Arquivo da Categoria: Pop

Vários Artistas – “No Prima Donna – The Songs of Van Morrison”

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


Vários Artistas
No Prima Donna – The Songs of Van Morrison
Polydor, distri. Polygram



Toda a gente importante já teve a sua homenagem. Possivelmente estará próxima uma segunda vaga, com os mesmos homenageados. Leonard Cohen tem já previsto o volume dois de adulação. “Então e para mim, nada?”, terá pensado Van Morrison, um dos poucos monstros sagrados que ninguém se lembrara até à data de homenagear. E, de facto, ninguém se lembrou. Foi preciso o próprio tomar a iniciativa e organizar a sua merecida festa.
A ideia surgiu a Van Morrison em consequência de uma banda sonora em que estava a trabalhar, para o filme “Moondance”, título de um dos álbuns deste compositor-intérprete irlandês. Falou com Phil Coulter, seu colaborador e amigo desde o tempo dos Them, e tratou de contactar alguns artistas. Não havia muitos à mão. Certo, Marianne Faithfull, Elvis Costello e Lisa Stansfield responderam de pronto. Eles tornaram-se, por assim dizer, profissionais das homenagens, e cumpriram com competência as tarefas de que foram incumbidos, interpretando, respectivamente, versões de “Madame George”, “Full force Gale” e “Friday’s child”. Marianne com a sabedoria sofrida que imprime a tudo o que canta. Elvis com um dos poucos arranjos inovadores presentes nesta homenagem. Lisa passa como uma ave no vento e mal se dá por ela.
Na falta de outros nomes sonantes, Van Morrison chamou a filha Shana, Brian Kennedy e Liam Neeson, actor principal em “A Lista de Schindler” de Spielberg, que aqui assina com mérito uma bela versão de “Coney Island”, enriquecida pelas “uillean pipes” de Declan Masterson, um ex-Patrick Street, Cassandra Wilson, dama dos blues, empresta uma emoção contida a “Crazy Love”, enquanto os Hot House Flowers reduzem “Bright side of the …” a um “gospel” de tonalidades sombrias e Sinéad O’Connor dramatiza em excesso “You make me feel so real”. Phil Coulter tapa os buracos, participando em quase todos os temas, e mancha um álbum já de si pouco estimulante com uma orquestração de puro “muzak” em “Tupelo honey”.
Quem tiver disposição para mergulhar mais fundo à procura de pérolas poderá encontrar, perdido no meio da vulgaridade, Arty McGlynn, mestre da guitarra da folk irlandesa. É pouco, numa homenagem um pouco feita à pressa a um músico (e por um músico, ele próprio…) que teima em passar despercebido no meio das outras estrelas. (5)

Jorge Rocha e as Lipstick – “De Vila De Marmeleira A Cavalões”

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


De Vila De Marmeleira A Cavalões


“’Sexy’s’ – quentes – electrizantes – espectaculares!”, é assim que Jorge Rocha e as suas Lipsticks anunciam o novo visual. “Sensualidade, carisma, êxtase, loucura, música e ‘performance’”, continuam a ser as palavras de ordem, agora aumentadas com a “criatividade” e “choque”. Nucha (a loira) e Cristina (a morena) são os braços direitos, as pernas e outros apêndices fisiológicos de Jorge Rocha, o “Prince português”. Por onde passam, ele e elas provocam o “delírio”. “Totalmente identificados com os padrões europeus e americanos”, Jorge Rocha e as duas meninas continuam “marcando pontos na procura da diferença, do modernismo e do amanhã com a coragem, capacidade e talento que caracterizam a irreverência do grupo”.
Na foto, de baixo, pode ver-se a banda a marcar pontos. Com a moto e os novos visuais, “inspirados me modelos ‘made in USA’, com materiais em vinil (PVC) e couro”, cuja “concepção e imaginação” pertencem a Jorge Rocha em colaboração, na “produção dos visuais”, com o estilista Sérgio Antunes, do Porto. A propósito, está certo que a moto se pode considerar um símbolo fálico mas também não é preciso exagerar.
Jorge Rocha e as Lipstick encontram-se em plena “World Tour/94” de cujo calendário fazem parte concertos em A-Ver-o-Mar (6 de Agosto), Baleizão (7), Vila de Marmeleira (13), Barco (14), Cavalões (20), Vila Mar (22), Gala Top Model Internacional, Casino da Figueira da Foz (27), Sardoal (29), Festa das Vindimas, Palmela (1 de Setembro), Discoteca Efundula, Pêro Pinheiro (2 e 3) e Santarém (10).
Um único objectivo, como eles próprios apregoam: “Devorar Portugal!”

Conjunto António Mafra – “‘O Melhor Dos Melhores, vol. 48’ + ”Não Pára””

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


CONJUNTO ANTÓNIO MAFRA

O Melhor Dos Melhores, vol. 48 (5)
Movieplay
“Não Pára” (4)
Pôr do Som, distri. BMG



“Eram para aí sete e picos, oito e coisa, nove e tal…” Quem nunca trauteou tais horas incertas, sabendo ou não quem são os sues autores? O Conjunto António Mafra é uma espécie de lenda. Reis do “kitsch” popular e de um humor, ao contrário do de Quim Barreiros, com pouco ou nenhum picante, o seu reinado dura há 35 anos, sobrevivendo à morte do seu fundador e mentor, António Mafra. O Conjunto António Mafra nasceu no Porto, junto aos Clérigos num pequeno local chamado “Cantinho da Rambóia”, na noite de S. João.
Seis Mafras, uma família que se entregou às noitadas e aos sons populares polvilhados de graça, das chulas, marchas e viras que contavam o “Baile da Dona Ester” e iam beber o “Vinho da Clarinha”. Os dois discos agora editados marcam o regresso dos Mafras, para “abanar o capacete” em plena “era digital dos compact-disc e do software”, como eles dizem.
A estratégia é semelhante ao do também recém-regressado Vítor Gomes: capitalizar no passado e procurar acertar o passo com a onda de revivalismo do “popularucho” que grassa actualmente em Portugal. Os Sitiados, por exemplo, incluem no seu reportório “O carteiro”. “O Melhor dos Melhores” é uma compilação de interpretações originais de êxitos como “Sete e pico”, “Ó Zé olha o balão” ou “Arrebita, arrebita, arrebita”. Ingénuas e com aquele toque de humor atravessado de nostalgia que caracterizava Max, com quem a música dos Mafras tinha e tem parecenças.
“Não Pára” é também uma colectânea (seis temas repetem-se nos dois discos) mas com a particularidade de ser gravada já este ano pela actual formação do grupo. As diferenças não são muitas, mas nota-se uma atitude de maior profissionalismo, presente nomeadamente no cuidado com que são tratadas as harmonias vocais que eram um dos pontos fortes do grupo, a par das vozes de “falsetto” e imitação que entravam de surpresa, a servir de contraponto humorístico, um pouco à maneira dos jograis, técnica que, por exemplo, Sérgio Godinho, noutro contexto, utiliza em algumas das suas canções.
As percussões aparecem por seu lado mais marcadas, o que acentua o carácter folclórico dos temas mas tem o inconveniente de os tornar mais pesados e lhes retira alguma da frescura original. Mas é impossível não sentir alguma simpatia por esta música que procura sacudir a poeira das recordações e surge como um quadro vivo de um tempo que a memória enterrou.