Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #74 – “Concertos Março (Bruno B.)”

#74 – “Concertos Março (Bruno B.)”

Fernando Magalhães
11.02.2002 190742
“Septober Energy”, do coletivo CENTIPEDE, é um álbum mítico. Estão lá praticamente todos os músicos ingleses importantes da chamada “free music” (mas também do rock…ou com um pé nos dois lados) que abalou a Inglaterra nos anos 60/70, com destaque para o pianista inglês KEITH TIPPETT, mentor do projeto. Curiosamente, ROBERT FRIPP, é o produtor do disco.
Ou talvez não seja tão estranho como isso, uma vez que Tippett é o pianista convidado em três álbuns dos KING CRIMSON, “In the Wake of Poseidon”, “Lizard” e “Islands”.
Existem duas versões deste álbum (duplo, na ed. original em vinilo), ambas remasterizadas, uma na Disconforme, outra na BGO, que é a que eu tenho, já que reproduz a capa original. A capa da ed. na Disconforme (toda em branco), pelo contrário, reproduz a de uma reedição em vinilo, creio que dos anos 80.

Já agora, tão bom ou melhor que “Septober Energy” é, mais ou menos da mesma época, o álbum “Chris McGregor’s Brotherhood of Breath”(ed. em CD , pela Repertoire), pela big banda deste músico inglês.

FM

Vários – “Pacote De Natal” (artigo de opinião | críticas | sugestões)

PÚBLICO SEXTA-FEIRA, 7 DEZEMBRO 1990 >> Fim De Semana >> Na Capa


PACOTE DE NATAL

DISCOS
POP ROCK
FM assina os seguintes textos




JEAN-MICHEL JARRE
Waiting for Cousteau
Dreyfus


O tema é a água, as profundidades oceânicas, o exotismo de paraísos distantes, beijados pelas ondas e onde apetece sonhar até ao fim dos dias.
Aventuras pelo reino marítimo, inspiradas nas viagens do velho mestre do Graal subaquático. Primeiro, as vertigens rítmicas do calipso, desaguando na “new age” (ou será melhor dizer “new wave”…?) do fim do século. Depois, na versão aumentada do CD, 46 minutos em que Jarre ensina a contemplação dos grandes arcanos submarinos.
O silêncio e a escuridão do fundo. A fauna e flora dos domínios de Neptuno, perturbados por estilhaços de vozes refratados de longe. Brian Eno não faria melhor.

MIKE OLDFIELD
Amarok
Virgin/Edisom


O ex-menino-prodígio da Virgin desistiu de armar em moderno e regressa em grande forma aos bons velhos tempos de “Hergest Ridge”, “Ommadawn” e “Incantatious”.
Um longo tema instrumental a ocupar a totalidade do álbum, a lista de artefactos musicais a não caber na folha (citam-se “tubos pendurados de metal, compridos e esteitos” para avivar a memória de forma delicada) e as inevitáveis participações da gaita-de-foles de Paddy Moloney, dos tambores africanos e dos coros femininos de Clodagh Simonds e Bridget St John, remetem de imediato para as glórias de antanho. Quem dava já o velho Mike como morto e enterrado vai ter ainda de esperar.

LAURIE ANDERSON
Strange Angels
Warner Bros./WEA


Ideal para quem pretende passar por vanguardista sem grandes afrontamentos estéticos nem dolorosos exercícios de ginástica intelectual.
Laurie Anderson apresenta aqui a papinha toda feita, que é como quem diz, sabendo adaptar anteriores virulências conceptuais a uma acessibilidade que faz torcer o nariz aos viciados na dificuldade e gemer de prazer os amantes do erotismo gramatical da senhora. A estranheza flutua, desta vez, em canções de formato pop, às quais o visionarismo fragmentado da autora acrescenta um toque de inquietude.

BOBBY McFERRIN
Medicine Music
Emi/Valentim de Carvalho


Nada como uma boa voz para aquecer a ceia natalícia e, mais ainda, o Ano Novo. A de Bobby McFerrin cumpre na perfeição tal desígnio. Ainda por cima parece que a música deste disco cura, tornando-se assim ideal para curar as eventuais bebedeiras e ressacas do dia seguinte.
Os blues, o gospel, os ritmos africanos, tudo serve a “The Voice” McFerrin para fazer a voz brilhar, envergonhando todos aqueles miseráveis músicos que ainda necessitam de outros instrumentos para se acompanharem. Decididamente, o homem é da corda… vocal.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #73 – “Caravan-1º álbum, remasterizado (FM)”

#73 – “Caravan-1º álbum, remasterizado (FM)”

Fernando Magalhães
11.02.2002 160454
Não resisto a recomendar a audição do álbum de estreia dos CARAVAN, intitulado simplesmente “Caravan”, acabado de ser editado em ed. remasterizada e sob a forma de dois alinhamentos – em mono e em stereo (prefiro este).

É um álbum de pop canterburyiana absolutamente mágico. Imaginem a música dos posteriores “If I Could do it…” e “In the land of Grey and Pink”, despojada da sua vertente mais experimental e instrumental, para se concentrar em melodias que se alojam insidiosamente no cérebro.

Quem quiser compreender de onde deriva a ala do pós-rock de Chicago mais suave, personificada por gente como os The Sea and Cake, Stephen Prina ou Jim O’Rourke, deve começar por aqui.

FM