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Roger Eno & Kate St.-John – “The Familiar”

Pop Rock

10 MARÇO 1993

Roger Eno & Kate St.-John
The Familiar

CD All Saints, distri. MVM


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Dos dois irmãos Eno, Roger é, sem dúvida, o sal de frutos da família. Enquanto Brian se vai entretendo a pintar quadros com sons, Roger prefere melodias que ajudam à digestão. Autor de uma estreia promissora, “Voices”, em que recuperou com credibilidade o minimalismo pianístico-maçon de Erik Satie, a sequência “Between Tides” mostra-o interessado pela música de câmara ligeira num álbum com o seu quê de enjoativo. Neste novo trabalho, Roger Eno debruça-se sobre a amizade e os bons sentimentos, o que só lhe fica bem, até porque a música, por seu lado, serve igualmente para levantar os ânimos que o “stress” deitou por terra. Não é “new age” porque de “new” não tem nada, mas como massagem é eficaz. Regressam ecos de Satie, envoltos por arranjos mais carnudos, acompanhados, desta feita, por incursões de salão no universo purcelliano de Michael Nyman. As peças declaradamente ambientais embalam sem fazer adormecer. Kate St.-John empresta a voz de mosquinha na sopa a quatro temas na linha de jardinagem musical de Virginia Astley e, no fim, os dois acendem pauzinhos de incenso e trocam beijinhos de felicitações. Gente fina é outra coisa. (6)



Roger Eno – The Flatlands

04.12.1998
Roger Eno
The Flatlands (7)
All Saints, distri. MVM

LINK (“Fragile Music”)

Pequena música de câmara. Peças interligadas em momentos de nostalgia emocional que pretendem juntar a inspiração do instante com a eternidade dos sentimentos. Admirador de Satie, cada vez mais mergulhado numa visão líquida da música, Roger Eno enaltece com intensidade os ambientes de tristeza abstracta que caracterizavam os autor das “Gimnopédias”, acrescentando-lhes uma nota de humanidade e os horizontes de uma paisagem mais humanizada. Se o álbum de estreia de Roger Eno, intitulado “Voices”, situava o piano no centro nevrálgico de um universo declarada e descaradamente satieano, toda a sua obra posterior se dirigiu no sentido de um classicismo que contraria o modo de aproximação ao silêncio do seu irmão mais velho, Brian Eno. “The Flatlands” flutua na música clássica à qual “foram extraídos os momentos mais velozes, deixando-se apenas aqueles instrumentos adoráveis de clama que as correntes da moda foram fazendo desaparecer”. Composto ao longo de um período de 18 meses, “The Flatlands” serve de modelo de um classicismo “light” que aflora a elegância minimalista de Daniel Schell ao mesmo tempo que recorda os tempos criativos de Michael Nyman e Wim Mertens, aproximando-se ainda, nos quadros mais carregados, como o do tema inicial, “Somewhere above”, da tragédia subaquática de Gavin Bryars, anotada em “The Sinking of Titanic”. Piano, uma secção de cordas, um oboé ou um vibrafone escondidos entre os arbustos de um jardim meticulosamente trabalhado, estabelecem atmosferas e melodias que afundam o coração em cuidados e alimentam as mais frágeis fantasias do espírito, como se cada nota, cada silêncio e cada cortesia desta música tecida no crepúsculo outro objectivo não tivessem senão fazer-nos deslizar no sonho.