Arquivo mensal: Maio 2010

Cristina Branco – Na Barca Com Ulisses

07.01.2005
Na Barca Com Ulisses

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“Venham meus amigos, Não é demasiado tarde para partir em busca de um mundo novo, porque sempre tive o propósito de viajar para além do crepúsculo…”. Este extracto do poema “Ulysse”, de Alfred Lord Tennyson (1809-1883), impresso no interior da capa do disco de Cristina Branco, serve de legenda a um projecto de intenções que a cantora vem pondo em prática desde o início da sua carreira. “Ulisses” é mais uma viagem que parte do fado para chegar a um canto universal que tem na saudade a sua vela e a sua âncora. Cristina Branco nunca quis confinar-se à estrita condição de fadista. Isso seria limitar os seus sonhos, a inquietude da descoberta. “Ulisses” é um périplo por várias músicas, poesias, línguas e geografias.
“Sonhei que estava em Portugal”, tema de abertura, apresenta Cristina a cantar com sotaque brasileiro um poema de João de Barros. Logo a seguir, em “Alfonsina y el mar”, o idioma escolhido é o castelhano. O sentimento ultrapassa a formulação de estilos estratificados. É uma música que a cada nota parte em demanda de novos portos. “Sete pedaços de vento” é a primeira composição com a assinatura de Custódio Castelo, uma vez mais condutor musical do projecto. Imaculada é a versão de “Redondo vocábulo”, de José Afonso, servido por distinta impressão digital do piano de Ricardo Dias.
A surpresa surge com “A Case of You”, tema de Joni Mitchell. Será caso para supor que a portuguesa e a canadiana são irmãs espirituais. Cristina toca nos timbres, nas acentuações e nas ornamentações de Joni. Joga com as mesmas luzes e sombras. O caminho fica aberto a todas as ousadias.
Ricardo Dias e Vitorino criaram um ambiente que de início sugere Paredes, em “Navio Triste” e “Soneto” é uma nova apropriação da poesia de Camões, com sabor a música antiga e a Chico Buarque criado por Castelo. “Choro” é equilíbrio perfeito entre a guitarra portuguesa de Castelo e o piano de Dias em notável exemplo de nova MPP com raízes na tradição folk. Depois do castelhano e do inglês, o francês é utilizado por Cristina Branco para interpretar a “Liberté” de Paul Éluard, exercício Breliano, um tipo de energia por enquanto ainda afastada da sensibilidade da cantora. O “Cristal” de Vasco Graça Moura e Castelo é mais neo-folk-progressiva idealizada a grande altura, com sensual vocalização e “Porque me olhas assim” satisfaz as exigências da autoria de Fausto. Custódio Castelo cria sobre as palavras de David Mourão-Ferreira, Júlio Pomar e Alexandre O’Neill, respectivamente em “E Por Vezes”, “Meu amor corre-me o corpo” e numa “Gaivota” onde pela primeira vez a cantora assume o vocabulário e a postura fadistas. “Ulisses” fecha com um instrumental de Castelo. Chama-se “Fundos” mas tem a leveza da “new age” e, no final, a provocação de uma batida “drum ‘n’ bass”. A viagem não poderia afastar-se mais das convenções.
Cristina Branco chama-lhe um “encontro com o amor, desta vez um amor satisfeito e assumido”, e um toque de liberdade – “de escolher um itinerário próprio ao fim da vitória sobre tantas contrariedades”.

XTC Gravam Com Orquestra – Entrevista –

16.04.1999
XTC Gravam Com Orquestra
Licor de Maçã

“Apple Venus, Volume One” é o álbum da luxúria dos XTC. A pena de um pavão onde se esconde a imagem da vulva de uma mulher. No planeta Vénus, Andy Partridge, herdeiro dos segredos pop de Paul McCartney e Ray Davies, faz escorrer da orquestra licor de maçã. Collin Moulding, o seu parceiro, falou ao PÚBLICO dos caminhos que levaram à feitura daquele que é o melhor álbum dos XTC desde “Skylarking”.

