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Subterfúgio – “Subterfúgio Em Cassete” (bandas novas)

pop rock >> quarta-feira, 24.02.1993


SUBTERFÚGIO EM CASSETE



Os Subterfúgio são mais uma banda portuguesa à procura de furar o esquema. O que, à partida, significa que a música que fazem não se adequa aos imperativos comerciais. Lançaram agora uma cassete no circuito alternativo, intitulada simplesmente “Subterfúgio” e que reúne nove temas da sua autoria, mais um original dos Hüsker Dü”, “Never talking to you again”. Dois sobre textos de Herberto Helder; um com a assinatura de Jak Kerouak; outro, finalmente, da autoria do escritor de ficção científica J. G. Ballard.
A actual formação dos Subterfúgio é constituída por três ex-Melleril de Nembutal – Jorge Pinheiro, guitarras e sintetizador, A. Y. T. P. , bateria, baixo, voz e xilofone, e Delfim Paulo, baixo, guitarra, clarinete, voz, “walkie-talkie” -, mais U.P.S., voz principal, José Simão, baixo sintetizador, e J. Jacinto, voz, “walkie-Talkie”, guitarra. Rafael Toral, guitarra, e A. Garcia, baixo, aparecem como músicos convidados.
“Sons do Diabo” foi a cassete de compilação que os deu a conhecer. Fica-se logo com uma ideia da música que praticam: industrial, obscura, provocatória. A principal influência parece ser a dos Cabaret Voltaire, de “Mix Up”, “Voice of America” e “Red Mecca”. O lado A é mais suave.
Cada exemplar da cassete “Subterfúgio” custa 500 escudos e é vendida em conjunto com o fanzine “A Keda de Um Anjo”. Enquanto não chega às discotecas Audio e Tubitek, ambas do Porto, e Fuga, de Coimbra, os pedidos podem ser enviados a K7 Pirata, apartado 2076, Oliveira do Douro, 4403 Vila Nova de Gaia.

Steve Roach & Kevin Braheny – “Western Spaces” + Steve Roach, Kevin Braheny & Michael Stearns – “Desert Solitaire” + Steve Roach – “World’s Edge”

pop rock >> quarta-feira, 20.01.1993

FORA DE SÉRIE


Steve Roach & Kevin Braheny
Western Spaces (8)
CD, Fortuna
Steve Roach, Kevin Braheny & Michael Stearns
Desert Solitaire (7)
CD, Fortuna
Steve Roach
World’s Edge (8)
2xCD, Fortuna
Todos import. Ananana



Em “Western Spaces” e “Desert Solitaire”, primeira e segunda partes de uma obra conceptual, os compositores procuraram “captar a essência” do deserto. Em concreto, das regiões áridas do Sudoeste da América do Norte, da Califórnia e das vastidões do Mojave, cujas areias serviram de inspiração a estas paisagens impressionistas.
Steve Roach e Kevin Braheny fazem parte da cena electrónica da “West Coast” americana, de tendência sintesista. Nesta aventura a dois, cujo segundo tomo conta com a colaboração de Michael Stearns, proveniente da mesma área musical, procederam de forma idêntica ao projecto paralelo de Steve Roach com Robert Rich, que tão bons resultados proporcionou até agora, em “Strata” e “Soma”: electrónica mais sonoridades étnicas, reais e sampladas. No fundo, um entre vários ramos da árvore, cada vez frondosa, que Jon Hassell plantou em “Possible Musics”. Música de movimentos e reverberações tão amplas como as do deserto, de flutuações e alterações subtis, repetindo a sucessão imperceptível de contornos das dunas do deserto.
“Desert Solitaire” tem como defeito pouco adiantar em relação ao disco anterior. Diz as mesmas coisas da mesma maneira, sem apresentar inovações. Temas há que parecem repetições de “Western Spaces”. Cai por momentos na monotonia e na “new age” bem comportada. Mas será talvez a monotonia aparente do próprio deserto que exige a disponibilidade e a atenção dos máxima dos sentidos.
O disco a solo de Steve Roach não se afasta muito, em termos formais, dos outros dois álbuns. Nele o compositor parte da metáfora a “chegada à beira do abismo” e do impulso de “saltar no vazio, ganhando asas antes da queda”. Voo e gravidade, expressos num maior contraste dos timbres (não falta o inevitável “didgeridoo”) e na utilização sistemática de percussões – das profundezas das “frame drumas” ao retinir de sino rituais tibetanos e aos ecos de cerâmica do “dumbek”. A excepção é o tema com cerca de uma hora que ocupa a totalidade do segundo disco, “To the threshold of silence”, longa progressão ondulatória, tão silenciosa como “Thursday afternoon”, de Brian Eno, ou “Waiting for Cousteau” (que ninguém se espante, é diferente de tudo o que este autor fez até à data), de Jean-Michel Jarre, aquele que mais se aproxima do sentido xamânico que Roach procura imprimir à sua música.

