Arquivo da Categoria: Electro

Yello – “Essential Yello” (vídeo | VHS)

pop rock >> quarta-feira, 13.01.1993
Vídeos


BARRACA BARROCA

YELLO
Essential Yello
62’52”, Polygram Vídeo, distri Polygram



Correspondente em imagem ao disco e CD do mesmo nome reunindo alguns dos maiores êxitos da banda suiça de electropop, tendência dadaísta. Boris Blank, bigode, ar de engatatão latino, e Dieter Meier, bigode, “dandy” quarentão alisado a brilhantina, privilegiam o humor em detrimento da seriedade. Gostam de dar barraca. Faixa a faixa, encenam pequenas peças de absurdo, iluminadas a cores primárias – amarelo, verde, azul e vermelho -, servindo-se sobretudo do jogo histriónico e da gestualização levada ao ridículo. Requebros de galinha, esgares mirabolantes, poses “macho” e de matador compõem uma comédia em que as personagens secundárias (invariavelmente, uma “partenaire” com ar de escriturária à moda antiga que faz de mulher fatal e é cortejada de todas as formas e feitios e uma miúda novinha no papel de anjinho “kitsch”, cheia de sedas e auréolas) acentuam ainda mais o lado cómico e descabelado da acção.
Há corridas de automóvel com a menina Henriqueta (chamemos assim à senhora de óculos que parece sempre ter acabado de despir a bata), que é mais rápida que os bólides, Boris a fazer olhinhos de carneiro mal morto à menina Henriqueta que se vestiu de adolescente e se enfiou num descapotável “sixties”, Dieter a morrer de amores (pela menina Henriqueta?) e solidão num parque de diversões, caçadas numa selva de plástico, serenatas a manequins como o de “In every dreamhome a heartache”, de Bryan Ferry, e máquinas de “flippers” animadas. Ou seja, é quase sempre a brincar e em ritmos fortes, visto que a maioria dos temas, os mesmos dos formatos áudio (com excepção de “Driver/driver”, que no vídeo foi substituído por “Who’s Gone?”), são os mais comerciais e os escolhidos para a edição em single. Tudo num registo barroco recortado a papelão com forro dourado.
Duas canções escapam à tónica dominante: “Bostich”, um exercício de estética industrial criado na época em que os Yello rivalizavam em estranheza com os Residents, na editora Ralph, e “The rhythm divine”, na qual os dois suiços se rendem à voz de Shirley Bassey, deixando a câmara ocupar-se com ela, pondo por uma vez de lado a folia.
O único senão de “Essential Yello” é a insistência numa única fórmula. A concepção estética dos diversos clips é idêntica. As caretas, à medida que se avança através dos 16 temas, vão perdendo a graça, a iluminação, de chocante, passa a embirrante. Por fim, até a batida “disco” e as vozes de fantoche típicas dos Yello acabam por tornar-se maçadoras. Sabe-se como as imagens podem ser redutoras da mensagem musical, banalizando-a e tornando explícito o que vivia da sugestão. “Essential Yello” sofre deste mal. Salvam-se as coreografias patuscas e as expressões de virgem louca da menina Henriqueta. (6)

Márc Almond – “Tenement Symphony”

Pop-Rock Quarta-Feira, 23.10.1991


MÁRC ALMOND
Tenement Symphony
LP / CD Some Bizarre, distri. Warner port.



A capa só por si vale o disco: uma glosa do grafismo da série barata “Classics For Pleasure”, onde Almond assume o “smoking” e a pose de batuta em punho de Simon Rattle (um dos maiores maestros ingleses da actualidade), mas com um ramo espinhado no lugar da dita batuta e um maço de notas turcas a saírem-lhe do punho, preparo rematado pelo adereço de uma flor de plástico a enfeitar um metrónomo. Truncagem tipicamente “camp” do visual pop da música clássica na idade de Pavarotti e Nigel Kennedy, complemento de um recheio pop de recorte sinfónico, que incluiu um extracto de “Trois Chansons de Bilitis” (Debussy). “Flirt” jocoso com a música clássica, mas também com os clássicos da música popular.
O zénite do álbum é sem dúvida a versão radical de “La Chanson de Jacky”, sátira em tom marcial ao binómio beleza / vacuidade da autoria de Jacques Brel, que Márc (o acento no “a” é outro pormenor da nova decoração) revisita em tintas eurodisco. O álbum assenta na combinação dessas variáveis: a pop electrónica (produto da associação de Dave Ball, ex-companheiro de Almond nos Soft Cell, com Richard Norris sob a sigla The Grid) e a tendência para o fausto sinfónico de Trevor Horn (o maestro da ZTT), reforçada pelos arranjos de cordas de Ann Dudley, dos Art Of Noise. “Desta confusão, declara o autor na contracapa, sonhei uma grande ilusão: a ‘Tenement Symphony’”, um álbum onde as convenções e conveniências da actual ligação da pop à música clássica não sofrem uma subversão terrorista, mas o género de revisão agridoce, misto de romantismo e crueldade extremados que transformam a sua seriedade pequeno burguesa em delírio faustoso. (8)