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Foi preciso esperar sete anos para os XTC ultrapassarem o problema legal que levou à ruptura da banda com a Virgin. Tempo aproveitado para a maturação de uma galáxia de canções inglesas até ao caroço e tão suculentas como um pomar de melodias com raízes nos anos 60.
FM – “Apple Venus” é um álbum magnífico, um dos melhores de sempre da banda, sem dúvida o melhor desde “Skylarking”. Concorda?
COLLIN MOULDING – Toda a gente diz isso. É um álbum que flui como um todo, algo que nem sempre conseguimos fazer antes. É, sem dúvida, o trabalho mais coerente desde “Skylarking”.
FM – Nota-se o prazer que tiveram em tirar o máximo partido das possibilidades oferecidas pelo estúdio. O prazer de manusear um brinquedo?
COLLIN MOULDING – Prefiro pensar que decorámos as canções apenas com aquilo de que elas precisavam, nada mais do que cada uma delas pudesse aguentar. Tratou-se de encontrar o vestuário certo para cada letra específica.
FM – Correm rumores de que “Apple Venus” esteve mesmo para ser o primeiro álbum a solo de Andy Partridge. É verdade?
COLLIN MOULDING – Quem disse iso foi Dave Gregory, o nosso ex-teclista, mas ele não tem razão. O álbum é o resultado de um esforço conjunto. Na realidade, o Dave não gostpu muito da ideia de fazer este álbum, nem sequer queria gravá-lo. ele toca no disco, como é que podia ser um disco a solo do Andy? Penso que ele disse isso em desespero.
FM – Poquê desespero?
COLLIN MOULDING – Porque se sentia infeliz e tinha que o demonstrar. ele nunca esteve de acordo em fazer um álbum com orquestra, preferia usar mais guitarras eléctricas, esse tipo de sonoridade. Mas se fizéssemos isso, estaríamos a repetir algo que já tínhamos feito em “Nonsuch”.
FM – Ao longo de todos estes anos, houve momentos de tensão, mesmo de alguma rivalidade, entre vocês e Andy. Andy foi sempre uma espécie de Lennon e McCartney ao mesmo tempo, enquanto você representou o papel de George Harrison, com contribuições muito mais esporádicas para o som do grupo. Sente-se confortável nessa posição?
COLLIN MOULDING – Andy escreve mais do que eu. Não se trata de uma divisão de 50 por cento para cada um. Digamos que eu fico com 25 por cento para mim…
FM – Consta que ele tinha na carteira 40 canções para este álbum e você, seis…
COLLIN MOULDING – Os números não são bem esses… Há aí um certo exagero da parte dele. É verdade que ele tinha mais canções do que eu, mas a verdade é que elas são todas boas. E é ele quem toma as decisões. Mas, quando é preciso, também imponho os meus pontos de vista.
FM – A questão que se pode pôr é se as próprias canções de Andy seriam as mesmas sem o seu “input”…
COLLIN MOULDING – Sim, gosto de pensar que assim acontece. E, provavelmente, ele também influencia a minha escrita. No estúdio, pedimos sempre a opinião do outro. Ele pergunta-me se as suas canções precisam de mais alguma coisa. Há um ponto em que só a imaginação de uma pessoa não chega para fazer avançar uma canção. Temos funcionado bem desta maneira nos últimos 20 anos, não vejo razão para mudarmos.
FM – Antes de “Apple Venus”, editaram uma caixa com gravações ao vivo antigas para a BBC. Não acha que foi uma operação algo desnecessária, que não veio trazer nada de novo ao que já se conhecia da banda?
COLLIN MOULDING – A questão é que essas gravações para a BBC já estavam feitas há muito tempo e haveria sempre alguém para as explorar. Se não fôssemos nós, outra pessoa qualquer o faria, foi assim que nos foi apresentado o assunto. Corríamos o perigo de alguém comprar a licença de edição dessas gravações e editá-las de qualque rmaneira, ou de uma maneira com a qual poderíamos não concordar. Assim, tomámos nós a iniciativa e apresentámos nós próprios esse material. Foi uma questão de controlo.
FM – Enter “Nonsuch” e o novo álbum há um intervalo de sete anos. Foi preciso todo este tempo para encontrarem inspiração?
COLLIN MOULDING – A questão é que, depois de 20 anos a gravarmos para a Virgin, não queríamos voltar a gravar para esta editora. É um assunto já batido, o contrato, que achamos injusto, que existia entre nós e a Virgin. Não quisemos desperdiçar, ou não ter qualquer compensação monetária, o material que tínhamos composto. Por isso estivemos todo este tempo sem trabalhar para o grupo, embora nos envolvêssemos em projectos com outras pessoas. No mesu caso trabalhei com uma banda francesa, Láffair Louie Triel [NR: Ou assim nos soou o nome, atavés do telefone…]. Também toquei e produzi um tema de um álbum da mulhar de T-Bone Burnett, Sam Philips, “Martinis & Bikinis”.
