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Tony Wakeford – “LUZ NEGRA TONY WAKEFORD”

pop rock >> quarta-feira >> 29.03.1995


LUZ NEGRA
TONY WAKEFORD
Gartejo – Abril – Domingo – 2 – 22h30


Tony Wakeford, mentor dos Sol Invictus e representante da corrente obscura / pagã / ritualista que vai escurecendo o mundo com a sua “luz negra”, actua na Gartejo. Antes dos Sol Invictus, Tony Wakeford integrou os Death In June, “folkies” do demónio, banda de culto em Portugal, ao lado de outras como os Current 93 ou os Sixth Comm, adeptas de Crowley, do anticristo e de um misticismo de sinal invertido. Sol Invictus, ou Tony Wakeford, é um projecto que alia a música e filosofia, técnica e religiosidade, beleza e disformidade. Para alguns, esta música poderá ser elevatória. Para outros, uma armadilha. É de certeza ambígua, resultado de uma atitude expressa desde o início no título do primeiro álbum do “grupo”, “Against The Modern World”. Tony Wakeford virá acompanhado de um músico-mistério, sabendo-se apenas que já colaborou com os Sol Invictus.

Ficções – “FICÇÕES TELEPÁTICAS”

pop rock >> quarta-feira >> 15.03.1995


FICÇÕES TELEPÁTICAS



“DANÇA DA LUA” É O TÍTULO DO SEGUNDO álbum do grupo Ficções, com lançamento previsto para finais da Primavera e selo Polygram. Ao contrário do disco de estreia, em que participou cerca de uma dezena de convidados, o novo registo tira maior partido das possibilidades interpretativas e de diálogo entre os três principais músicos da banda, Rui Luís Pereira (Dudas), na guitarra e kalimba, Yuri Daniel, baixo eléctrico, e Alexandre Frazão, bateria e percussões, aos quais se juntaram, nas gravações, o teclista Alexandre Manaia e o saxofonista-soprano Jorge Reis. “Há temas muito mais improvisados”, diz Dudas, destacando neste novo álbum “uma maior liberdade” e “uma sonoridade mais crua”. “Porque é que a gente há-de tocar todos ao molho e fé em Deus?”, pergunta Dudas, aludindo aos temas baseados no trio guitarra, baixo e bateria. Alexandre Frazão refere mesmo uma “empatia telepática” existente entre os músicos, fruto de um conhecimento mútuo que foi crescendo ao longo dos sete anos que os Ficções já levam de exist~encia. “Não é preciso dizer o que o outro vai fazer. As coisas simplesmente acontecem.”
De um disco para outro transitou a apetência dos Ficções pelos sons de tradições musicais não ocidentais, nomeadamente do Brasil, África e Oriente. “Dança da Lua” inclui um “Choro espreguiçado”, de influência brasileira, uma “Dança crioula” e outros temas, como “Tao”, “Kwela p’ró Mandela” e “Zambra”, que remetem para ficções sonoras em que se cruzam linhas de força musicais de proveniências diversas. Há mesmo a interpretação de um tema do alaudista árabe Rabih Abou Khalil, “Nadim”, e a presença de um tocador de kora guineense, Sadjo Djolo Koiaté, em “Kalimba II”, continuação de um tema do mesmo nome presente no primeiro disco da banda. “É uma filosofia que a gente tem, o que nos define, estarmos virados para o Atlântico. Há a procura musical e até filosófica, de fundir vários elementos que têm a ver connosco. Na nossa música está patente a diáspora da cultura portuguesa”, explica Dudas, enquanto o baterista diz que se trata apenas de “sintetizar” tudo aquilo de que o grupo gosta.
Em “Danças da Lua”, obra inteiramente instrumental, as sonoridades étnicas do kora ou da kalimba entram em diálogo com as novas tecnologias, como a nova guitarra Midi que Dudas adquiriu recentemente em França. “Procuramos sempre referências étnicas. O facto de se usar um sintetizador permite trabalhar esses timbres. Uma das componentes da nossa composição é a pesquisa tímbrica. A mistura dos timbres electróncios com os acústicos.”
Pouco divulgada em Portugal, em parte “por culpa dos ‘media’, que nunca deram muito apoio”, mas também devido à dificuldade extra de ser instrumental, é no estrangeiro que a música dos Ficções tem sido mais bem recebida, sendo colocada ao lado de experiências de fusão do mesmo tipo e comparada a nomes como Vicente Mendonza, Carlos Benavente ou Jorge Pardo. Em França, por exemplo, houve quem definisse o som do grupo como “nova música mediterrânica”. Mesmo assim, o primeiro disco teve, segundo dizem, “um sucesso razoável”, traduzido em vendas na ordem dos 1300 exemplares. “É o primeiro grupo instrumental que chega ao segundo disco”, afirma, com orgulho, Alexandre Frazão. “Somos teimosos, queremos que as pessoas prestem mais atenção ao que fazemos.”

Quadrilha – “Até O Diabo Dança – A QUADRILHA”

pop rock >> quarta-feira >> 08.03.1995


Até O Diabo Dança
A QUADRILHA



“ATÉ O DIABO SE RIA” É O título do segundo álbum do grupo de música de raiz tradicional Quadrilha, primeiro com o selo Polygram, com lançamento previsto para o início da Primavera. O novo álbum assinala mudanças significativas em relação à estreia, “Contos de Fragas e Pragas” já que, segundo Sebastião Antunes, guitarrista e vocalista da banda, “este ficou muito longe” do que a banda queria fazer”: “Recorreu-se muito aos sintetizadores, por não haver quem tocasse outros instrumentos”. O novo disco, embora só tenha temas originais, ainda que com influências da música popular, sobretudo do Norte do país, terá “um som mais folk, mais acústico, muito marcado pela raiz celta, um híbrido entre a música tradicional portuguesa e apop rock celta”. A esta inflexão não é alheia a presença no disco dos músicos convidados, João Ramos, no violino, Fernando Pereira e Pedro d’Orey, vozes (os três fazem parte dos Romanças, grupo de que os Quadrilha são amigos e com o qual costumam tocar na 2Taverna dos Trovadores”, bar de música tradicional situado em Sintra), Carlos Guerreiro, na sanfona, e Rui Vaz, nas tablas, ambos dos Gaiteiros de Lisboa.
Quanto ao celtismo, assumido “de forma relativa e por uma questão de gosto, já que é tudo cantado me português e com uma métrica mais ligada ao tradicional português” pelo grupo – além de Sebastião Antunes, Paulo Marques, teclados, Mário Santos, bateria e caixas populares, e Rui Neves, baixo -, é uma vertente que será desenvolvida com mais força num projectoparalelo, designado Caldo de Pedra, do qual fazem parte dois elementos dos Romanças e outros dois do Quadrilha, incluindo Sebastião Antunes. Do reportório dos Caldo de Pedra constam temas tradicionais da Galiza (ensinados pela cantora Uxia) e da Irlanda, algo derivado das preferências de audição de Sebastião Antunes, que cita por exemplo nomes como Citania, Brath, Brelema, Emilio Cao, Milladoiro e Xorima, da Galiza, os irlandeses Altan, Planxty e Patrick Street, ou os escoceses Tannahill Weavers e Capercaillie.
Os Quadrilha partirão para a estrada após o lançamento do disco, com a companhia de um quinto elemento, João Ramos, o já citado violinista dos Romanças.