Pop Rock
2 OUTUBRO 1991
Raízes
Caminho d’Água
LP, distri. Euro cartel
Tempo das vacas magras na música popular portuguesa de raiz tradicional. Escasseiam os grupos e, pior que isso, escasseiam as ideias. Depois da desilusão do novo Maio Moço, afundados no lodo da folclorite mais comercial, os Raízes elevam-se um pouco mais alto, incorrendo embora no mal que parece estar a afectar, pelo menos em disco, os (poucos) representantes do género actualmente no activo – a normalização em termos de produção, a “limpeza” anti-séptica do som, neste caso determinado em parte (em temas como “Caminho d’água”, a “Quadrilha” dos cavaquinhos ou a desolação da “Ilha dos amores” pelo dedo, na consola, de Júlio Pereira.
Desistindo, até ver, do tratamento sistemático de temas exclusivamente tradicionais, como acontecia no excelente “Diabo Do Belho!…”, os Raízes parecem hesitar entre essa via e uma percentagem mais alargada de composições do grupo. Opção a que não serão alheias as alterações entretanto registadas no seio da formação e as prováveis imposições da entidade que patrocinou e editou todo o projecto. Dom tom “bonitinho” predominante (o título-tema é neste aspecto elucidativo quanto á sonoridade geral), destacam-se a força de “Tim-Tim por Tim-Tim”, curiosamente evocativo das toadas bretãs, o ribombar poderoso e o picaresco de “Quando o meu compadre”, o original “De Bayona a Santa Tecla”, peregrinação aos lugares mágicos onde a alma se queda encantada nas veredas abertas entre a terra e o mar e a cadência despojada e nostálgica de um “S. Miguel” apaixonado. ***