FM – Além dos Beatles, evidentemente, os Kinks sobrevoam como uma nuvem “Apple & Venus”. “I’d Like That”, por exemplo, é um tema tão marcado por Ray Davies que até esconde na letra uma tal “Victoria”…
COLLIN MOULDING – Sim, Ray Davies anda sempre por aí… É, sem dúvida, o artista que mais influencia o Andy. Mas há também os Beach Boys, Burt Bacharach e autores de musicais como a dupla Rodgers & Hammerstein. Uma das “críticas”, ou opiniões, que mais temos ouvido nos últimos tempos é que muitas das canções do álbum parecem ter sido retiradas de peças musicais. a mim isso agrada-me. Tanto eu como Andy adoramos bandas sonoras. É um género musical que está hoje mais ou menos morto e que gostaríamos de poder reavivar. Hoje em dia o que se faz é enfiar à força numa banda sonora um êxito pop qualquer. Não se escreve nada com qualidade de propósito para o filme. Gostaríamos de compor um dia algo tão bom como “What’s New, Pussycat”, por exemplo.
FM – “Apple Venus” é o “Sgt. Pepper’s” dos XTC?
COLLIN MOULDING – Não sei. Só sei que é um dos meus discos preferidos dos XTC. E a resposta tem sido boa em toda a parte. As pessoas parecem gostar. O facto de usarmos uma orquestra também afastou algumas pessoas. O facto de haver texturas orquestrais em vez de texturas mais tradicionais, de guitarra. Mas continuam a ser, apenas, canções pop…
FM – “Knights in shining karma” é um tema misterioso, dos mais misteriosos do disco. Fala de quê?
COLLIN MOULDING – Isso também eu gostaria de saber! (risos). não fui eu que escrevi o tema, por isso é difícil avaliá-lo.
FM – Já houve quem dissesse que muita gente acha a música dos XTC brilhante, mas não faz a mínima ideia de que é que tratam as letras. Acha isso?
COLLIN MOULDING – No meu caso, penso que escrevo de uma forma bastante literal. Uma escrita muito clássica. Gosto de coisas directas, de estabelecer uma relação directa com os ouvintes. As pessoas vivem as canções, por isso gosto de escrever sobre sentimentos simples com que as pessoas se possam relacionar. Uma das minhas canções deste álbum, “Frivolous tonight”, provoca esse efeito, torna o coração de quem a ouve leve. Já ninguém quer escrever este tipo de canções, como “Big spender”, de Shirley Bassey, canções ligeiras. As novas bandas, especialmente as mais novas, escrevem todas sobre assuntos escuros e pesados, pensando que é a única maneira de serem levados a sério e isso não é verdade. A escrita de Andy é mais complexa. Tenm sentidos ocultos, há sempre um lado que não é revelado e que exige um trabalho difícil de decifração. “Knights in shining karma” é um desses temas. não sei o que significa mas sei que é para ser ouvido em momentos de solidão.
FM – Por falar em letras, é a primeira vez, se não estou em erro, que não aparecem impressas na capa, não é?
COLLIN MOULDING – Boa pergunta! Pessoalmente, preferia que as letras aparecessem, mas o Andy insistiu que, desta vez, não. Não percebi bem porquê, devo confessar. Um livrete não ficaria nada mal. O Andy achou que as pessoas deveriam ficar mais entregues a si próprias. Mas se houver pânico e gritos a pedir ajuda, com certeza que as incluiremos numa próxima impressão [risos].
FM – Quem teve a ideia para a capa?
COLLIN MOULDING – Foi tirada de um livro de arte editado nos anos 50, onde aparecia esta figura da pena de um pavão, fotografada em folha de alumínio muito brilhante. Visualmente, resulta muito forte. Se olhar bem para o centro da pena, há-de reparar numa forma, uma sombra, muito ambígua, que tanto pode ser interpretada como uma maçã como uma vulva de uma mulher, daí o título “Apple Venus”. Uma conotação sexual. Muita da música do disco está associada a esta ambiguidade.
FM – Presumo que, a seguir, sairá um “Apple Venus, Volume Two”?
COLLIN MOULDING – Incluímos este grupo de canções num volume 1 porque era este o som que nos apetecia fazer, deixando de lado as guitarras eléctricas. Mas a verdade é que ficaram de fora canções com guitarra eléctrica e vamos ter de as gravar. Por isso vamos começar a trabalhar, daqui a alguns meses, num volume 2, que será um álbum cheio de material à base de guitarra, a sair, talvez, em Fevereiro do próximo ano.

