Jorge Palma – Concerto – “Partir Sempre”

Pop Rock

2 de Novembro de 1994

PARTIR SEMPRE

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Escrever sobre Jorge Palma é escrever sobre a vagabundagem musical, consequência directa de outro tipo de deambulações – pela vida, com todas as suas alegrias e vicissitudes. Jorge Palma – tornou-se quase um lugar-comum repeti-lo – é um viajante. A sua música, nos 20 anos que já leva de carreira, é um reflexo, um pôr em ordem e em perspectiva essa errância que lhe é natural e da qual não abdica.
Ao longo dos anos houve tentativas para lhe colarem etiquetas e, na impossibilidade de encontrarem uma, para o empurrarem para o canto dos “diferentes”. Convencionou-se então, e a designação até lhe assenta bem, chamar-lhe “escritor de canções”, para utilizar a frase de Sérgio Godinho. Jorge Palma é de facto um escrito de canções, mas é na forma de as contar que reside a diferença.
No início, as viagens podiam ser entendidas num duplo sentido: alucinogéneas e geográficas. As duas completavam-se. “Com uma Viagem na Palma da Mão” instalou o discurso de uma “trip” que teve início na Europa e terminou em Lisboa, cidade-mãe, e na utopia de um “Bairro do Amor”. “Terminou” é aliás uma maneira de dizer, já que Jorge Palma prosseguiu por outras avenidas e alguns atalhos, alguns mais seguros do que outros.
As exigências técnicas e formais levaram este compositor-intérprete a apurar o seu desempenho no piano. Jorge Palma “parou” enquanto tinha de parar para a conclusão do curso superior de piano no conservatório. “Só”, um álbum de versões da sua discografia, foi a expressão e o resultado directo dessa aprendizagem, uma obra em que as canções ficaram expostas à luz da sua verdade mais simples, suportadas unicamente pela voz, um piano e a paixão da redescoberta.
Quando tudo fazia prever um Jorge Palma por fim “domesticado”, “sério” e alinhado, deu novo golpe de rins e um salto para o arame, num novo disco, editado no ano passado, com uma banda de rock puro e duro, os Palma’s Gang. Música visceral, de emoções directas, de recriação do velho “rock’n’roll”. As canções de Jorge Palma provavam deste modo ter vida própria, independente das roupagens musicais que lhes quiserem vestir.
Os próximos espectáculos em Lisboa, uma produção da Regiespectáculo com promoção da Remédio Santo, podem ser encarados como novo ponto de ordem. Ou de chegada, que para Jorge Palma é sempre também ponto de partida. Com ele vão estar em palco Manuel Paulo, nas teclas, Fernando Júdice, baixo, Mário Delgado, guitarra, Alexandre Frazão, bateria, Edgar Caramelo, Paulo Curado, Tomás Pimentel e Jorge Reis, sopros. Músicos excelentes para música excelente, em eterna mutação.

4 E 5 DE NOV., TEATRO S. LUIZ,
LISBOA, 22H



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