Fahy, bastante bonita, embora ajudada pela produção, se chega a brilhar nos temas de maior densidade rítmica, como “Siúil a rún” (com as suas harmonias reminiscentes dos irmãos Ní Dohmnaill dos Bothy Band), revela ainda alguma hesitação e uma natural falta de “calo” nas canções de respiração mais despojada, como “Torc waterfall” ou “The Bantry girl’s lament”. O mesmo se pode dizer quando o violino da mesma Máirín é chamado a depor nos andamentos mais pausados, paradoxalmente aqueles que na música irlandesa exigem um saber e experiência acrescentados. Os Reeltime têm bons trunfos na mão, mas será bom não tirarem os olhos da concorrência, que, por estas paragens, como se sabe, não perdoa… (7)



Purna das Baul – “Bauls of Bengal”

Pop Rock

22 de Novembro de 1995
Álbuns world

Purna das Baul
Bauls of Bengal

CRAMWORLD, DISTRI. MEGAMUSICA


pb

“Baul” deriva do sânscrito “batul” e significa “louco”. O “baul” é o menestrel de Bengala ocidental, Índia, que viaja de aldeia em aldeia pregando a união mística com o Divino através dos seus cânticos e danças de natureza extática. Purna das é um desse míticos “baul”, que serviu de fonte de inspiração ao poeta Rabindranah Tagore. Purna, um “louco de amor”, foi coroado “reis dos baul” e, na sua Bengala natal, consideram-no o principal embaixador desta forma de tradição oral no estrangeiro. Mesmo correndo o risco de se falhar a tal união com o Alto, é bom parar para escutar estes cânticos que limpam o cérebro e a alma. (8)