Trans AM Citam Radiohead Em “Futureworld” – Entrevista –

16.04.1999
Trans AM Citam Radiohead Em “Futureworld”

O.K. Computador

Depois de três álbuns “escuros” e de uma fecunda pescaria nos anos 70, os Trans AM pintaram-se de branco e foram buscar alimento à década seguinte, num novo trabalho, “Futureworld”, em que, apesar da herança incontornável dos Kraftwerk, puseram um pé no funk e outro no electropop. Enquanto se preparam para entrar no ano 2000 como uma banda de guitarras.

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Trans Am – Futureworld live from Thrill Jockey Records on Vimeo.

Um anos depois de “The Surveillance”, a banda de Chicago regressou mais poderosa do que nunca, com um álbum carregado de electricidade e distorção, mas também de melodias para dançar. Phil Manley falou ao PÚBLICO dos preparativos para a entrada no novo milénio.
FM – O tema de abertura de “Futureworld” tem por título “a999”. É alguma declaração sobre o ano em curso, ou sobre o final do milénio?
PHIL MANLEY – É um tema com um som muito “cool”, com saxofone e um naipe de cordas. Faz lembrar um pouco uma canção dos Funkadelic, “Megaprint”, com um solo que parece interminável. Escolhemos o título empurrados por toda esta febre do final do milénio, mas também por ser uma espécie de homenagem a Prince e à sua canção com este mesmo nome.
FM – Qual a sua opinião sobre a música que se tem feito nestes últimos anos?
PHIL MANLEY – Não sei… Tenho de admitir que ando um bocado fora de tudo. Normalmente a música que ouço é mais antiga. Acabei de ouvir, por exemplo, um álbum dos Black Sabbath, “Masters of Reality”. Adorei.
FM – No tema seguinte utilizam um Vocoder. Penso que pela primeira vez. Tentaram criar uma voz de robô, como a dos Menmachine dos Kraftwerk?
PHIL MANLEY – Exactamente. Cantar é uma coisa algo difícil para nós. Por isso refugiámo-nos atrás da máquina.
FM – Este tema usa uma melodia que parece decalcada dos Tubeway Army, de Gary Numan. foi propositado?
PHIL MANLEY – Acha? Adoramos Gary Numan, é capaz de criar melodias fantásticas e de extrema simplicidade. Mas não foi intencional, embora não me surpreenda que ache o tema parecido com os Tubeway Army…
FM – Depois do “krautrock” dos anos 70, dá a impressão de que as bandas conotadas com o pós-rock estão a assimilar influências dos anos 80, Human League, Cabaret Voltaire, Clock DVA. Isto também acontece com os Trans AM?
PHIL MANLEY – A maior parte das pessoas, ao referir-se aos anos 80, só fala de Madonna ou de Michael Jackson, quando na verdade houve muita música underground que passou totalmente despercebida. Como os Chrome, uma das minhas bandas favoritas, que têm álbuns fantásticos como “Red Exposure” ou “No Humans Allowed”. Ou os Throbbing Gristle, os Suicide, os P.I.L., a fase inicial dos New Order, tudo bandas que as pessoas não ouviam na altura.
FM – Em “Futureworld”, há uma óbvia colagem a “Radioland”, do álbum “Radio Activity”, dos Kraftwerk. Até usam a mesma palavra, “radio”…
PHIL MANLEY – Sim, é fácil para nós “roubarmos” coisas dos Kraftwerk [risod]. O problema é como é que sepode evitar isso? É como perguntar a uma banda pop de foram influenciados pelos Beatles.
FM – “Futureworld” corresponde a uma visão sobre o futuro do mundo?
PHIL MANLEY – Não sei. Gostamos de estar muito atentos ao que se passa e tentamos ser optimistas. Mas não pensamos muito no futuro. Escolhemos “Futureworld” como título porque nos pareceu um termo apelativo. Como “computer World” [dos Kraftwerk] ou “Future Days” [dos Can].
FM – No tema seguinte, “City In Flames”, pode ouvir-se uma voz ameaçadora. Corresponde a alguma personagem específica?
