Arquivo mensal: Junho 2017

Steve Hackett – “Genesis Revisited” + Yes – “Open Your Eyes”

Sons

16 de Janeiro 1998
DISCOS – POP ROCK


Steve Hackett
Genesis Revisited (7)
Reef, import. Planeta Rock

Yes
Open your Eyes (7)
Eagle, import. Planeta Rock


sh

yes

Steve Hackett, guitarrista da época de ouro dos Genesis, resolveu passar revista a algumas das canções da sua antiga banda, convocando para tal um grupo de amigos conotados com o progressivo, como John Wetton, Ian McDonald e Paul Carrack, além de Colin Blunstone, que nos anos 60 fizera parte dos Zombies. “Watcher of the skies”, “Firth of fifth”, “I know what I like”, “Fountain of Salmacis” e “For absent friends” são algumas das canções dos Genesis que a guitarra e as orquestrações de Hackett transformaram, com sucesso, em matéria de recriação. Quanto aos Yes, depois de dois duplos álbuns com material ao vivo e novos originais de estúdio, regressaram ao que sempre foram, assumindo o seu lado sinfónico, agora mais do que nunca como suporte das vocalizações, cada vez mais espirituais e ecológicas, de Jon Anderson. Com os velhos companheiros Steve Howe, Chris Squire e Alan White, e o novo teclista Billy Sherwood. O tema de abertura, “New state of mind”, sintetiza a alegria recuperada pelo grupo, cuja música pareceu ter ganho uma nova frescura e um apelo mais pop do que nunca (não faltam em “Open your Eyes” canções para assobiar…), numa altura em que deixou de ser vergonha ter colaborado nos excessos visionários dos anos 70.



Isotope 217 – “The Unstable Molecule”

Sons

30 de Janeiro 1998
DISCOS – POP ROCK


Isotope 217
The Unstable Molecule (8)
Thrill Jockey, import. Ananana


iso

Pós-rock ou pós-jazz? A música dos Isotope dispara com pontaria certeira contra diversos alvos. O fraseado “cool” do trompete e do trombone enviam “The Unstable Molecule” para as memórias de Miles Davis de “The Silent Way” enquanto a preferência por”riffs” concentrados na musculatura do baixo e da bateria remetem para os postulados da actual cena vanguardista de Chicago, ou não fossem três dos elementos do grupo, John Herndon, Jeff Parker e Dan Bitney, antigos membros dos Tortoise. Por outro lado, escutando temas como “La jetée” ou “Prince Namor” é difícil não pensar na escola de jazz-rock inglesa dos anos 70, personificada por grupos como os Soft Machine, Nucleus (propostos no mais recente “blindfold test” da “Wire” aos Tortoise), Soft Heap e … Isotope, em cuja formação pontificava o ex-Soft, Hugh Hopper. Estamos nos antípodas do jazz, na mesma híbrido mas maculado por outro tipo de tintas, da “downtown” nova-iorquina, de gente como John Zorn ou os Lounge Lizards, embora um certo apelo pop cultivado por Wayne Horvitz (de “This New Generation”) entronque em alguns dos quadros sonoros aqui propostos. “The Unstable Molecule” prefere a poesia, a distensão do tempo e a difusão do mistério às quadraturas geométricas do pós-rock. A sua organicidade é a do “jazz” que reconheceu a impossibilidade da pureza e decidiu dispor de todo o tempo do mundo para inventar um novo território onde a improvisação cedeu o lugar à ambientalização. “Jazz ambiental” é, pois, uma designação apropriada para esta música aquática que desfaz muitos dos lugares-comuns conotados com o pós-rock.



A Certain Frank – “Nobody? No!”

Sons

2 de Outubro 1998


A Certain Frank
Nobody? No! (7)
Ata Tak, distri. Ananana


acf

As peças vão encaixando no “puzzle” gigante do krautrock. Cumprido o ritual de passagem dos anos 80, Kurt Dahlke, aliás Pyrolator, recuperado pela cena pós-rock como um dos gurus do movimento, regressa ao teatro de operações ao lado de Frank Fenstermacher, com um projecto que retoma algumas das vias encetadas pelo derradeiro e dispensável álbum sob o genérico Pyrolator, “Traumland”, de 1987. “Nobody? No!” é uma receita com travo futurista que, acima de tudo, dá a conhecer Dahlke como um dos grandes mestres actuais do sampler. O problema está na ânsia de querer mostrar trabalho feito, que faz com que “Nobody? No!” funcione bem nas primeiras quatro faixas, numa mistura de tudo o que de comum e bizarro possa existir entre os Can, Holger Hiller, Yello, o filme negro de Barry Adamson e os próprios Pyrolator, mas comece a partir daí a descambar num certo cansaço. Os estímulos dos primeiros temas deixam de funcionar, assistindo-se a uma inflexão em fórmulas correntes de produção que, se por um lado, despertam a curiosidade, através do recurso a uma série de artimanhas de estúdio, acabam, em última análise, por ceder aos lugares comuns dos modelos utilizados. Tudo descamba em algo a meio caminho entre o “trip hop”, o chill-out, um “easy listening” de casino futurista e deambulações de pós-acid-jazz. Saxofones, trompetes, vibrafones e vozes de disquete de demonstração rolam cativos em “grooves” empastelados em electrónica deliberadamente suja. “I will never leave you” consegue provocar alguns sorrisos, na simulação do impossível encontro entre os Bee Gees e Paul Schutze.