pop rock >> quarta-feira >> 01.02.1995
Realejo Lança Primeiro Disco Na Primavera
NO REINO DA SANFONA

Aguardada com bastante expectativa desde há algum tempo, a estreia discográfica do grupo Realejo, de Coimbra, deverá ter lugar no princípio da Primavera. O produtor será Luís Pedro Fonseca e a gravação do disco, que terá o selo Alma Lusa, acontecerá no período entre 6 e 10 de Fevereiro.
O reportório será constituído por temas compostos pelo grupo e por outros de raiz tradicional, “mas fora daquele contexto popularucho que tem por aí andado”, diz Fernando Meireles, para quem o disco dos Realejo “já estava para ser feito há muito tempo”. Se tal não aconteceu, isso deve-se, nas suas palavras, a que “o primeiro contacto feito, com a Aura estúdio”, no sentido de gravar “um disco histórico sobre a sanfona”, não resultou. “Eles gravavam o disco mas não faziam o investimento necessário. Falámos com a Câmara de Coimbra, com a Secretaria de Estado da Cultura, toda a gente se prontificou a apoiar o disco. Tudo muito bem, só que fiquei à espera e os subsídios nunca mais vieram”. O actual projecto dos Realejo mudou entretanto, não tendo nada que ver com o anterior, centrado exclusivamente na sanfona, embora este seja, obviamente, 0 “instrumento privilegiado”. Nos planos dos Realejo está também o lançamento do álbum no estrangeiro, para tal estando a ser feitos contactos com a Etnia, que procurará coloca-lo no circuito internacional.
A actual formação da banda é composta por Fernando Meireles (sanfona, bandolim e cavaquinho), Amadeu Magalhães (gaita-de-foles, flautas, cavaquinho, sanfona, braguesa e concertina), Manuel Rocha (violino e bandolim) e Rui Seabra (guitarra), aos quais se juntou um quinto elemento, Ofélia Ribeiro, no violoncelo. A estética do grupo, essa, mantém-se, com uma componente quase de música de câmara. “Com os instrumentos que temos, que são de boa qualidade e servem para todo o tipo de música”, diz Fernando Meireles, que, além de ser músico, é construtor de sanfonas e vários cordofones. “Fazemos dois tipos de concerto completamente distintos, um mais intimista, feito em museus, capelas, salas pequenas, e outro em locais mais abertos, para um público mais vasto e com um tipo de música mais extrovertida”.
No ano que passou a actividade dos Realejo saldou-se por um número recorde de 30 concertos e pela participação numa compilação de música tradicional portuguesa editada pela editora francesa Silex.
O disco vai integrar estas duas facetas, alternando “temas mais antigos, com maior investigação sobre a sanfona”, com “outros mais acessíveis e imediatos”. Uma das intenções da banda continua a ser, de resto, a de “levar as pessoas a conhecerem as várias vertentes de um instrumento [a sanfona] do qual as pessoas têm em geral uma ideia totalmente errada, associando-lhe um sentido jocoso e pejorativo”. Uma ideia falsa, já que, para Meireles, a sanfona é um instrumento cheio de potencialidades, embora “não haja em Portugal uma escola”. “Ouve-se uns discos e temos que partir daí”. Fernando Meireles ouve bons executantes na sanfona: Valentin Clastrier, Nigel Eaton, Gilles Chabenat, para perceber um bocado a funcionalidade do instrumento.
Meireles continua entretanto a sua segunda actividade, de construtor de instrumentos. De sanfonas, mas não só. Quando o Realejo precisou de uma concertina, Meireles queis uma “que desse com a estética bonita” do grupo. “Como não encontrei nenhuma”, diz, “tive eu que a fazer.”
















