Arquivo de etiquetas: Dieter Moebius

Kluster – “Klopfzeichen” + Kluster – “Zwei – Osterei” + Moebius, Neumaier, Engler – “Other Places”

Pop Rock

26 Março 1997

Metal Machine Music

KLUSTER
Klopfzeichen (7)
Zwei – Osterei (7)
Moebius, Neumaier, Engler
Other Places (8)
Hypnotic, distri. Symbiose


kluster

Quatro anos antes de Lou Reed fundir a sua “Metal Machine Music”, o trio alemão constituído por Dieter Moebius, Hans-Joachim Roedelius e Conrad Schnitzler, então com a designação Kluster, apresentava a sua siderurgia sonora, antecipando em uma década a música industrial e longe de imaginar o papel que desempenharia na actual gestação do movimento das bandas do pós-rock. Schnitzler abandonaria o grupo para uma passagem breve pelos Eruption (que participariam no terceiro e último álbum dos Kluster) e, posteriormente, os Tangerine Dream, antes de enveredar por uma longa e produtiva carreira a solo, dedicada à experimentação electrónica. Moebius e Roedelius trocariam, entretanto, o “K” do grupo pelo “C”, ficando tudo a postos para os Cluster operarem a sua obscura revolução de ruído no seio da “Kosmische muzik”.
“Klopfzeichen” e “Zwei Osterei” são as duas primeiras e míticas gravações do, então, trio, referidas por muitas mas ouvidas por poucos. Com o desaparecimento das fitas originais, a editora optou por um registo obtido directamente a partir dos exemplares disponíveis que foi possível encontrar. Questão de somenos, quando a música destes dois álbuns, ambos com data de edição de 1971, se resume a uma monstruosa cacofonia sequenciada.
A gravação surgiu na sequência de um anúncio publicado nu jornal a pedir um organista de igreja interessado em música nova. Schnitzler respondeu e os discos acabaram por resultar de negociações com o meio eclesiástico, daí que mais ou menos ou dez minutos iniciais de cada um sejam uma mistura de sons industriais com a declamação, em alemão, de textos religiosos (!). Em nenhum deles há divisão de faixas, mas apenas os respectivos títulos-temas, longas improvisações nas quais os três músicos se atiram com denodo à nobre tarefa de sacar aos sintetizadores, guitarras e até a uma flauta, os ruídos mais desagradáveis ao ouvido, tudo filtrado por insistentes efeitos de “delay” e amplificação no máximo. Como “Metal Machine Music”, trata-se de dois álbuns cuja importância histórica tem mais a ver com a imposição pioneira de uma estética do que com a qualidade da música propriamente dita.
Muita água passou, entretanto, por baixo das pontes. Os Cluster tornaram-se um grupo relativamente respeitável e tanto Moebius como Roedelius ganharam o estatuto de figuras-chave da música electrónica europeia. “Other Places” – colaboração de Moebius com Mani Neumeier, antigo baterista da banda de free-rock Guru Guru (já tinham trabalhado os dois juntos em “Zero Set”), e Jurgen Engler, da banda electro-industrial dos anos 80, Die Krupps – joga ainda na improvisação. Mas enquanto os Kluster procediam à manipulação de uma massa sonora que evoluía de forma orgânica, ao sabor do instinto dos executantes, “Other Places” revela uma dinâmica de movimentos que está dependente das programações, justapondo camadas de timbres e ritmos electrónicos que poderiam perfeitamente passar por exercícios de escrita. Ao contrário, porém, do ordenamento sistemático de uns Kraftwerk, sobreleva ainda, neste música, um gosto pelo tribalismo e pelo lado mais visceral da vibração electrónica. Como se aos músicos coubesse, mais do que de instigadores, o papel de domadores de máquinas da selva.



Moebius & Plank – “En Route”

Pop Rock

30 de Março de 1996
reedições poprock

Moebius & Plank
En Route
NO-CD, DISTRI. SYMBIOSE


mp

Há quem se derreta com o melaço “new age” satieano de Roedelius, mas o músculo dos Cluster sempre pertenceu à outra metade do duo, Dieter Moebius, um motor em rotação constante. Na sua quarta colaboração com um dos padrinhos da electrónica alemã, Conny Plank (depois de “Rastakraut Pasta”, “Material” e “Zero Set”, com Mani neumeier, baterista dos Guru Guru), Moebius retoma aqui a sua estética habitual de repetitivismos robóticos, numa linha mais industrial que os Kraftwerk, entre o tribalismo africano e as auto-estradas teutónicas. O compacto acrescenta três remisturas à versão original de 1986. (8)