Há quem se derreta com o melaço “new age” satieano de Roedelius, mas o músculo dos Cluster sempre pertenceu à outra metade do duo, Dieter Moebius, um motor em rotação constante. Na sua quarta colaboração com um dos padrinhos da electrónica alemã, Conny Plank (depois de “Rastakraut Pasta”, “Material” e “Zero Set”, com Mani neumeier, baterista dos Guru Guru), Moebius retoma aqui a sua estética habitual de repetitivismos robóticos, numa linha mais industrial que os Kraftwerk, entre o tribalismo africano e as auto-estradas teutónicas. O compacto acrescenta três remisturas à versão original de 1986. (8)
Dieter Moebius, metade dos míticos Cluster (com Roedelius) e Conny Plank, engenheiro de som da editora Brain, mais tarde Sky, cuja importância é inolvidável no desenvolvimento mais electrónico do “krautrock”, criaram, respectivamente em 1980 e 1981 estes dois álbuns, aqui acoplados na íntegra, nos quais se retomava o romantismo das máquinas, como fora enunciado e praticado pelos Cluster, desde “Zuckerzeit”, e os “Kraftwerk”, até “Autobahn”. “Rastakraut Pasta”, como o próprio nome indica, retoma em bases fabris e analíticos compassos que se poderão, virtualmente, associar ao “reggae”, como fizeram os Can, em “Flow Motion” (registe-se que Holger Czukay participa aqui em dois temas). Música sem princípio nem fim, retrato da monotonia e de uma tendência estética global de fuga ligados à sociedade germânica do pós-guerra, “Rastakraut Pasta” ilude quem pretender ver nestes sons electronicamente preguiçosos, marcas redundantes de um psicadelismo tardio. Era antes uma aproximação racional à irracionalidade da música étnica, segundo uma atitude que desembocaria no “tecno tribal” de “Zero Set”, juntamente com o baterista dos Guru Guru, Mani Neumeier e uma cantora africana. “Material”, num contraste quase violento, retoma o andamento de motor dos Harmonia e dos Neu!, como viria a ser accionado pelos Stereolab e, mais tarde, pela multidão de discípulos do pós-rock. Minimalista, sem ser redutora, fria, sem gelar nem a inteligência nem a emoção, a música de “Material” prefigura a versão mais suave do “super-homem”, na sua sucessão de temas vazios mas possuídos por uma desmesurada vontade de poder.