pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993
Luís Represas
Represas
Edição EMI – VC
Que Luís Represas tem boa voz está fora de questão. O problema, agora que os Trovante se acabaram, é: que fazer com esta voz? Porque, por mais que Represas vá para Cuba e toque com músicos cubanos, como aconteceu nesta sua estreia discográfica a solo, o que ouvimos é sempre a voz dos Trovante e canções que poderiam pertencer aos Trovante. Represas não tem culpa. Tem a voz que tem e escolheu as canções que lhe assentam melhor. Mas, que diabo, o que poderia ser o início de uma nova aventura e o cortar de amarras definitivo com o passado fica-se por uma prestação morna e pela segurança de arranjos que não arriscam um centímetro. Está certo, Pablo Milanés canta num dos temas (“Feiticeira”) e, lá está, os escassos segundos em que tal acontece chegam para emprestar à canção uma aura de diferença e excitação. Mas o resto poderia ter sido tocado e gravado na Islândia ou na Cochichina que ninguém dava por isso. Nenhum tema se destaca dos outros o que significa que nenhum é melhor ou pior do que os outros. São na totalidade medianamente agradáveis, a produção e execução instrumentais são imaculados, Luís Represas, repete-se, canta bem com uma perna às costas. E fica-se à espera doq eu não vem. Mesmo assim, vamos lá destacar a força de “Olhos” e “Guaganco y fado”, único tema em que, na primeira parte, é visível a influência sul-americana, um “Fora de Tempo” sepulcral e “A vez mais próxima do fim” em que Luís Represas canta como Rui Veloso um tema que poderia ter sido escrito por Fausto. É caso para dizer que o excesso de represas refreou em demasia o caudal. (5)