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #183 – “O pós-rock e o electro que ficou…”

#183 – “O pós-rock e o electro que ficou…”

O pós-rock e electro que ficou…

Fernando Magalhães
10 de Fevereiro 2003 Às 13:16

Do muito que passou, das bandas de pós-rock e da electrónica não “erudita” que ouvi nos anos 90, eis aquilo que ficou e de que continuo a gostar.
* são obras-primas, algumas delas não suficientemente valorizadas quando escrevi as respectivas críticas (apenas o tempo e a distância permitem a perspectiva mais correcta).

+ são discos fundamentais, dentro dos respectivos géneros ou categorias musicais.

AMON TOBIN – Supermodified (Ninja Tune, 2000)*
BERND FRIEDMANN – Leisure Zones (Ash International, 1996)
B. FLEISCHMANN – Pop Loops For Breakfast (Charhizma, 1999) +
– A Choir of Empty Beds (Fuzzy Box, 2000)
BIOSPHERE – Cirque (Touch, 2000) *
– Substrata 2 2XCD (Touch, 2001) +
– Shenzhou (Touch, 2002)
BLECTUM FROM BLECHDOM – The Messy Jesse Fiesta (Deluxe, 2000)
BLUTSIPHON – Tammus (Gefriem, 1999)
CURD DUCA – Elevator 3 (Mille Plateaux, 2000)
DAKOTA OAK – Am Deister (Twisted Nerve, 2000)
DAT POLITICS – Villiger (a-Musik, 2000) +
DYLAN GROUP (THE) – More Adventures in Lying Down… (Bubble Core, 1999)
– Ur-Klang Search (Bubble Core, 2000)
EARDRUM – Last Light (The Leaf, 1999)
EXPLODING THUMBS – Flying Without Wings (Holistic, 1998)
EXPERIMENTAL AUDIO RESEARCH – The Köner Experiment (Mille Plateaux, 1997)
– Millenium Music, A Meta-Musical Portrait (Atavistic, 1997)*
FAULTLINE – Closer Colder (The Leaf, 1999)*
FENNESZ – Plus Forty Seven Degrees 56’ 37” Minus Sixteen Degrees 51’ 08” (Touch, 1999) +
– Field Recordings, 1995-2002 (Touch, 2002)
FENNESZ, O’ROURKE, REHBERG – The Magic Sound of Fenn o’Berg (Mego, 1999)
FORT LAUDERDALE – Time Is Of The Essence (Memphis Industries, 2001)
FRIDGE – Ceefax (Output, 1997) +
– Eph (Go Beat, 1999)
FUXA – 3 Field Rotation (Ché, 1996) +
– Very Well Organized (Ché, 1996)
– Accretion (Mind Expansion, 1998)
F. X. RANDOMIZ – Goflex (a-Musik, 1997)*
GAS – Pop (Mille Plateaux, 2000) +
GASTR DEL SOL – Upgrade & Afterlife (Drag City, 1996) +
– Camoufleur (Domino, 1998) +
GENERAL MAGIC – Rechenkönig (Mego, 2000)
GUSTAVO LAMAS – Celeste (Traum, 1999)
– Plural (Fragil, 2000)
HOLGER HILLER – As Is (Mute, 1991) +
– Holger Hiller (Mute, 2000)
HOLOSUD – Fijnewas Afpompen (a-Musik, 1998)*
ILPO VAISANEN – Asuma (Mego, 2001)
ISAN – Beautronics (Tugboat, 1998) +
– Salamander (Morr Music, 1999)
ISOTOPE 217 – The Unstable Molecule (Thrill Jockey, 1997) +
– Utonian Automatic (Thrill Jockey, 1999)
– Who Stole the I Walkman? (Thrill Jockey, 2000)
JAN JELINEK – Computer Soup (Audiosphere, 2002)
JESSAMINE – Another Fictionalized History (Histrionic, 1997)
JIM O’ROURKE – Bad Timing (Drag City, 1997)*
KLANKRIEG – Radionik (Cling Film, 1999)
KONRAD KRAFT – Alien Atmospheres (Elektro-Smog, 1996) +
KREIDLER – Weekend (Kiff, 1996) +
– Appearance In The Park (Kiff, 1998)*
