Carlos Paredes – “Carlos Paredes Hospitalizado Em Santa Maria – Estado De Saúde ‘Inspira Cuidados’”

cultura >> terça-feira, 28.12.1993


Carlos Paredes Hospitalizado Em Santa Maria
Estado De Saúde ‘Inspira Cuidados’


CARLOS PAREDES encontra-se internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com paralisia dos membros inferiores, provocada por mielopatia, segundo informações prestadas à Lusa pelo agente do guitarrista, António Pinho. O PÚBLICO apurou entretanto, que o seu actual estado de saúde “inspira cuidados”.
Paredes, de 68 anos de idade, deu entrada há quinze dias naquela unidade hospitalar e encontra-se actualmente num estado de semiconsciência, afirmou umm familiar do artista. Carlos Paredes tivera alta na passada quinta-feira mas uma crise de diabetes voltou a agravar o seu estado de saúde obrigando a novo internamento, no dia seguinte, agora na Unidade de Neurocirurgia. Ainda por diagnosticar está a origem da doença – a mielopatia, uma afecção da espiral medula – embora o guitarrista tenha já sido submetido a exames quando do seu primeiro internamento.
Contactado pelo PÚBLICO, ontem, ao princípio da tarde, João Lobo Antunes, director da Unidade de Neurocirurgia de Santa Maria, referiu, contudo, que o novo internamento se deve apenas a uma “diabetes descompensada” do artista e que o seu actual estado de saúde “inspira cuidados”. “Não havia nada que justificasse um tratamento cirúrgico”, adiantou ainda Lobo Antunes, que justificou a entrada de Carlos Paredes na sua unidade apenas por “uma questão de respeito e gratidãopara com o grande artista”. O intérprete de “Verdes Anos” deverá agora seguir para um serviço de medicina onde a sua diabetes será “compensada”.
Carlos Paredes, considerado um dosmaiores intérpretes de guitarra portuguesa de sempre, autor de álbuns como “Guitarra Portuguesa”, “Movimento Perpétuo”, “Invenções Livres” (com António Victorino d’Almeida), “Asas sobre o Mundo” e “Espelho de Sons”, foi homenageado em Março do ano passado num espectáculo no Coliseu dos Recreios de Lisboa, onde participaram além de Luísa Amaro, sua companheira nos últimos anos, Fernando Alvim, Rui Veloso, Mário Laginha, Natália Casanova, Paulo Curado e os bailarinos Ofélia Cardoso e Francisco Pedro.

Resistência – “Peça De Resistência” (concerto na TV)

televisão e rádio >> domingo, 26.12.1993
DESTAQUE


Peça De Resistência

OS RESISTÊNCIA são talvez o grupo mais amado e mais odiado da música popular portuguesa da actualidade. Amados por hordas de um público maioritariamente adolescente e suburbano, que encontram nas versões de Pedro Ayres, Miguel Ângelo, Tim, Fernando Cunha, Fernando Júdice, Alexandre Frazão, José Salgueiro, Fred Mergner e Olavo – a formação actual dos Resistência – um lenitivo para as maleitas causadas por uma vida mal-iluminada e com futuros quase sempre pouco risonhos para oferecer. Odiados sobretudo por alguma concorrência, que não lhes perdoa terem “descoberto” a fórmula milagrosa que faz vender os discos.
Essa receita, se é que existe uma, dava antigamente pelo nome de “mensagem”. Consistia em ter algo para dizer, acreditar nesse algo, e cantar e tocar em conformidade. Foi assim que procederam os Resistência, ao fazerem suas e entregarem de bandeja a toda uma geração filha do vazio mas ávida de infinito as canções portuguesas, antigas e modernas, que julgam relevantes, reunidas e servidas num novo contexto.
Claro que há sempre quem levante o dedo acusador e ponha a banda sob suspeita, bradando aos céus: “Hipocrisia!”. São os que não perdoam ao ex-herói ter feito a ponte até José Afonso com passagem pela festa do “Avante!”. Os que não compreendem a inteligência e as coisas da psicologia. No fundo, uma certa arte de navegar.
Se em relação à atitude – ou ao que se julga perceber dela – a podemos aceitar ou não, já a música, despojada da sua carga simbólica e significante, é passível de crítica. São notórios, sobretudo nas actuações ao vivo, um peso e uma falta de mobilidade paquidérmicas. Será das guitarras a mais que pedem licença para não se atropelarem ou das vozes por vezes mal oleadas, será da falta de ginásticato é que nem sempre os sons estão à altura das intenções.
Aconteceu um pouco isto no espectáculo que os Resistência deram em Dezembro do ano passado no Armazém 22, em Lisboa. Num cenário de morgue industrial, feito de néon e metal, houve a celebração de um ritual onde o ruído e a ausência de condições se conjugaram para tornar irreconhecíveis as palavras e deformados até à monstruosidade os sons. O que, mesmo assim, não foi suficiente para esfriar os ânimos de uma assistência de milhares de jovens enleados numa rede de tensão, sôfregos de canto e de participação, ávidos de verem projectados o filme dos seus sonhos. Os Resistência, um grupo de intervenção?
TV 2, às 13h55

Santana – “Sacred Fire” (vídeo | VHS)

pop rock >> quarta-feira, 22.12.1993
VÍDEOS


SANTANA
Sacred Fire
Polydor, distri. Polygram, 97”, venda directa



O disco é fraco. O vídeo é chato. A vida tem destas coisas. As coisas são como são e os Santana já deveriam há muito ter dado por encerradas as suas actividades. Infelizmente ainda por cá andam, com Carlos Santana a arder no fogo sagrado. O vídeo limita-se a mostrar, com toda a preguiça, que pode haver nestes “long forms” de espectáculos ao vivo as inexistentes peripécias do concerto recente realizado pela banda na Cidade do México. Às vezes, quando a música é má, as imagens compensam e podem justificar a aquisição da cassete. Não é o caso. Aliás, a regra deveria ser, para cada suporte na área do audiovisual, a existência, nas respectivas linguagens específicas, de um mínimo de originalidade e criatividade. Aqui não há nada que atraia o olhar para o ecrã ou o ouvido para as colunas. É a sensaboria do princípio ao fim: plano geral de banda, grandes-+lanos dos váriso executantes, “close ups” sobre alguns pormenores aleatórios do que se passou no palco, planos do público, de novo plano geral da banda, música a metro, os sentidos sem alimento que lhes mate a fome, a paciência a esgotar-se. Talvez com “sensorround”, talvez com ecrã gigante em cristais líquidos, talvez com uns Santana interactivos, “Sacred Fire” se deixasse ver com algum agrado. Assim como está tem tanto interesse como um taparuere e a vivacidade de uma múmia. (1)