Arquivo da Categoria: Críticas 1993

Santana – “Sacred Fire” (vídeo | VHS)

pop rock >> quarta-feira, 22.12.1993
VÍDEOS


SANTANA
Sacred Fire
Polydor, distri. Polygram, 97”, venda directa



O disco é fraco. O vídeo é chato. A vida tem destas coisas. As coisas são como são e os Santana já deveriam há muito ter dado por encerradas as suas actividades. Infelizmente ainda por cá andam, com Carlos Santana a arder no fogo sagrado. O vídeo limita-se a mostrar, com toda a preguiça, que pode haver nestes “long forms” de espectáculos ao vivo as inexistentes peripécias do concerto recente realizado pela banda na Cidade do México. Às vezes, quando a música é má, as imagens compensam e podem justificar a aquisição da cassete. Não é o caso. Aliás, a regra deveria ser, para cada suporte na área do audiovisual, a existência, nas respectivas linguagens específicas, de um mínimo de originalidade e criatividade. Aqui não há nada que atraia o olhar para o ecrã ou o ouvido para as colunas. É a sensaboria do princípio ao fim: plano geral de banda, grandes-+lanos dos váriso executantes, “close ups” sobre alguns pormenores aleatórios do que se passou no palco, planos do público, de novo plano geral da banda, música a metro, os sentidos sem alimento que lhes mate a fome, a paciência a esgotar-se. Talvez com “sensorround”, talvez com ecrã gigante em cristais líquidos, talvez com uns Santana interactivos, “Sacred Fire” se deixasse ver com algum agrado. Assim como está tem tanto interesse como um taparuere e a vivacidade de uma múmia. (1)

Lights In A Fat City – “Sound Column” + Jorge Reyes – “El Costumbre”

pop rock >> quarta-feira, 15.12.1993


Lights In A Fat City
Sound Column (6)
Jorge Reyes
El Costumbre (8)
Extreme, import. Contraverso



Música do reino das sombras, electrónica e ritual. Os Light In A Fat City, trio inglês, não conseguem repetir a qualidade do anterior “Somewhere”, onde expandiam as fronteiras traçadas por Jon Hassell na sua música imaginária do quarto mundo. Em “Sound Column”, gravado ao vivo em San Francisco, foi eliminada por completo a componente rítmica, ficando o didgeridoo – artefacto sonoro fetiche da banda – desamparado no meio da amplitude das “drones” electrónicas, dos “samples” subliminares, sinos de tragédia e ruídos de animais escondidos na escuridão que aproximam este disco de alguns trabalhos dos Nocturnal Emissions.
Jorge Reyes é um músico mexicano, autor de álbuns como “Musica Mexicana pre-Hispanica”, “Cronica de Castas” (com o guitarrista espanhol Suso Saiz) e “Bajo el Sol Jaguar”, nos quais cria de forma fascinante a tradição da cultura ancestral dos seus antepassados, para tal recorrendo a uma mistura original da electrónica com instrumentos de osso, pedra, conchas ou batimentos no próprio corpo. “El Costumbre” toma por base as bonecas de papel que consoante a forma e a cor, os índios otomies, da Serra de Puebla, utilizam nas suas cerimónias de magia branca e magia negra. As constantes referências ao peiote e às viagens astrais, no corpo de animais voadores, fazem desta obra o equivalente musical da literatura alucinatória de Carlos Castaneda.
A colaboração de Steve Roach, a linguagem dos sonhos pronunciada pelos Huichols em “Taksu”, o som da terra e da chuva, os murmúrios da floresta captam, como “fotografias Kirlian”, a trama simultaneamente etérea e orgânica do México dos mitos, em imagens de “feérie” e pesadelo que recordam o dia dos mortos mexicano, com as suas lanternas, máscaras, fogo-de-artifício e fantasmagorias.

Bleizi – “Ruz En Concert” + Ceolbeg – “Un Unfair Dance” + Philippe Eidel – “Les Agricoles” + Ensemble Tuva – “Echoes From The Spirit World” + Kormorán – “Hungarian Rhapsody” + Pentangle – “One More Read” + Amancio Prada – “Canciones De Amory Celda” + Rossavielle – “Very F. Tricky”

pop rock >> quarta-feira, 15.12.1993
WORLD

Bleizi Ruz
En Concert

Shamrock, distri. MC – Mundo da Canção
Os lobos ver,elhos ao vivo, nas habituais trocas e baldrocas com o “cajun”, o jazz e outras capelinhas frequentadas pelos modernos bretões. Vale a pena procura-los em estúdio em “Pell Ha Kichen”. (5)

Ceolbeg
Un Unfair Dance

Greentrax, distri. VGM
Que bom seria se Davy Steele deixasse de cantar de vez, para podermos ouvir em paz a harpa de Wendy Stewart (apesar de tudo aqui mais liberta do que no anterior “Seeds to the Wind”) e as “highland pipes” de Gary West, inesquecíveis no longo adeus do tema final. (6)

Philippe Eidel
Les Agricoles

Silex, distri. Etnia
“New Age” em veludo “folk, numa misturada de estilos que faz o “tour de France” para turista ver. Guy Bertrand e Eric Montbel, os dois Le Jaj presentes, não chegam para transformar o postal emk realidade. Bonito, ms pouco convincente. (5)

Ensemble Tuva
Echoes From The Spirit World

Pan, distri. Etnia
Regresso das vozes multifónicas da terra das águias. Só subestilos desta técnica vocal, que “cria um estado geral de bem-estar”, são mencionados 13 no folheto. Prodígios da garganta em cerimónias guturais do outro mundo. Étnica da dura, quase impenetrável. (6)

Kormorán
Hungarian Rhapsody

Pan, distri. Etnia
Folk-rock da Hungria. Computadores, gaita-de-foles e flautas em imitações disparatadas dos Jethro Tull, que remexem na lixeira do pior rock sinfónico. Mau gosto e falta de jeito, num álbum caricato. (0)

Pentangle
One More Read

Permanent, distri. Megamúsica
Jacqui McShee, Bert Jansch, um grupo de anciãos bem intencionados e a nostalgia dos tempos gloriosos de “Cruel Sister”. A memória consente destas coisas. (4)

Amancio Prada
Canciones De Amory Celda

Fonomusic, distri. MC – Mundo da Canção
Reedição de um álbum de 1987, em que o trovador galego entrava em liquefacção amorosa. As palavras dizem tudo. A sanfona de “Romance del enamorado” faz suspirar pela obra-prima que já desesperamos de ver ter continuação, “Caravel de Caravels”. Amancio Prada, aqui baladeiro, intimista e razoavelmente aborrecido. (4)

Rossavielle
Very F. Tricky

Shamrock, distri. MC – Mundo da Canção
Austríacos e conceptuais, os Rossavielle não sabem o que fazer do seu amor pela tradição celta. Simulacros de feira, por euroburocratas curiosos. Um razoável tocador de “uillean pipes” convidado, Dermot Hyde, e Nupi Jenner, “rookie” da sanfona salvam o disco da mediocridade. (5)