PHIL MANLEY – É interessante que fale numa personagem. O nosso baterista, Sebastian, interessa-se por toda a espécie de jogos de personagens [“role games”], como “Dungeons & Dragons”, que gira em torno de um ambiente com dragões e acavaleiros, aventura e fantasia. A partir daqui ele inventou uma nova personagem, com uma linguagem própria, meio humana meio lobo, gravada num registo muito grave. É assustador. Como alguém a falar-nos por cima do ombro.
FM – “AM Rhein” apresenta um ritmo e riffs de guitarra completamente rock. Os Trans AM preparam-se para ser uma “guitar band” no ano 2000?
PHIL MANLEY – Espero que sim [risos]. A guitarra continua a ser o meu principal instrumento e o Nathan é, sem dúvida, um baixista tradicional. Não tencionamos mudar. As pessoas, neste final dos anos 90, já estão fartas de cena tecno. Um destes dias vai haver de certeza um revivalismo da guitarra. Talvez só aconteça daqui a 20 anos, seja como for, poderei dizer que a toquei sempre durante este tempo todo.
FM – “Cocaine Computer” é um título bizarro para um tema delicioso. Os Trans AM renderam-se ao funk?
PHIL MANLEY – O título é uma homenagem a “O.K. Computer”, dos Radiohead. Mas é também uma espécie de desabafo numa altura em que nos estávamos a sentir chateados no estúdio. É quase uma “jam session”.
FM – O computador envia-nos alguma mensagem?
PHIL MANLEY – Não. Nenhuma. Somos bastante amadores no que respeita aos computadores. Temos um computador já antigo. Todo o trabalho de electrónica mais difícil do álbum foi feito pelo Sebastian, num velho Atari que ele programou em Basic.
FM – Depois de “Futureworld”, surge um “Futureworld II”. Trata-se de algum futuro alternativo?
PHIL MANLEY -Fizemos um “Futureworld II” porque não tínhamos mais nenhum título para essa canção… Também nos agradou fazer algo semelhente ao que fizeram os Police, em “Synchronicity”, um e dois. Mas também é possível, de facto, encarar o tema como essa tal alternativa, já que uma das versões tem letra enquanto a outra é muito mais abstracta. E assustadora, na maneira como começa, com o som em chuva…
FM – Como em “Blade Runner”?
PHIL MANLEY – Exactamente.
FM – “Sad and Young” parece quase ter sido feito por uma banda diferente. Não soa a nada que apareça paea trás no álbum… É uma despedida ou um lamento?
PHIL MANLEY – É um lamento. Percebo o que quer dizer, soa de facto a algo produzido numa sessão de gravação diferente. Está cheio de guitarras e do som de órgão. É um tema orgânico…
FM – Jonas, uma personagem de Alain Resnais, fará 20 anos no ano 2000. O que poderá esperar um jovem de 20 anos do próximo milénio?
PHIL MANLEY – Toda a gente está a ficar apanhada pela ideia de que tudo mudará radicalmente no próximo milénio, mas penso que não haverá assim tantas mudanças, embora eu esteja convencido de que a economia global do planeta irá entrar em colapso e que a pobreza aumentará.
FM – A capa de “Futureworld” mostra um horizonte virtual completamente branco e vazio…
PHIL MANLEY – Certo. Gostamos dessa imagem. Mas, por outro lado, a capa é branca e verde por outra razão. Queríamos uma imagem com brilho…
FM – Como um monitor de computador?
PHIL MANLEY – Sim, algo que desse uma ideia mais positiva, até porque os nossos três primeiros álbuns são todos bastante escuros.
FM – A ideia final que “Futureworld” me sugere é a de uma viagem puramente mental, através de um computador, como se se tivesse perdido a ligação com o mundo exterior. É lícito concluir que o tema principal é a ilusão?
PHIL MANLEY – Sim, suponho que sim. Ou a fuga. Na tentativa de encontrar alguma esperança.
FM – Os Trans AM estão prontos para entrar no novo milénio?
PHIL MANLEY – Absolutamente. construímos um abrigo antibombas e enchemo-nos de comida enlatada [risos]. Pessoalmente, estou preparado para fazer uma enorme festa, provavelmente em Nova Iorque. É lá que costuma fazer as passagens de ano. Acontece sempre algo de louco.