07.05.1997
Paul McCartney
Flaming Pie
MPL COMMUNICATIONS, DISTRI: EMI-VC
A estrada longa e ventosa, não se sabe onde irá dar. era uma vez um grupo que desapareceu numa das suas curvas. Um dos elementos desse grupo ficou por lá. Os outros três regressaram e fizeram frente ao mundo. Paul foi quem tirou maiores proveitos. Encetou o seu próprio caminho e foi andando. Com asas. Mas a encruzilhada teria de chegar um dia. E Paul mccartney acordou, abandonou os Wings e lembrou-se de quanto gravar discos, acima de tudo, um prazer. Discos como os mais antigos do tal grupo. Discos como os seus dois primeiros a solo, “McCartney” e “ram”, deliciosas peças de artesanato nas quais o ex-Beatle punha em relevo toda a sua fabulosa capacidade para inventar melodias perfeitas. Paul passou os últimos anos a escrever canções. Na sua quinta, tranquilamente. Sem pressões. A recente “Antologia” com material de arquivo dos Beatles despertou-o para esses tempos em que a simplicidade era o caminho para a magia. Então Paul entrou de novo em estúdio armado apenas com a confiança em si próprio e gravou mais um doce. a sua tarte flamejante.
Em “Flaming Pie” ouvimo-lo tocar quase todos os instrumentos, guitarras, piano, baixo, bateria, vibrafone, percussões. Com poucas ajudas. a sua mulher, Ringo Starr (não, paul Mccartney não é casado com Ringo), uma orquestra ocasional num ou noutro tema. E Jeff Lyne, que ficou daprodução da “Antologia”. É, na verdade, um retorno à simplicidade de processos. Mas a ingenuidade perdeu-se. Porque o passado não se repete.
Mesmo assim, saboreia-se com deleite esta tarte confeccionada com requintes de culinária. Serve-se cortada em quatorze canções. Uma delas, para juntar à galeria dos -clássicos de McCartney: “Somedays”. Por instantes, ficamos com a ilusão de que a estrada longa e ventosa não está deserta. (7)