Fuschimuschi Math-Ice – Short Stories
Negativland – Idepsipe
Steve Roach, Stephen Kent, Kenneth Newby – Halcyon Days
Peter Hammill – Everyone you Hold
Kreidler – Weekend
Legendary Pink Dots – Hallway of the Gods
Art Zoyd – Haxän
Hans-Joachim Roedelius – Sinfonia Contempora No. 1
Paul Simon – Songs from “The Capeman”
La! Neu? – Düsseldorf
Jethro Tull
Thick as a Brick (8)
Emi 100, distri. EMI – VC
À semelhança do que já acontecera com “Aqualung”, também “Thick as a Brick” volta agora a ser editado, com direito a masterização, nova embalagem – que inclui a versão completa de 28 páginas do falso jornal “St. Cleve Chronicle”, parte integrante da edição original em vinil – e uma gravação ao vivo, inédita, de 11’48’’, do título-tema, realizada em 1978 no Madison Square Garden, bem como uma entrevista com vários elementos do grupo. A presente reedição insere-se num pacote mais vasto, com outros artistas, de celebração dos 100 anos de existência do selo EMI. Se o som remasterizado de “Aqualung” deixava algo a desejar, ganhando em ênfase, mas perdendo definição em relação à versão anterior em compacto na Chrysalis, o mesmo não acontece com “Thick as a Brick”, em que este problema não existe.
“Thick as a Brick”, com data de primeira edição de 1972, é o segundo álbum conceptual dos Jethro Tull, em que ao tema central de “Aqualung”, a religião, se sucede a simulação do poema épico composto pelo menino prodígio Gerald (Little Milton) Bostock, de oito anos, referido, aliás, no próprio disco, como autor de todas as letras. À época, muita gente engoliu a história, de tal forma era conseguida a verosimilhança. A primeira página do falso jornal, escrito e impresso especialmente para o efeito, chegava ao ponto de incluir uma foto do pequeno génio, recebendo o prémio pela sua composição. “Little Milton” viria posteriormente, anunciava ainda o mesmo jornal, a ser desclassificado, em virtude de uma equipa de psiquiatras lhe ter diagnosticado desequilíbrios emocionais graves, os quais o teriam levado a escrever o seu longo poema “Thick as a Brick”, onde são perceptíveis atitudes perniciosas em relação à vida, a Deus e ao país.
É óbvio que Ian “flautista numa perna só” Anderson retomava aqui algumas das suas obsessões, já abordadas em “Aqualung”, mas amplificando a escala das suas ambições, tanto filosóficas como musicais. Para muitos, “Thick as a Brick”, com o seu tema único, dividido em múltiplos andamentos e variações, é o melhor álbum dos Jethro Tull, da fase posterior ao rhythm’n’blues progressivo dos três primeiros, “This Was” (de 1968), “Stand up” (1969) e “Benefit” (1970). Obra típica da fase dourada do progressivo, nela Ian Anderson dá largas à sua imaginação, criando melodias que interligam e intercalam mutuamente, num complexo jogo de arranjos que virá a agudizar-se ainda mais no álbum seguinte, “A Passion Play” (seguindo a mesma estrutura base, de um único tema separado por secções), quanto a nós, aquele em que as capacidades de Ian Anderson melhor se adaptaram aos cânones do progressivo. Em “Thick as a Brick”, as frases melódicas recorrentes, as vocalizações trovadorescas de Anderson e os teclados omnipresentes de John Evan criam uma trama de sugestões e ideias que resistiram até hoje ao desgaste do tempo.
“Thick as a Brick” é um trabalho fundamental dos anos 70, quando todos os excessos eram permitidos, ainda para mais enriquecido pelos pormenores atrás apontados, de acordo com uma estratégia editorial que, estamos em crer, se irá prolongar pela obra posterior do grupo.
Neil Young
Year of the Horse (8)
Reprise, distri. Warner Music
Querem arrumar Neil Young na gaveta dos clássicos, só que ele não deixa. Aos 52 anos de idade, o cantor canadiano foi homenageado pela indústria, entrando para o Rock and Roll Hall of Fame. Neil Young respondeu com uma recusa, alegando que o prémio se transformou, hoje, num mero veículo promocional e lucrativo do canal de televisãoVH1.
O cineasta Jim Jarmusch prestou-lhe outro tipo de homenagem, realizando a partir dos espectáculos de Neil Young com os Crazy Horse uma longa-metragem, “Year of the Horse”, da qual o presente álbum, registado ao vivo durante a digressão realizada no ano passado pela Europa e pelos Estados Unidos, é uma espécie de banda sonora. Considerado “padrinho do grunge” pelas gerações mais jovens, Young recusa a acomodação e o envelhecimento e “Year of the Horse” é prova disso. À medida que os anos passam, o velho “rocker” parece redobrar a energia e a revolta com que entrega a sua voz magoada e a sua guitarra enrouquecida aos delírios da electricidade. Na sequência de “Weld” e “Ragged Glory”, este novo trabalho recupera temas dos Crazy Horse, como “When you dance”, ou da primeira banda importante a que pertenceu, os Buffalo Springfield, como “Mr. Soul”.
A força das interpretações chega a ser avassaladora, com Neil Young a rubricar, uma em cada disco, dois momentos de antologia. O primeiro, “When your lonely heart breaks”, é uma longa despedida marcada pelo tom desesperado da voz e por uma batida implacável. A guitarra chora. No segundo disco, reservado às deambulações mais “free” e onde a fúria das guitarras investe até à loucura do ruído puro, destaca-se o derradeiro tema, “Sedan delivery” – “Smell the horse on this one!”, exclama o autor no início –, viagem arrebatadora ao inferno do pó. As guitarras revolvem-se na sua adição ao “noise” e à distorção enquanto o ritmo e as palavras aceleram num hino sem freio nos dentes à confrontação eterna, quebrado por momentos de reflexão onde o passado atravessa a ilusão do presente. Canção em duas velocidades, que a cada momento se cruzam e confundem, representa a fuga em frente e o grito que perdurará até à morte, enquanto Neil Young permanecer de pé empunhando a bandeira esfarrapada do rock’n’roll.