Genesis – “Sem As Asas Do Arcanjo” (televisão)

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 22 AGOSTO 1990 >> Local

RTP

Sem as asas do arcanjo

DOIS GRUPOS distintos, com a mesma designação: Genesis. Antes e depois de Peter Gabriel. Infinitamente mais interessantes e inovadores na primeira fase, aquela em que contavam com os sonhos surreais e as vocalizações teatralizadas do arcanjo Gabriel. “From Genesis to Revelation”, assim se chamava o disco estreia, capa negra, música devedora dos sinfonismos caros aos Moody Blues, textos prenunciadores dos delírios poético-fantásticos que estavam para vir. A editora era a Decca, não alertada para o grande “boom” da música progressiva, prestes a eclodir na passagem para a década de Setenta. A era de oiro desenrolou-se na Charisma, editora onde despontaram grupos importantes do movimento como os de Jackson Heights, Audience e, sobretudo, os Van Der Graaf Generator, de Peter Hammill, ao lado de Peter Gabriel, um dos maiores poetas que a Pop já conheceu.
“Trespass”, “Nursery Cryme”, “Foxtrot”, “Selling England by the Pound”, universos de fábula pontuados pelo humor negro muito britânico e a extraordinária capacidade de Gabriel em criar histórias e personagens que aliavam o feérico das palavras à complexidade barroca de uma música servida por excelentes executantes, como eram e continuam a ser, o guitarrista Steve Hackett, o baixista Michael Rutherford, o teclista Tony Banks e Phil Collins, evidentemente. Com a obra-prima “The Lamb Lies down on Brodway”, os Genesis atingem o auge e Peter Gabriel parte para novas aventuras a solo.
Phil Collins tinha o caminho livre. A partir de “A Trick of the Tail”, já sem Gabriel, a personalidade e imagem da banda desvanecem-se progressivamente. Mas foi só quando Phil começou a cantar que os milhões começaram a aparecer. A partir de aí a história passou a ser outra. Hoje, ao lado de Phil Collins (que praticamente abandonou a bateria), permanecem Tony Banks e Mike Rutherford, aos quais se juntaram Daryl Strummer e Chester Thompson. Vamos vê-los ao vivo, no estádio de Wembley, em julho de 1987, interpretando canções recentes de “Invisible Touch” e outras mais antigas, anteriores glórias. Sem as asas do arcanjo, os Genesis deixaram de voar.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.