Yello – “Essential Yello” (vídeo)

pop rock >> quarta-feira, 13.01.1993
Vídeos

BARRACA BARROCA


YELLO
Essential Yello
62’52”, Polygram Vídeo, distri Polygram



Correspondente em imagem ao disco e CD do mesmo nome reunindo alguns dos maiores êxitos da banda suiça de electropop, tendência dadaísta. Boris Blank, bigode, ar de engatatão latino, e Dieter Meier, bigode, “dandy” quarentão alisado a brilhantina, privilegiam o humor em detrimento da seriedade. Gostam de dar barraca. Faixa a faixa, encenam pequenas peças de absurdo, iluminadas a cores primárias – amarelo, verde, azul e vermelho -, servindo-se sobretudo do jogo histriónico e da gestualização levada ao ridículo. Requebros de galinha, esgares mirabolantes, poses “macho” e de matador compõem uma comédia em que as personagens secundárias (invariavelmente, uma “partenaire” com ar de escriturária à moda antiga que faz de mulher fatal e é cortejada de todas as formas e feitios e uma miúda novinha no papel de anjinho “kitsch”, cheia de sedas e auréolas) acentuam ainda mais o lado cómico e descabelado da acção.
Há corridas de automóvel com a menina Henriqueta (chamemos assim à senhora de óculos que parece sempre ter acabado de despir a bata), que é mais rápida que os bólides, Boris a fazer olhinhos de carneiro mal morto à menina Henriqueta que se vestiu de adolescente e se enfiou num descapotável “sixties”, Dieter a morrer de amores (pela menina Henriqueta?) e solidão num parque de diversões, caçadas numa selva de plástico, serenatas a manequins como o de “In every dreamhome a heartache”, de Bryan Ferry, e máquinas de “flippers” animadas. Ou seja, é quase sempre a brincar e em ritmos fortes, visto que a maioria dos temas, os mesmos dos formatos áudio (com excepção de “Driver/driver”, que no vídeo foi substituído por “Who’s Gone?”), são os mais comerciais e os escolhidos para a edição em single. Tudo num registo barroco recortado a papelão com forro dourado.
Duas canções escapam à tónica dominante: “Bostich”, um exercício de estética industrial criado na época em que os Yello rivalizavam em estranheza com os Residents, na editora Ralph, e “The rhythm divine”, na qual os dois suiços se rendem à voz de Shirley Bassey, deixando a câmara ocupar-se com ela, pondo por uma vez de lado a folia.
O único senão de “Essential Yello” é a insistência numa única fórmula. A concepção estética dos diversos clips é idêntica. As caretas, à medida que se avança através dos 16 temas, vão perdendo a graça, a iluminação, de chocante, passa a embirrante. Por fim, até a batida “disco” e as vozes de fantoche típicas dos Yello acabam por tornar-se maçadoras. Sabe-se como as imagens podem ser redutoras da mensagem musical, banalizando-a e tornando explícito o que vivia da sugestão. “Essential Yello” sofre deste mal. Salvam-se as coreografias patuscas e as expressões de virgem louca da menina Henriqueta. (6)