Sérgio Godinho – “Exposição à Luz” (concertos)

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


EXPOSIÇÃO À LUZ



Sérgio Godinho vai mostrar 2ª Face Visível”, título inspirado na sua canção “A face visível da Lua”. No próximo sábado, no Porto, e na quarta-feira e no sábado da semana seguinte, em Lisboa, o autor do recente “Tinta Permanente” volta às actuações ao vivo, depois do sucesso alcançado com o anterior espectáculo 2Escritor de Canções”. O novo encontro ao vivo, de genérico “A Face Visível”, será, nas palavras de Sérgio Godinho, “bastante enérgico” embora integre momentos de maior intimismo (como será o caso de uma canção interpretada só com a guitarra acústica) e “mais exteriorizado” que “escritor de Canções”. Sérgio Godinho cantará os nove temas que compõem “Tinta Permanente”, num total de 28 canções que preencherão o concerto. Temas antigos, outros menos, que Sérgio Godinho gosta de “tirar da prateleira”, mas que vão ter novos arranjos. “Vou sempre a uma lista básica de canções e depois olho para os meus discos e escolho. Por exemplo, vamos tocar o “Caramba”, do álbum “Canto da Boca”, que se presta muito às vozes e a um jogo interactivo entre os músicos. Não há canções que eu considere obrigatórias, embora haja algumas que possam ser consideradas como os “greatest hits” [risos]. O João Paulo está a fazer versões que, embora não as tornem irreconhecíveis, reflectem contudo, uma atitude um bocado diferente. Quando uma pessoa trabalha comigo gosto que dê os seus palpites.”
“A Face Visível” será ainda o reatar de velhas e o estabelecimento de novas relações entre o músico e o público. “Há muito tempo que não punha um concerto de pé”, diz, “e é evidente que quando fiz o ‘Tinta Permanente’ seria lógico que o fizesse. O disco saiu no fim de Abril, já um bocado em cima do Verão, havia outros compromissos e por isso só agora foi possível fazê-lo. Até porque agora me apeteceu tocar com uma formação mais alargada.”
Coincidência é o facto de o primeiro espectáculo se realizar no Porto, como coincidência é ainda fazer este mês uma ano desde que “Escritor de Canções” foi apresentado pela primeira vez ao vivo nesta cidade, precisamente no mesmo Rivoli.
“A Face Visível” será provavelmente o último espectáculo realizado no velhinho Rivoli, antes de sofrer obras de remodelação. “Não sei”, brinca o autor de “Sobreviventes”, “se assim for até podemos escaqueirar no fim aquilo tudo, desde os camarins até à sala [risos], de preferência com martelinhos.”
Que “face visível” será então dada a ver? “É o palco, o sítio onde estamos mais expostos. À luz.” Com Sérgio Godinho, vão estar em palco João Paulo Esteves da Silva, piano e direcção musical, Mário Franco, baixo e contrabaixo, António Pinto, guitarra, Paleka, bateria, José Salgueiro, percussões, Jorge Reis, saxofones, Filipa Pais, Sandra e Dora Fidalgo, coros.
Dia 20,
Teatro Rivoli,
Porto, 22h
Dias 24 e 27,
Teatro S. Luiz,
Lisboa, 22h

Luís Represas – “Represas”

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


Luís Represas
Represas
Edição EMI – VC



Que Luís Represas tem boa voz está fora de questão. O problema, agora que os Trovante se acabaram, é: que fazer com esta voz? Porque, por mais que Represas vá para Cuba e toque com músicos cubanos, como aconteceu nesta sua estreia discográfica a solo, o que ouvimos é sempre a voz dos Trovante e canções que poderiam pertencer aos Trovante. Represas não tem culpa. Tem a voz que tem e escolheu as canções que lhe assentam melhor. Mas, que diabo, o que poderia ser o início de uma nova aventura e o cortar de amarras definitivo com o passado fica-se por uma prestação morna e pela segurança de arranjos que não arriscam um centímetro. Está certo, Pablo Milanés canta num dos temas (“Feiticeira”) e, lá está, os escassos segundos em que tal acontece chegam para emprestar à canção uma aura de diferença e excitação. Mas o resto poderia ter sido tocado e gravado na Islândia ou na Cochichina que ninguém dava por isso. Nenhum tema se destaca dos outros o que significa que nenhum é melhor ou pior do que os outros. São na totalidade medianamente agradáveis, a produção e execução instrumentais são imaculados, Luís Represas, repete-se, canta bem com uma perna às costas. E fica-se à espera doq eu não vem. Mesmo assim, vamos lá destacar a força de “Olhos” e “Guaganco y fado”, único tema em que, na primeira parte, é visível a influência sul-americana, um “Fora de Tempo” sepulcral e “A vez mais próxima do fim” em que Luís Represas canta como Rui Veloso um tema que poderia ter sido escrito por Fausto. É caso para dizer que o excesso de represas refreou em demasia o caudal. (5)

Eugénia Melo E Castro – “Lisboa Dentro De Mim – O Sentimento De Um Ocidental”

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


Eugénia Melo E Castro
Lisboa Dentro De Mim – O Sentimento De Um Ocidental
2xCD, BMG, distri. BMG



Continua a ser verdade que o verdadeiro artista é o artista que se esforça. Em “Lisboa dentro de Mim” o esforço é notório. O disco faz tudo para agradar e não deixa nada ao acaso. A capa é belíssima. Entre os autores dos textos, contam-se António Botto, Fernando Pessoa, Cesário Verde e Luís de Camões. A lista de músicos é de luxo: Wagner Tiso, piano, Yuri Daniel, baixo, Pedro Caldeira Cabral, guitarra portuguesa, Carlos Zíngaro, violino, Mário Laginha, piano, António Pinho Vargas, piano, e Márcio Montarroyos, trompete e “flügelhorn”, qualquer deles com notáveis desempenhos nos respectivos instrumentos. Depois há o “Fado Lisboa”, um excerto de “Lisboa antiga”, “Saudades, no Tejo”, suspira-se por D. Sebastião e até se explica, com profusão de detalhes, a origem etimológica da palavra “Lisboa”. Sem esquecer um segundo CD que tem por título um trocadilho giro – “O acidente de um sentimental” – com as canções, “Não sei dançar” e as muito “in”, “The laziest girl in town” e “Maldita cocaína”. Bravo! Ah, sim, as vocalizações estão a cargo de Eugénia Melo e Castro (Geninha). No Brasil, adoram-na. Passem-me o sal e a pimenta, por favor. (4)