LABRADFORD – E Luxo So (Blast First, 2000)
L@N – L@N (a-Musik, 1996)
MOUSE ON MARS – Vulvaland (Too Pure, 1994)
– Iaora Tahiti (Too Pure, 1995)*
– Autoditacker (Too Pure, 1997)
– Instrumentals – Sonig, 1998)
– Niun Niggung (Rough Trade, 1999) +
– Idiology (Sonig, 2001)
OCSID – Opening Sweep (Ash International, 2001) +
OLIVIA TREMOR CONTROL – Black Foliage, Animation Music. Volume One (Flydaddy Inc. 1999)
ORCHESTER 33 1/3 – Orchester 33 1/3 (Plag Dich Nicht, 1997)*
– Maschine Brennt (Charhizma, 1999)
PAN SONIC – A (Blast First, 2000)*
– Aaltopiiri (Blast First, 2000)
PETE NAMLOOK – Namlook VI (Fax, 1994)
– Syn 2XCD (Fax, 1994) +
– Namlook XI (Fax, 1996)
PETE NAMLOOK & CHARLES UZZELL EDWARDS – A New Consciousness 2 (Fax, 1994)
PETE NAMLOOK & LUDWIG REHBERG – The Putney II (Fax, 1994)
PLURAMON – Render Bandits (Mille Plateaux, 1998)
RADIAN – Rec.Extern (Thrill Jockey, 2002)
RECHENZENTRUM – Rechenzentrum (Kitty-Yo, 2000) +
– The John Peel Session (Kitty-Yo, 2001)
REZNICEK – Stube (Odd Size, 1996) +
ROME – Rome (Thrill Jockey, 1996)
SACK & BLUMM – Sack & Blumm (Tom, 1999)*
SALARYMAN – Salaryman (City Slang, 1996)
– Karoshi (City Slang, 1999)
SATOR ROTAS – Sator Rotas (a-Musik, 1999)
SCHLAMMPEITZIGER – Spacerokkmountainrutschquartier (a-Musik, 1997)*
SHABOTINSKI – (B)ypass (K)ill (Charhizma, 1999)
SOUL CENTER – Soul Center (W.v.B. Enterprises, 2000) +
SPRING HEEL JACK – Oddities (Thirsty Ear, 2000)
– Disappeared (Thirsty Ear, 2000)
– Masses (Thirsty Ear, 2001)
– Amassed (Thirsty Ear, 2002)*
STARS OF THE LID – Avec Laudenum (sub Rosa, 1996)
– Gravitational Pull vs. The Desire for an Aquatic Life (Kranky, 1997)
– The Tired Sounds of Stars of the Lid 2xCD (Kranky, 2001)
STEREOLAB – Emperor Tomato Ketchup (Elektra, 1996)
STEVE FISK – 999 Levels of Undo (Sub Pop, 2001)
SUPERSILENT – Supersilent 4 (Rune Grammofon, 1998)
TELE.FUNKEN – A Collection of Ice-Cream Vans Vol. 2 (Domino, 2000) +
THOMAS BRINKMANN – Rosa (Max Ernst, 2000) +
THOMAS KONER – Nunatak Gongamur (Barooni, 1990)
TIED + TICKLED TRIO – EA1 EA2 (Payola, 1999) +
TONE REC – Pholcus (Sub Rosa, 1998)*
– Coucy-Pack (Sub Rosa, 1999)
TO ROCOCO ROT – CD (Kitty-Yo, 1996) +
– Veiculo (City Slang, 1997)*
– The Amateur View (City Slang, 1999)*
TO ROCOCO ROT & I-SOUND – Music is a Hungry Ghost (City Slang, 2001) +
TORTOISE – A Digest Compendium of the Tortoise’s World (Thrill Jockey, 1994/95) +
– Millions Now Living Will Never Die (City Slang, 1996)*
– TNT (City Slang, 1998)
– Standards (Thrill Jockey, 2000)
TRANS AM – Surrender to the Night (City Slang, 1997) +
– Futureworld (Thrill Jockey, 1999)
– Red Line (Thrill Jockey, 2000)
UI – Lifelike (Southern, 1998)*
– The Iron Apple (Southern, 1999)
USER (THE) – Symphony #1 for Dot Matrix Printers (Staalplaat, 1999) +
VAINIO, VAISANEN, VEGA – Endless (Blast First, 1998)
VERT –The Köln Konzert (Sonig, 2000)
– Nine Types of Ambiguity (Sonig, 2001)
WORKSHOP – Welcome back the Workshop (Captain Trip, 1990)
– Talent (L’Age d’Or, 1995)