Arquivo de etiquetas: No Noise Reduction

Listas: Electrónica Portuguesa – 10 Discos Fundamentais

Sons

14 de Janeiro 2000


Electrónica Portuguesa


10 DISCOS FUNDAMENTAIS


NUNO CANAVARRO: Plux Quba-Música para 70 Serpentes (Ama Romanta/Moikai, 1988)
TÓ ZÉ FERREIRA: Música de Baixa Fidelidade (Ama Romanta, ed. em vinilo, 1988)
CARLOS MARIA TRINDADE & NUNO CANAVARRO: Mr. Wollogallu (União Lisboa, 1991)
TELECTU: Evil Metal (Área Total, 1992)
JOÃO PEDRO OLIVEIRA: Electronic and Computer Music (Numérica, 1993)
CARLOS ZÍNGARO: Musiques de Scène (Ananana, 1993)
NO NOISE REDUCTION: The Complete No Noise Reduction (Moneyland, 1995)
NUNO REBELO: M2 (Ananana, 1996)
VÍTOR JOAQUIM: Tales from Chãos (Ananana, 1997)
ZZZZZZZZZZZZZZZZZP!: Ficta 003 (Ananana, 1998)

No Noise Reduction – “The Complete No Noise Reduction” + Vítor Rua E Os Ressoadores – “Scratch”

Pop Rock

21 de Junho de 1995
álbuns poprock

AVARIAS

NO NOISE REDUCTION
The Complete No Noise Reduction (8)
Moneyland, distri. Música Alternativa


nnr

VITOR RUA E OS RESSOADORES
Scratch (7)
Ed. e distri. Ananana


vr

Dois conceitos alternativos para a música portuguesa. Os No Noise Reduction, de Rafael Toral e Paulo Feliciano, partem da compreensão do ruído, qualquer ruído, como célula ou tecido musical, transformado em música através de processo que podem passar pela simples recontextualização das fontes sonoras, como um leitor de CD ou vinilo riscado (ex: o som de um aspirador deixa de ser simplesmente o som de um aspirador se for colocado numa situação conceptual deslocada da sua esfera natural), ou por formas de tratamento sonoro efectuadas “a posteriori” (filtragens electrónicas, samplagens, “cut-up”). Deste tipo de operações resultaram 46 segmentos sónicos que podem ser encarados como uma espécie de “ready-mades” (objectos reinventados ou despojados das suas funções originais, apresentados como obras de arte) musicais que tanto podem incluir o processamento de fontes musicais simples, como a voz ou uma guitarra eléctrica, como agruparem-se em construções/montagens complexas e de sintaxe mais elaborada, em peças como “Stewart mix”. “Everyone else’s universe” ou “The Incredible Marvin”, que poderemos designar de canções, numa estética bastante próxima dos Negativland. Um acto de risco que começou por ser assumido há alguns anos, com a participação na colectânea “Em Tempo Real” (cujas canções estão aqui todas incluídas), e agora se desenrola na sua máxima extensão. De forma coerente e – algo que vai faltando ao meio – criativa.
O risco está de igual modo presente no compacto de Vítor Rua com os Ressoadores. Neste caso sobrelevam os conceitos de manipulação e aleatoriedade. O instrumentista dos Telectu preparou previamente instrumentos e situações musicais que depois colocou na mão dos seus “discípulos”, criando deste modo acções de interactividade entre uma base pré-programada e a “execução” – de níveis técnicos bastante díspares – em tempo real dos vários participantes, tornados extensões de Rua, ao mesmo tempo manipuláveis mas apesar de tudo com uma margem de liberdade descoberta no próprio instante do contacto. Sequências repetitivas, pequenas gravuras ambientais, cacofonias sem lógica perceptível e explorações tímbricas várias, sobretudo da guitarra, alinham-se num discurso cuja unidade advém dessa espécie de caos organizado que o anima.





No Noise Reduction – On Air

19.12.1997
No Noise Reduction
On Air (7)
Ed. e distri. Ananana

LINK (“Way Out – New Music From Portugal Vol.1” – Parte 1)
LINK (“Way Out – New Music From Portugal Vol.1” – Parte 2)

Por detrás das práticas de experimentação dos No Noise Reduction, um trio formado pelos desestruturalistas Rafael Guitarra e Paulo Feliciano, está presente um conceito estético que passa pela manipulação (leia-se “controlo”) do ruído e pela pretensão da sua recontextualização como forma de música autónoma. Se este conceito participava já das monatgens sonoras levadas a cabo no trabalho anterior da dupla, “The Complete no Noise Reduction”, marcado por experiências afins de nomes como os Negativland ou Steve Fisk, este novo “On Air” explora o universo digital através da utilização de brinquedos electrónicos, cujos módulos de produção de som são filtrados, modulados e sequenciados pela guitarra ou pelos próprios dispositivos de gravação. Encontramos o mesmo tipo de experimentação no primeiro álbum a solo de Wim Mertens, “For Amusement Only”, no qual o compositor “entrava” nos processadores electrónicos de máquinas de “flippers” para criar uma espécie de novo jogo que subvertia de forma irónica as regras do minimalismo. No caso dos No Noise Reduction trata-se antes da criação de um espaço vibratório correndo “no ar”, um “continuum” de modulações que ostentam as marcas do artificialismo, funcionando, neste caso, como subversão do ambientalismo. “On Air” trabalha com a respiração de máquinas pequenas, com as suas brincadeiras de seres sintéticos, com as suas trocas e perdas de energia, com os ritmos próprios dos seus circuitos electrónicos. O primeiro álbum de “pós-rock” nacional, enquanto experiência limite em torno de um conceito totalmente alheio à música popular.