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Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #132 – “Thrill Jockey, ontem (FM)”

#132 – “Thrill Jockey, ontem (FM)”

Fernando Magalhães
17.09.2002 150311
Muito resumidamente (crítica completa aos 2 dias do evento, 4ª feira):

BOBBY COHN: Bizarro, amaneirado, boa voz, showmanship e…pouco mais. A personagem sobrepôs-se à música que, pelo menos ao vivo (os discos são bastante curiosos), mostrou ser de uma vulgaridade gritante (Disco, funk, teatralidade bowieana…) – 4,5/10

THE SEA & CAKE: Ouçam os CARAVAN (de “Waterloo Lily”) e, já agora, os WIGWAM (de “Nuclear Nightclub”) e esqueçam os THE SEA & CAKE 😀
Menos radical: Foi um concerto agradável. Os tipos tocam mal mas esforçam-se. As partes melhores (leia-se, com o trompete de Mazurek, outro músico sofrível mas esforçado) foram, infelizmente, prejudicadas pelos problemas de som. – 6/10

TORTOISE: Começaram e acabaram muito bem, em força e com vontade “de castigar os ouvidos” e obrigar a uma escuta tensa e ativa, mas…, pelo meio, procuraram agradar e mostrar estatuto de “clássicos”, o que, se por um lado, prova que, efetivamente, já marcam, de facto, uma posição de destaque no universo do pós-rock, por outro, tornou enfadonhas determinadas sequências instrumentais que pareciam ser tocadas “à manivela”. Tudo muito bonitinho e agradável, o que seria a última coisa que esperaria dizer dos TORTOISE!
Momentos ouve em que parecia estar a ouvir os Stereolab. O lado “easy listening” e alguns pormenores “lounge” parecem-me indicar um certo conformismo… Mesmo assim, um bom concerto. – 7/10

Não sei porquê, mas estou com uma fézada que os TRANS AM vão arrasar hoje à noite e que vão ser o grande concerto deste “Looking for a Thrill”…

FM

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #37 – “TRANSCHAMPS”

#37 – “TRANSCHAMPS”

Fernando Magalhães
06.11.2001 160432

1ª audição dos TRANSCHAMPS (Trans AM + Fucking Champs)
“Double Exposure”

Trata-se de um mini álbum de 17 minutos, com apenas cinco temas.

Destes, há rock, pinceladas Tubeway Army (algo já visível em certos trabalhos dos Trans AM) e – pasmem – um par de temas que soam inconfudivelmente aos…YES (!!!!) da fase “Going for the One”/”Tormato”.

Pelo meio encontra-se um dos temas mais belos e misteriosos que ouvi nos últimos tempos: “First comes Sunday morning”. Suspensão de guitarra acústica, vibrafone e electrónica de nuvens.

FM

Trans AM – “Trans AM esgotam lotação na Galeria Zé dos Bois – Muita TRANSpiração e pouca TRANSgressão” (concerto)

cultura 21 de Janeiro 2000


Trans AM esgotam lotação na Galeria Zé dos Bois

Muita TRANSpiração e pouca TRANSgressão



Riff de guitarra eléctrica, feedback e solos de bateria fazem parte do vocabulário dos Trans AM. Afinal de contas, o velho rock ‘n’ roll enfeitado com futurismo kitsch. Os 150 que conseguiram entrar na ZDB aderiram à sessão de new wave, enquanto outros tantos ficaram à porta sem bilhete. Não houve crise. O povo é sereno.

Não houve motins nem ataques bombistas, como seria de esperar quando se organizam concertos com grupos tão populares como os Trans AM num espaço tão pequeno como a ZDB. Neste aspecto, a actuação do grupo norte-americano, na quarta-feira, no minúsculo cubículo do Bairro Alto, em Lisboa, decorreu com a serenidade de um encontro “new age”. Não houve feridos nem partos prematuros, nem sequer um baixo-assinado a protestar. Tudo na santa paz do Senhor.
Depois que os que ficaram de fora a chuchar no dedo se dirigirem pacatamente para os seus lares, as cerca de 150 pessoas que entraram, com bilhete ou recurso a expedientes vários, concentraram-se na actuação dos três rapazes de Washington D.C., preparados para uma lição de pós-rock. Bem entendido, só as 20 da frente conseguiram ver as caras dos professores, daí para trás dava para vislumbrar as pontas dos cabelos e as aranhas do tecto.
Foi mais uma sabatina do que uma lição. Nathan Means, Philip Manley e Sebastian Thompson, os três Trans AM, não conseguiram, como alguém dizia à saída, esconder que por detrás do rótulo de “banda electrónica”, o seu coração tende é para os Van Halen, AC/DC e outras bandas de heavy-metal. Aliás, parte do público presente, era composto por “headbangers” dispostos a abanar o capacete e a esguichar adrenalina. Esses adoraram. Os outros, mais conhecedores do pós-rock, aceitaram com relativa facilidade e alguma felicidade esta sessão de hard rock, acentuando o lado visceral e energético da coisa. Os Trans AM são retro-futuristas. Tão retro que remetem 20 anos para o passado, até uma noite numa cave mal iluminada de Manchester para ouvir música new wave. A sua música não esconde nem um bocadinho os sons onde foram beber a inspiração, sacados a discos antigos metodicamente estudados e reciclados de maneira a soarem a pós-rock, quer dizer, música suficientemente datada para poder ser utilizada com alguma distância e “atitude”.
Nas duas primeiras canções, do novo álbum “Future World”, as vozes filtradas por Vocoder e as melodias naif saíram em linha directa dos Kraftwerk do álbum “Radio Activity”. Kraftwerk mais carnudos, com bateria em vez de programações. Divertido como um filme de desenhos animados dos Jetsons.
Porém, à medida que o espectáculo foi avançando, impôs-se o lado mais rockeiro do grupo, com citações sucessivas aos Tubeway Army, New Order, devo, num contexto hard rock e, já perto do fim, a indispensável referência-reverência ao krautrock, através do mesmo compasso “martelo no prego” de “It’s a rainy day, sunshine girl”, dos Faust.
Quanto ao lado futurista, tão bem conseguido nos discos, resulta ao vivo na banda sonora de um filme de ficção científica de série B, com marcianos verdes com antenas, discos voadores em feitio de chávenas e pistolas de raio laser. Quem se lembra, em plenos anos 80, da “Music for Parties” dos Silicone Teens? Não eram pós-rockers mas já andavam vestidos com roupas metalizadas a voar em carros anti-gravitacionais por cima de casas transparentes a derramar “beep beeps” e serpentinas. Os Trans AM não brincam, levam-se a sério. O seu “Future World” tem polícias e câmaras vigilantes. Nada como o rock ‘n’ roll para agitar a bandeira do revisionismo. Dos Trans AM esperava-se mais visionarismo. Na ZDB os outrora rivais dos Tortoise (para quando um concerto em Portugal na casa-de-banho dos Armazéns do Conde Barão?) fizeram solos de guitarra e bateria, entornaram riffs a torto e a direito e, para disfarçar, rodaram timidamente os botões dos sintetizadores.
Não foi diferente do que seria de esperar? Provavelmente não. Mas bem feitas as contas talvez todos ficassem a ganhar se tivesse havido mais disciplina e menos desbunda. Menos transpiração e mais transgressão. É pois com alguma expectativa que esperamos por um próximo concerto dos Pink Floyd no Hot Clube de Portugal.